Irmãs lançam livro sobre educação inclusiva na Bienal do Livro do Ceará

Por conta da deficiência visual de uma das irmãs, elas precisaram juntas, de forma autodidata, contornar metodologias de ensino que não garantiam acessibilidade na escolarização

21:40 | Nov. 17, 2022

Por: Bruna Lira
Adailma e Adjanilma, irmãs mauritinenses autoras de livro sobre acessibilidade nas escolas (foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

A história de apoio familiar incondicional das irmãs Adailma e Adjanilma Felipe se transformou na obra “A vida é da cor que pintamos - Seja Luz”, que será lançada no próximo sábado, 19, na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará, pela editora Mentoria das Letras. O livro busca ensinar e conscientizar sobre a importância da educação inclusiva nas escolas, enquanto remete às vivências das irmãs que conseguiram superar os desafios do processo de alfabetização para uma pessoa com deficiência visual de forma autodidata.

Moradoras de Mauriti, a 492,8 km de Fortaleza, Adailma e Adjanilma, de 40 e 32 anos, respectivamente, viveram uma infância humilde. À época, ter deficiência na pequena cidade do Interior era motivo de exclusão e pessoas cegas eram tidas como “incapazes”. No entanto, Adjanilma — que é deficiente visual — não se deixou abalar pelos comentários e, apesar dos poucos recursos para a sua escolarização, ela contou com o apoio e a criatividade de sua irmã Adailma.

Como o acesso aos livros em braille ainda não era uma possibilidade, as irmãs foram aprendendo juntas a ler e escrever com tampinhas e cartolinas para tatear o alfabeto. Ao O POVO, Adailma conta que a sede por conhecimento por parte da irmã sempre foi tão grande, que “fez com que toda a família se voltasse a dar condições para a aprendizagem dela”, mesmo com os percalços sociais vividos dentro e fora da sala de aula por Adjanilma.

“Hoje, sou formada, pós-graduada e servidora pública, atuo como professora de inclusão no meu município. Tirei das minhas dificuldades, a minha profissão. Esse livro é mais uma contribuição que eu quero deixar para famílias acreditarem e serem luz nas vidas de pessoas com deficiência. A primeira oportunidade que temos é dentro de nossas casas”, afirma Adjanilma.

O projeto

A ideia de passar a história delas para o papel surgiu há cerca de três anos, em um dia comum, quando elas estavam reunidas em casa. Enquanto relembravam a infância, elas perceberam que o assunto rendia um livro, mas deixaram o sonho na gaveta. Quando a pandemia da Covid-19 teve início, ambas ficaram isoladas no sítio da família, também em Mauriti, e resgataram o desejo de escrever a obra.

“Queremos que esse livro venha a contribuir para professores e para toda a sociedade, para que possamos pensar na inclusão e na capacitação de escolas para receber pessoas com algum tipo de deficiência. Pois cada um de nós temos capacidade de aprender, mesmo que de formas diferentes, mas sempre podemos”, destaca Adailma.

Quem também fez parte da construção do livro “A vida é da cor que pintamos - Seja Luz” foi a jornalista responsável pela infografia do jornal O POVO, Luciana Pimenta. Amiga de infância das autoras, ela incentivou as irmãs a publicarem o material e ajudou na diagramação da obra.

“Elas achavam que o sonho de publicar o livro era uma besteira e eu disse que não, que é importante para a área da educação e acaba sendo também motivacional para as pessoas não desistirem por ter uma deficiência. Quando elas concluíram a escrita, nós desenvolvemos todo o projeto do livro, fiz tudo bem colorido. Por ser um livro mais educativo, ele reúne dicas e histórias. Acredito que seja uma obra que ensina professores a ensinar”, disse a jornalista.

O livro em tinta tem lançamento marcado para o dia 19 de novembro, às 14 horas, na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará, no Centro de Eventos. Porém, Adjanilma tem o desejo de publicar uma nova edição da obra na versão braille.

“Quero torná-lo acessível para todos, espero até o próximo ano conseguir lançar no formato braille e digital. É importante que cada vez mais autores levantem a bandeira da acessibilidade e saber que contribuí de alguma forma para isso é gratificante”, conclui a co-autora.