Soldadinho-do-araripe: conheça a ave que só existe no Ceará e pode ser extinta
Mudanças climáticas e má distribuição de recursos hídricos são ameaças à espécie. A estimativa é que existam mil soldadinhos-do-araripe nas cidades de Barbalha, Crato e Missão VelhaNa última quarta-feira, 20, a modelo Gisele Bündchen completou 42 anos e comemorou a data anunciando doações para instituições, entre elas a ONG Aquasis, do Ceará. A Associação de Pesquisa e Conservação de Sistemas Aquáticos atua para preservar espécies ameaçadas de extinção na fauna brasileira. Uma delas é a única ave exclusiva do Estado já catalogada, o soldadinho-do-araripe.
A descoberta da espécie cearense ocorreu em 1996, em Barbalha, região do Cariri. Além do município, os cientistas notaram que o soldadinho-do-araripe circulava no Crato e em Missão Velha. O grupo de pesquisadores, liderado pelo então professor da Universidade Federal de Pernambuco, Artur Galileu de Miranda Coelho, registrou a novidade para a comunidade científica dois anos depois, em 1998.
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Desde o início do século a ave faz parte da lista de animais ameaçados de extinção. Mas somente em 2003 o risco foi reconhecido pelo governo brasileiro, como conta o pesquisador e gerente da reserva Oásis Araripe, Weber Silva, em entrevista à rádio CBN Cariri.
“Foi sendo descoberto e já reconhecido como ameaçado, apenas em 2003 o governo brasileiro formalizou essa condição, coincidindo com nosso projeto de conservação. Então, enquanto ela estava sendo reconhecida como espécie ameaçada no Brasil, já estávamos iniciando os trabalhos para protegê-la”, diz Weber, que integrou a equipe responsável por descobrir a ave e desde então atua para preservá-la.
Segundo ele, a estimativa é que hoje o Ceará tenha cerca de mil soldadinhos-do-araripe. Para o levantamento dos animais é adotada a metodologia de identificação dos sons emitidos por eles.
“Tem um período do ano em que os machos cantam intensamente, e isso facilita para se ter uma estimativa de quantos há”, conta Weber. Já com as fêmeas, “elas têm uma forma diferente de cantar, e a partir disso nós projetamos quantas existem. Então se você colocar entre macho, fêmea, adulto e filhote, nós temos menos de mil aves, que é um número preocupante”, aponta Weber.
O que ameaça a sobrevivência da espécie?
O principal desafio para a manutenção da ave nativa do Ceará têm sido as mudanças climáticas, principalmente as secas extremas. De acordo com Weber Silva, “num evento climático como a atual crise e seca extrema, nós chegamos a perder 25% da população. Esse é o dado mais alarmante”.
Outro fator tem a ver com a própria gestão dos recursos hídricos. Os pesquisadores notaram que nos municípios do Crato e de Missão Velha, a espécie tem conseguido se recuperar à medida que os efeitos da seca foram atenuados, enquanto em Barbalha a recuperação ainda não é observada da mesma forma.
“Notamos algo diferente em Barbalha, onde a espécie foi descoberta, ele [soldadinho-do-araripe] não está se recuperando tão bem quanto poderia, justamente porque neste município a gestão das águas é mais problemática”, afirma Weber.
Diante dos riscos, o que fazer?
O coração do semiárido, para uma ave com demanda de água para sobreviver, é por si um desafio. Missão que deve ser empreendida por toda a sociedade, visando equilíbrio, biodiversidade e desenvolvimento sustentável. “Nós como sociedade temos que nos adaptar às condições sem levar outras espécies à extinção”, alerta Weber.
Alguns esforços têm sido empreendidos para garantir o futuro da espécie. Além de organizações não governamentais, como a Aquasis, políticas de gestão de recursos hídricos fazem parte das medidas contra a extinção.
O Programa Produtor de Água tem trazido esperança para Weber e outros ativistas ambientais da região. “A lógica desse sistema é o Poder Público incentivar o produtor a proteger as águas que nascem na sua propriedade, e o benefício se estende a toda a sociedade”, analisa.
Para ele, contar com o apoio de Gisele Bündchen é uma forma de chamar atenção para as urgências, mas também as possíveis soluções para as questões ambientais. “Nesse caso, o apoio é muito importante, porque ela mostrou que a ideia é muito boa (...) A Gisele é muito conhecida pelo ramo do trabalho dela, que envolve a beleza, e a beleza verdadeira está no fato dela ser ativista pelo meio ambiente”, elogia.