Ubirajara jubatus: Alemanha considera repatriar fóssil de dinossauro cearense

O caso do Ubirajara é um dos mais marcantes sobre a problemática do tráfico de fósseis no Brasil e no Ceará

13:58 | Jul. 18, 2022

Por: Catalina Leite
UBIRAJARA jubatus virou símbolo da luta por repatriação de fósseis (foto: Bob Nicholls / Paleocreations.com 2020)

A ministra alemã de Ciência de Baden-Württemberg, Theresia Bauer (Verdes), deve propor a repatriação do fóssil cearense Ubirajara jubatus nesta terça-feira, 19, em pauta de reunião. A informação é do jornal alemão Badische Neueste Nachrichten.

O caso do Ubirajara jubatus é um dos mais marcantes na discussão sobre tráfico de fósseis. Desde dezembro de 2020, quando a descrição da nova espécie foi publicadaO artigo foi derrubado pela revista científica Cretaceous Research após questionamentos da procedência do fóssil. Cientificamente, a espécie "não existe mais".por pesquisadores da Alemanha e da Inglaterra, paleontólogos brasileiros têm questionado como o material chegou ao acervo do Museu Estadual de História Natural Karlsruhe (Alemanha), já que fósseis são patrimônio cultural e histórico do país de origem (no caso, o Brasil) e não podem ser exportados sem autorização e nem vendidos.

 

Em dezembro de 2021, após um ano de barulho de pesquisadores brasileiros, o ministério de Ciência alemão confirmou as investigações sobre o caso. Na época, os envolvidos no estudo do Ubirajara afirmavam aos jornais brasileiros que tinham autorização da posse do material, expedida no dia 1º de fevereiro de 1995 (quando já era crime o transporte inautorizado de fósseis).

No entanto, a documentação era vaga e não confirmava que, entre os materiais permitidos para transporte, estava o Ubirajara. O POVO explicou as minúcias do caso na reportagem Paleontólogos questionam procedência de fóssil cearense recém-descrito por estrangeiros, exclusiva para assinantes O POVO+.

 

Acontece que, depois disso, o museu alemão e seus pesquisadores passaram a dar várias outras versões da história. Umas delas seria que o Ubirajara teria sido importado em 2006 por uma empresa privada e então vendido ao acervo do museu em 2009 — o que seria legal pela lei alemã, segundo a qual a venda de fósseis é autorizada; mas ainda ilegal considerando a proibição da venda de fósseis no Brasil.

Há mais detalhes sobre o arcabouço legal da Alemanha que dificulta a análise deles sobre a repatriação. O POVO+ abordou todos os detalhes na reportagem Arcabouço legal alemão favorece o tráfico? O caso do Ubirajara jubatus.

Apesar disso, a falta de provas sobre a chegada certa do fóssil cearense na Alemanha e a constante mudança de narrativas é suficiente para a ministra Theresia Bauer considerar a repatriação do Ubirajara como “apropriada e convincente", segundo os documentos em posse do jornal alemão.

Caso seja determinada a repatriação do fóssil, o material teria de ser recebido por uma instituição brasileira. O Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri, a 522 quilômetros de Fortaleza, surge como principal opção para o Ubirajara jubatus retornar ao Ceará.