Censo 2022: Parcial aponta aumento da população indígena do Ceará em mais de 70%
Especialistas indicam que aumento se deve a mudanças na forma de abordagem realizada pelo IBGE, além de uma consciência coletiva a respeito da identificação como indígenaCom 68,5% da população cearense recenseada, o Censo 2022 caminha para a reta final da coleta de dados, que deverá ser finalizada no próximo dia 2 de dezembro. De forma prévia, os números já apontam para um crescimento da população indígena no Estado.
De acordo com o Censo realizado em 2010, o Ceará possuía 19.336 indígenas em seu território. No levantamento realizado neste ano, 33.243 indígenas já foram identificados até o momento, o que representa um aumento de 71,9%.
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De acordo com o superintendente da Unidade Estadual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Ceará (UE/CE), Francisco Lopes, a tendência é de que esse número seja ainda maior, pois áreas da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), com notória presença de população indígena, ainda estão sendo recenseadas.
"Vejo que há um orgulho de se apresentar como indígena. Acredito que esse número irá aumentar ainda mais, já que agora que estamos trabalhando na área dos Tapebas, na Caucaia, além de Amontada, locais onde há a presença indígena", destaca.
O antropólogo Fábio Jota, analista censitário de povo e comunidades tradicionais do IBGE aponta alguns fatores que explicam a mudança de cenário no Estado, dentre eles, uma melhoria na metodologia da coleta.
No atual processo é realizado um encontro prévio com lideranças indígenas, para que o grupo tenha conhecimento do trabalho realizado e, assim, contribua para o aumento da adesão aos questionários.
"Com isso, a gente garante que a comunidade estará consciente. Como são comunidades tradicionais, com outros costumes, outras crenças e outras formas de organização, garantimos o respeito a todas essas formas", ressalta o antropólogo.
Outro ponto destacado por Jota é a base territorial do IBGE, que trouxe para este ano um mapeamento específico dessas comunidades do Ceará, o que possibilitou uma ampliação das áreas abordadas. Em 2022, também há uma nova pergunta no questionário voltada para pessoas que vivem em bases consideradas indígenas.
"Percebemos que tinha uma parte da população que não entendia a questão de raça e cor, que se declarava parda, não se identificando ali como indígena. Essa é uma das mudanças relacionadas a 2010", explica Jota.
Atualmente, a pergunta "Você se considera indígena?" passou a integrar o questionário em bases consideradas indígenas, para facilitar o reconhecimento do grupo.
Censo 2022: Déficit de recenseadores e insegurança atrapalham coleta
A previsão inicial para o término da coleta de dados do Censo 2022 era fim do mês de outubro, entretanto, a falta de recenseadores atrapalhou o andamento da coleta, assim como a insegurança.
De acordo com Francisco Lopes, 7.348 recenseadores deveriam estar participando do processo no Ceará, entretanto, o número atual é de cerca de 4 mil.
"A desistência de recenseadores tem sido um problema em todo o País. Abrimos processos seletivos mais dinâmicos, para que possamos convocar essas pessoas de forma mais rápida, para repor o quadro", explica.
Questionado sobre quais são as regiões mais avançadas do Estado, Lopes avalia que o Interior tem apresentado menos dificuldades do que regiões próximas à Capital.
"A região que tem andado de forma mais lenta é a RMF, é onde observamos uma insegurança muito grande. Em áreas faccionadas, muitos moradores têm receio de responder", declara.
Ele conta que cerca de 40 equipamentos já foram roubados ou furtados de recenseadores, que também relatam ameaças em algumas regiões da RMF.
"Em alguns casos, nossos recenseadores têm sido intimidados, o que retarda um pouco. A nossa orientação é que a pessoa não se arrisque e busque lideranças comunitárias para auxiliar, assim como agentes de saúde", pontua.
Até o início do mês de novembro, segundo o superintendente, 70 municípios cearenses estão com 90% da população estimada recenseada. Mais de 6,3 milhões de cearenses foram ouvidos em 2.153.860 domicílios. Em 5,45% das casas, os moradores estavam ausentes, e, em outras 2,31%, houve recusa dos moradores.
A expectativa do IBGE é de que esse número seja reduzido até o término do levantamento, pois os recenseadores irão realizar novas tentativas em imóveis tidos como vagos. Além disso, entrevistas consideradas incompletas serão refeitas.
"Será feita uma nova entrevista para saber se alguns moradores omitiram pessoas. Em algumas entrevistas, observamos pessoas que não queriam fornecer muitas informações", diz Lopes, e o motivo seria o temor de perder auxílios governamentais.
"É preciso esclarecer que esses dados são para questões posteriores, que a pesquisa não representa um risco para essas pessoas", finaliza.
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