"Barbie dos animais": médico poderá responder por homicídio culposo
Conforme as investigações da Polícia Civil, há indicativos de erro médico ocorridos durante o procedimento cirúrgico que culminou na morte da médica veterinária
11:05 | Nov. 17, 2022
As investigações a cerca da morte da médica veterinária Kelly Linhares Pedrosa, 36, conhecida como "Barbie dos animais", foram concluídas e remetidas ao Poder Judiciário. Conforme as investigações da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) e e laudos periciais, há indicativos de erro médico ocorrido durante o procedimento cirúrgico que culminou na morte da médica veterinária. A vítima morreu no último dia 16 de abril. Com a conclusão do Inquérito Policial, o médico, responsável pela cirurgia da vítima, poderá responder por homicídio culposo.
Entenda o caso
Kelly Linhares Pedrosa morreu em 16 de abril deste ano. Ela era conhecida, nas redes sociais, como “Barbie dos Animais”. Desde a morte da veterinária, a família vinha pedindo Justiça e celeridade no processo judicial contra o médico Valderi Júnior, responsável pelo procedimento cirúrgico que culminou no falecimento da mulher.
Ao O POVO, a mãe de Kelly, Maria Jesus Pedrosa, explicou que a causa da morte se deu em decorrência de complicações após uma cirurgia de correção da prótese nos seios da filha. Segundo ela, o médico responsável pela operação cometeu um erro médico que causou a perfuração do intestino de Kelly.
"Ela foi trocar uma prótese. Já foi a terceira cirurgia que ela tinha feito com esse médico, só que deu uma contactura na prótese que ela tinha feito em setembro. Ela vinha sentindo muita dor, então ele viu que tinha que trocar a prótese. Só que na troca dessa prótese, fizeram mais dois procedimentos. Em um desses procedimentos, ele perfurou o intestino dela", disse Maria.
A cirurgia foi realizada durante o período da manhã no dia 14 de abril. No dia seguinte, Kelly já tinha recebido alta. “Quando ela chegou em casa começou a sentir dor. Quando foi às 9 horas, ela foi para o São Mateus [Hospital]”, lembra Maria.
Conforme o relato da mãe, a veterinária chegou a ligar para o médico relatando sobre as dores. No entanto, o profissional alegou que poderiam ser gases. “Quando chegou no São Mateus, ela fez uma ultrassonografia e foi constatado gases, mas não eram bem gases, já era o problema da infecção”, conta Maria.
Após isso, a médica veterinária foi transferida para o Hospital da Unimed, onde outros exames foram realizados. Na unidade, foi detectado que o intestino de Kelly Pedrosa havia sido perfurado, causando uma sepse, uma infecção generalizada.
Ainda segundo a mãe de Kelly, foi necessário realizar uma outra cirurgia para tentar fechar a perfuração. No entanto, a infecção havia se agravado devido a sepse, causando em seguida o óbito da médica. “A situação foi detectada 24 horas depois da cirurgia”, lembra.
Em nota, o advogado da família e responsável por representar o caso, Ernado Uchoa, informou que a família se encontra inconformada com a demora no desfecho das investigações policiais e ética-profissional instauradas em desfavor do médico Valderi Vieira da Silva Junior.
“A família vem solicitar celeridade nos referidos procedimentos investigatórios, o primeiro, um Inquérito Policial com tramitação do 25º Distrito Policial, e o segundo, uma Sindicância no Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Creme), para que as investigações sejam concluídas e o referido médico seja processado e exemplarmente punido pelo crime que cometeu”, consta a nota.
A mãe de Kelly pede pelo afastamento do profissional do exercício da Medicina “para evitar que outras mulheres sejam vitimadas”, assim como a filha.
Defesa
Em nota, a defesa do médico Valderi Júnior informou que não houve erro médico sobre o caso de Kelly Pedrosa. A defesa destaca que todo procedimento cirúrgico estético "possui riscos", motivo pelo que o paciente autoriza o procedimento.
De acordo com a defesa, a médica Kelly Pedrosa já havia sido submetida a diversas outras cirurgias, entre plásticas e demais procedimentos necessários, quando procurou o médico. O cenário, conforme a defesa, já trouxe um histórico de "aderências e doenças preexistentes".
Ainda segundo a defesa do médico, após a médica veterinária reportá-lo sobre o episódio de dor após alta hospitalar, o médico orientou a paciente a procurar uma emergência. A defesa diz que o especialista a acompanhou entre os dois hospitais que ela transitou até conseguir atendimento cirúrgico. A nota da defesa diz que as lesões encontradas no intestino da paciente eram de "dentro para fora e não de fora para dentro".
"Tal lesão, apontada como possível causa do óbito da Sra. K.P.L., é absolutamente incompatível com possíveis lesões provocadas pelas cânulas utilizadas no procedimento de lipoaspiração. Todos esses dados estão presentes nos laudos e históricos médicos da paciente e toda assistência foi prestada de forma intensiva", disse a nota. O médico e a equipe lamentaram o ocorrido e se põem à disposição para esclarecimentos.