Sabiaguaba: entidades discutem propostas para combater incêndios no parque

Entidades ambientais e representantes de comunidades da Sabiaguaba discutem sobre ações de combate e prevenção de riscos à saúde e ao meio ambiente

20:44 | Dez. 07, 2022

Por: Bruna Lira
PARQUE DA SABIAGUABA teve três registros de incêndio em dois meses (foto: FCO FONTENELE)

Após o registro de ocorrências de incêndios no Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba, o Ecomuseu Natural do Mangue, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), articulou um encontro para debater com os moradores da região sobre os riscos da queima de lixo e limpeza de terrenos por meio do fogo. A reunião entre as entidades e a população ocorreu na tarde dessa terça-feira, 6, na Palhoça da Boca da Barra, em Sabiaguaba.

Nos últimos dois meses, o Ecomuseu Natural do Mangue registrou três incêndios no manguezal da Sabiaguaba, em Fortaleza. Os casos foram documentados nos dias 17 de outubro e 1º e 19 de novembro. A entidade aponta que, devido a frequência dos casos, há suspeita de ter origem criminosa e não natural, o que põe em risco o ecossistema da região. Os incêndios, conforme o Ecomuseu, causaram danos a uma área de 2.515 m².

A bióloga do Ecomuseu, Sandra Beltran, conta que as queimadas culminaram em grande perda para os mangues do Parque. A principal espécie atingida foi o Mangue-de-Botão (Conocarpus erectus), cuja propagação por semente é muito difícil e demorada, especialmente pelas condições em que o solo se encontra após as queimadas.

Conforme o diretor e gestor do Parque Estadual do Cocó, Paulo Lira, apesar de ainda não se ter conhecimento sobre as reais causas dos últimos incêndios ocorridos na área da Sabiaguaba, há suspeita de que a motivação seja a queima de lixo. “Uma das coisas que temos constatado, notadamente no segundo semestre do ano, no Parque do Cocó, é que 90% dos incêndios são resultados da queima indevida de lixo”, afirma o diretor.

Impactos à população e alternativas para prevenção contra incêndio

Além dos prejuízos ambientais causados pelas queimadas, a população também sofre com as consequências. “Se tiverem turistas, banhistas ou moradores que passem perto da região onde as chamas estão, essas pessoas podem ficar feridas. Além disso, as partes da vegetação que estão mais secas podem aumentar as chamas, fazendo com que elas acabem avançando para perto das casas”, explica Sandra. Ela conta que a reunião, portanto, surgiu da necessidade de discutir estratégias para combater novos incêndios na região.

Para isso, Mônica Carvalho, coordenadora do Previna, pontua que a Sema vem reforçando ações de monitoramento e de sensibilização da comunidade na Sabiaguaba. “Foi discutido com os representantes de comunidades da Sabiaguaba esclarecimentos sobre a formação de brigadas voluntárias, ações de combate e prevenção de riscos à saúde e ao meio ambiente. A Sema reforçou os trabalhos de monitoramento e de sensibilização da comunidade por meio de palestras e visitas institucionais na Sabiaguaba”, diz a coordenadora.

Entre as alternativas sugeridas no encontro, estão a instalação de placas para sinalizar que o Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba trata-se de uma Área de Proteção Ambiental (APA); e o reflorestamento da área danificada, mas para isso é necessário esperar que a quadra chuvosa do início de 2023 ajude a recuperar o solo, ainda muito seco devido às queimadas, para que então seja feito o “transplante” do Mangue-de-Botão.

“A nossa proposta, como Ecomuseu, é poder trabalhar em colaboração com toda a comunidade, com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado e com a Prefeitura para criarmos um documento de intenções, com aquilo o que pode e o que não pode ser feito, mas é necessário que as pessoas assumam a responsabilidade sobre isso, assim como a Sema, enquanto órgão gestor e de fiscalização”, afirma Sandra Beltran.

Paulo Lira conta que a ideia é que as entidades criem uma aproximação com a comunidade da Sabiaguaba com o intuito de disseminar informações sobre os riscos da queima inadequada de lixo em áreas de preservação ambiental. “Vamos continuar fazendo trabalhos de educação ambiental, bem como sensibilização da comunidade para não queimar lixo e para sempre ligar para os bombeiros em caso de queimadas”, menciona.

Em nota, a Sema informa que já foi feita licitação para aquisição das placas e está aguardando a finalização do processo licitatório. Vale destacar que as placas, logo que recebidas, serão afixadas na área do Parque Estadual do Cocó e que a APA da Sabiaguaba e o Parque Municipal da Sabiaguaba são Unidades de Conservação (UCs) municipais.

A pasta reforça ainda que, quanto à área da Sabiaguaba, que está dentro da área do Parque Estadual do Cocó, será devidamente sinalizada, logo a Sema receba as placas.

Projeto visa criação de brigadas florestais voluntárias

Além disso, outras propostas discutidas na ocasião foram a formação de uma brigada de incêndio voluntária, em que os moradores da comunidade seriam capacitados por equipes do Controle de Queimadas e Combate aos Incêndios Florestais (Previna) para atender a demandas urgentes de queimadas na região; e a conscientização da população do entorno do Parque sobre a necessidade de proteger a área e evitar poluí-la.

No entanto, Mônica Carvalho, coordenadora do Previna, detalha que a criação de uma brigada florestal requer uma capacitação complexa e aquisição de equipamentos específicos de combate ao fogo para segurança dos brigadistas e da população.

“Desta forma, o Previna está se reestruturando, em parceria com o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Prevfogo/Ibama), para formação de brigadas voluntárias, em especial nas unidades da Região Metropolitana de Fortaleza. Importante ressaltar que a Sema já fez treinamento para formação de brigadistas florestais nas comunidades no entorno das unidades de conservação, incluindo o Parque do Cocó”, ressalta.

Apesar da criação de brigadas florestais voluntárias, elas devem servir apenas como um apoio primário no combate às chamas. O diretor Paulo Lira indica que é necessário "criar esse voluntariado de combate, por meio de capacitação, para controlar as chamas de caráter emergencial, enquanto o Corpo de Bombeiros não chega à área".

Segundo Mônica, ainda pensando na prevenção de incêndios, é fundamental que a população não atire sobre a vegetação resíduos inflamáveis. “As pessoas nunca devem atirar cigarros ou fósforos acesos na vegetação, não soltar balões ou fogos de artifícios nem acender fogueiras. Também é orientado a não queimar o lixo, devendo dispor os resíduos em locais apropriados para coleta. No caso de incêndios, a população deve ligar para o Corpo de Bombeiros, instituição qualificada e treinada para combate a queimadas e incêndios”, conclui a coordenadora.

 

Atualizada às 14h14