Ceará: julho apresenta o maior número de furtos em um mês nos últimos nove anos

O único período que ultrapassou o número de 5.808 furtos de julho deste ano foi 2013, também no mês de julho, quando foram registrados 6.044 casos. Números refletem a situação social e econômica da população, conforme pesquisador

16:55 | Ago. 10, 2022

Por: Jéssika Sisnando
Imagens de um arrombamento seguido de furto no Jardim das Oliveiras, em Fortaleza (foto: Reprodução/vídeo)

O mês de julho apresentou o maior número de ocorrências de furtos no Ceará desde 2013, com 5.808 casos. Ao todo, foram registrados 31.762 furtos entre janeiro e julho de 2022. O POVO apurou as informações com base nos indicadores criminais da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

Neste ano, o total de ocorrências de furto esteve em crescimento por quatro meses: 3.463 em janeiro, 3.855 em fevereiro e 4.257 em março. Em abril, o número continuou subindo e alcançou 4.561; maio seguiu com acréscimo e chegou a 5.077 casos de furtos. Em junho houve queda, com 4.741 casos, mas julho apresentou o maior índice.

Em 2021, de janeiro a julho, o Estado contabilizava 23.630 furtos, o que significa um aumento de 34% nos casos, comparando ao mesmo período deste ano. 


Meses com mais furtos nos últimos 10 anos

- Em 2022, julho registrou 5.808 casos de furto 

- Em 2021, o mês com mais furtos foi  outubro, com 4.230 casos

- Em 2020, o maior número de ocorrências de furto foi em janeiro, com 5.118

- Em 2019 o maior número foi em julho, com 5.205 casos

- Em 2018, o maior índice foi em agosto, com 5.203 casos

- Em 2017 o maior número foi de 5.557, em julho

- Em 2016, o índice chegou a 5.316 casos, no mês de março

- Em 2015, janeiro foi o período com maior número de furtos, com 5.544

- Em 2014, o maior número foi em março, com 4.946, no entanto, no ano de 2014, os meses de abril, maio e junho aparecem sem dados das ocorrências de furto por inconsistência

- Em 2013, julho foi o mês com mais furtos, 6.044 ocorrências

 

Subnotificação e realidade social

 

De acordo com o pesquisador da área de Segurança Pública e colunista do O POVO, Ricardo Moura, o aumento do furto é um reflexo do índice de miséria elevado. Conforme o estudioso, o dinheiro está mais escasso, as pessoas estão mais endividadas e a possibilidade do furto se torna uma opção, uma "oportunidade", uma alternativa para obter recursos, dinheiro.


Para Ricardo Moura, o aumento do número de furtos é preocupante. "É um sinalizador grande dessa questão que a gente percebe no dia a dia e isso vai estourar em algum ponto. É um dado que chama muita atenção e é um dado preocupante. Praticando o furto, você pode se envolver em outras ocorrências, obter antecedente criminal e colocar sua vida em risco", relata.

O pesquisador afirma que furto é um tipo de crime subnotificado, pois a maioria das pessoas não registra Boletins de Ocorrência. "Esse número pode ser bem maior, o que só torna a situação ainda mais grave", relata.

Perfil de quem comete furto é diferente 

 

O vice-presidente da Comissão de Direito Penitenciário da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-Secção CE), o advogado Ramon David, explica que as pessoas que cometem furto, normalmente, não têm antecedentes criminais e os que possuem, são de baixa periculosidade.

"Diferente de quem comete um roubo, um crime a mão armada com grave ameaça e violência. As pessoas que cometem furtos dificilmente são vinculadas a facções criminosas, já os que cometem roubos, têm, muitas vezes, a influência do tráfico e acabam participando de outras ações criminosas, que inclusive, podem terminar em um latrocínio (roubo seguido de morte)", detalhou Ramon.

 

 

O advogado analisa que o Judiciário não costuma considerar o crime famélico, quando é cometido com o intuito de a pessoa se alimentar. No entanto, segundo Ramon, há um dilema nessa questão para que não haja o entendimento de que as pessoas "podem" furtar produtos de menor valor por necessidades básicas. "Por isso, há um endurecimento ainda, em alguns casos, para que esses furtos não se tornem corriqueiros", afirmou.

Ramon David cita o furto de fios e diz que esses, por exemplo, são articulados por quadrilhas especializadas, que também trazem o crime de receptação. Nestes casos, o que também pode ser uma influência no aumento dos furtos, são casos que envolvem associação criminosa.

Furtos de fios, joias, produtos de higiene, lixeiras, lâmpadas, pneus e até plantas 

 

O POVO tem divulgado nos últimos meses casos de furtos que envolvem fios de sinalização, produtos de higiene, joias, lixeiras, lâmpadas, plantas, suplementos, cadeados e os mais diversos produtos. 

Há seis dias um grupo de jovens foi detido em um shopping de Fortaleza suspeito de furto em uma loja, houve confusão e resistência por parte dos suspeitos. No mês de julho, O POVO recebeu denúncia de motoristas que tiveram seus pneus furtados ao estacionar o carro em locais públicos. Os vídeos dos carros sem os pneus foram recebidos pela equipe de reportagem.

Há um mês, um caso de furto em loja de joias, também em um shopping de Fortaleza, envolvendo um gestante e uma idosa. Os proprietários do estabelecimento ficaram surpresos com a ação e com o prejuízo causado pelas duas, que, inclusive, usavam uma criança para despistar as funcionárias.

Em junho de 2022 O POVO divulgou um caso de furto de lixeira, em que câmeras de segurança flagraram o momento que um homem subtrai a cesta de lixo que está do lado de fora de uma casa.

 Ainda no mês de junho, um homem "especializado" em furto de portões foi detido no bairro Meireles, em Fortaleza. Moradores do Meireles e bairro de Fátima denunciaram ao O POVO a prática do furto de portões dos condomínio. 

Em julho, um caso de furto de lâmpadas foi recebido pela equipe de reportagem. A ação foi filmada por câmeras de segurança. O estabelecimento comercial, um pet shop, foi alvo da ação. 

No dia 2 de julho aproximadamente 900 metros de fios de cobre furtados foram apreendidos no município de Cruz, no Ceará. No mês de junho, 566 casos de furto de cabos de semáforos foram registrados em Fortaleza.