PM: Comando de apoio comunitário atende 9 mil vítimas de violência em três meses

O Copac atua nas comunidades com atuação de facções criminosas e tem o objetivo de cortar o vínculo de subordinação entre comunidade e facções criados pelo medo, ameaças e expulsões de residência. O agente de segurança passa a fazer parte da comunidade e gerar soluções para os conflitos e problemas no território

10:18 | Set. 21, 2022

Por: Jéssika Sisnando
Comando da Polícia Militar para Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac) (foto: divulgação/PMCE )

De junho a setembro deste ano, o Comando da Polícia Militar para Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac), atendeu 9.470 vítimas de violência no Ceará. Foram 8.279 visitas a escolas e 1.832 visitas de proximidade. Os números fazem referência a Fortaleza, Maracanaú, Canindé, Iguatu, Sobral e Juazeiro do Norte.

O Copac atua nas comunidades com atuação de facções criminosas e tem o objetivo de acabar o vínculo de subordinação entre comunidade e facções criados pelo medo, ameaças e expulsões de residência. É o único batalhão do Brasil com um núcleo de mediação e trabalha para cortar "os tendões que dão sustentação a ideologia das facções", explica o comandante do Copac, major Messias Mendes, em entrevista ao O POVO


O oficial explica que o Comando possui uma estratégia que modifica o significado efetivo do serviço de prevenção oferecido pela Polícia Militar do Ceará. Para que o Copac fosse criado, houve a necessidade de um olhar aprofundado sobre o que são as facções criminosas e como essas organizações atuam na mente dos jovens que são cooptados. Entender como essas organizações conseguem se estabelecer no senso comum de algumas comunidades do Estado.

Estão integrados no Copac um núcleo que atua no acompanhamento das vítimas de violência contra a Mulher, que é o Grupo de Apoio às Vítimas de Violência (GAVV); um grupo que atua diante da violência das comunidades como em casos de expulsões de famílias por facções criminosas, que é o Grupo de Prevenção Focada (GPF); o Grupo de Segurança Comunitária (GSC); e o Grupo de Segurança Escolar (GSE).


De acordo com o major Messias Mendes, a ideia do Copac é cortar "os tendões que dão sustentação a ideologia de facções". "Ele (Copac) atua na dimensão transcendente de que o crime costuma ocupar na cabeça das pessoas, que eles estão presentes em todo lugar, que conseguem controlar a vida das pessoas e construir uma espécie de governança naquele território. É uma característica de criar no imaginário das pessoas uma força que muitas vezes nem condiz com a realidade. O crime atua com algum simbolismo, sobretudo o terror simbólico, para impressionar as pessoas e encontrar uma subordinação na comunidade", relata o oficial.

Lógica territorial


Conforme o comandante do Copac, há uma lógica territorial em locais específicos. É um batalhão que trabalha com prevenção profunda, diferente do modelo convencional, que tem uma prevenção mais difusa. "Com a prevenção focada, a gente consegue enxergar essa natureza mais subterrânea que a violência é capaz de desenvolver em territórios com atuação de organizações criminosas", relata.

Agentes de segurança são fixados para conhecer a dinâmica, para conhecer as pessoas pelo nome, para conhecer as condições criminológicas e se interessar pelas causas daquele território. O comandante explica que o objetivo é desenvolver a aproximação das pessoas, para que se possa construir uma relação não hierarquizada vertical, mas horizontalizada. "Não para controlar a sociedade, mas alguém para servir como um componente da comunidade e desenvolver a relação de igualdade", ressalta o major.


Os copaqueanos, como são chamados os policiais que atuam neste Comando, buscam soluções para os problemas na comunidade. De acordo com o major Messias Mendes, eles trabalham por identificar vulnerabilidades e apresentarem soluções.

No caso do trabalho com mulheres vítimas de violência, há um aprofundamento que visa construir um relacionamento com a vítima. "É quando tem a retirada do marido, que muitas vezes é o garantidor daquela casa, e o GAVV procura se apresentar àquelas mulheres para construir uma nova caminhada. Garantir a segurança daquela mulher e construir com ela um plano individual. O trabalho atende pessoas com deficiência, o público LGBTQIA+. Não é uma Polícia que passa, é uma Polícia que fica", ressalta o major. 

Famílias expulsas de suas casas

 


O oficial afirma que os componente do Comando fazem parte de uma Polícia que se envolve nos problemas da comunidade e no combate de um número pequeno de pessoas que conseguem causar um grande transtorno nessas áreas. O trabalho do GPF, por exemplo, tem um protocolo de proteção para famílias que são expulsas de suas residências por facções. "É um trabalho de monitoramento e para que os criminosos não se sintam a vontade para amedrontar os moradores. Há um protocolo para que não haja a proliferação dessas ações e as casas são monitoradas. Quando chega no imóvel alguém que não é o dono, ele é preso e responsabilizado", explicou.

O major Messias cita ainda a base Copac, que fica instalada em territórios e em contato direto com a comunidade, inclusive com um número do Whatsapp disponível.

"É o único batalhão do Brasil com uma célula de mediação comunitária, que atua nas questões de briga de vizinhos, guarda de filhos, poluição sonora. Nosso Estado é garantidor e protetor. É construir a ideia que o estado está presente ali e é fora da lógica que o crime quer usar, que é pela força, pelo medo, por intimidação e ofensa a tranquilidade das pessoas", explica.