Ceará tem maior incidência de monkeypox entre os estados do Nordeste
Taxa é de 3,16 casos a cada 100 mil cearenses. Distrito Federal tem a maior incidência do Brasil (8,14), seguido de São Paulo (7,77) e Goiás (6,29). Ceará é o sexto no rol nacional
13:26 | Set. 26, 2022
No Ceará, cerca de três a cada 100 cearenses tiveram diagnóstico confirmado para monkeypox. O Estado tem 292 casos registrados até o momento, o que resulta na taxa de incidência de 3,16 – a maior entre os nove estados no Nordeste.
A taxa cearense é a sexta no rol nacional, sendo antecedida por Distrito Federal (8,14), São Paulo (7,77), Goiás (6,29), Rio de Janeiro (5,68) e Santa Catarina (3,49).
As taxas foram obtidas pelo O POVO a partir dos casos registrados em cada estado pelo Ministério da Saúde até esse domingo, 25, e da estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para cada unidade federativa.
Casos de monkeypox a cada 100 mil habitantes
Entre os estados nordestinos, a taxa cearense se destaca sendo bastante superior à segunda maior: Rio Grande do Norte tem 1,94 caso de monkeypox a cada 100 mil habitantes. Pernambuco tem o terceiro índice (1,30), e os demais estados da região registram taxas inferiores a um.
Para Sarah Mendes, secretária executiva de vigilância em saúde do Ceará, o atual número de casos de monkeypox registrados no Estado tem explicação multifatorial. “O Ceará hoje tem muitos casos, mas basicamente pela nossa capacidade e sensibilidade da rede de atenção e da rede de vigilância em monitorar esses diagnósticos”, afirma.
A secretária também aponta a transmissão comunitária da doença em Fortaleza e o grande fluxo de pessoas no Estado, especialmente para o turismo.
Confirmações e casos suspeitos
Em números absolutos, 292 cearenses já se infectaram com o vírus causador da monkeypox. O total coloca o Estado entre as cinco unidades federativas com maior número de casos confirmados.
São Paulo é o estado brasileiro com mais casos, 3.623 confirmações até esse domingo, 25 de setembro. Em seguida estão Rio de Janeiro (992), Minas Gerais (471), Goiás (453) e Ceará.
Já em relação às suspeitas de monkeypox, São Paulo se mantém em primeiro, com 988 casos em investigação. Minas Gerais tem 536 suspeitas e Pernambuco, 529. Em seguida estão Rio de Janeiro (408) e Goiás (399). O Ceará fica em 11º com 164 casos suspeitos.
Monkeypox: principais dúvidas sobre a doença
Na última sexta-feira, 23, O POVO entrevistou a secretária executiva de vigilância em saúde do Ceará, Sarah Mendes, e tira as principais dúvidas sobre monkeypox.
A pessoa deve ter quais sintomas para desconfiar que está com monkeypox?
O sintoma mais frequência é a erupção na pele. Mas é importante destacar que ela começa como uma vermelhidão que então pode fazer uma bolha, ficar com pus e só então criar aquela crosta que ficou como a imagem popularizada da monkeypox.
Então, basicamente é o aparecimento dessas erupções cutâneas. Muitos pacientes também relatam febre, dor de cabeça, adinamia (fraqueza muscular), dor no corpo e indisposição.
Quando procurar atendimento?
O momento ideal é no início dos sintomas. Primeiro, se teve contato com alguém que teve esses sintomas, a pessoa deve ficar atenta ao aparecimento de algum dos sintomas também. Pode começar pela febre, pela dor de cabeça, pela adinamia e depois surgirem as lesões na pele.
Mas o marco que a gente tem orientado a população para buscar um diagnóstico para a monkeypox é a erupção cutânea. Se apareceu uma erupção, busque uma unidade de saúde.
Onde buscar esse atendimento?
A pessoa pode buscar qualquer unidade básica de saúde. No Ceará, todos os casos são leves, e os municípios estão preparados para receber. As Unidades Básicas de Saúde têm os kits de diagnóstico, têm o profissional capacitado pra fazer a coleta, sabem o fluxo de envio dessa amostra.
Em Fortaleza, que é onde a gente tem o maior contingente populacional e também o maior número de casos, a Prefeitura destinou a uma unidade de saúde em cada uma das seis regiões pra ser sentinela para os casos de monkeypox.
Só se considera a doença se tiver contato próximo com alguém já diagnosticado?
O contato é um alerta. É o que acende o sinal amarelo. E o contato da transmissão é o contato pele a pele ou por objetos, seja uma toalha, um lençol, um copo, um talher... Mas só vai buscar uma unidade de saúde quem teve contato? Não.
O indivíduo deve buscar sempre que aparecer uma erupção cutânea ou no aparecimento de outros sintomas.
Tendo a confirmação ou mesmo a suspeita da doença, é importante ficar isolado? Como fazer esse isolamento?
A Sesa orienta o isolamento para o caso confirmado. Os sintomas podem persistir por um período de cinco a 21 dias, com uma média de 16 dias. E a pessoa com sintoma precisa se isolar, ou seja, não compartilhar cama, separar uma toalha específica para uso do paciente, separar os talheres, copo, utensílios domésticos no geral.
É um isolamento mais para uma doença de contato do que para uma doença respiratória. Também é importante o paciente ter cuidado com relação à utilização de máscara dentro do domicílio, especialmente se morar com pessoas com comorbidades. Só depois que as lesões secam e caem é que o paciente pode sair do isolamento.
Diante do que se sabe atualmente, qual o risco que a monkeypox traz?
A monkeypox foi declarada como uma emergência de saúde pública de importância internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 23 de julho de 2022, a fim de que os países monitorem a disseminação da doença.
“Até o momento não é uma doença que está sobrecarregando o sistema de saúde, não está causando óbito nem incapacidade e nem teratogenia (malformação de bebês em decorrência de problemas durante seu desenvolvimento intrauterino)”, afirma Sarah Mendes, apontando que o prognóstico da doença nesses grupos ainda é pouco conhecido.
“A população precisa ficar atenta aos sintomas, porque o nosso maior medo é que ela extrapole para públicos mais vulneráveis, que são as crianças, os idosos e os imunodeprimidos”, completa.
Há previsão de chegar vacinas contra a monkeypox para o Ceará? Qual deverá ser o público vacinado?
A vacina está em processo de aquisição pelo Ministério e deve chegar aos estados brasileiros nas próximas semanas. Ainda não há data precisa para recebimento das doses.
A vacina não será de ampla distribuição e aplicação. As doses serão disponibilizadas para as pessoas com maior risco, tanto os profissionais que estão em contato direto com o vírus e com casos confirmados, quanto as pessoas que têm alguma comorbidade ou alguma doença de base.