"Dick Vigarista" da Construção Civil: empresário é acusado por série de golpes no CE
Após ser acusado pelas vítimas, proprietário da empresa é investigado pelo Ministério PúblicoO proprietário de uma empresa da área de construção civil é acusado de aplicar uma série de golpes em diversos clientes que sonham em ter os imóveis construídos e reformados. Vítimas da empresa Sosa Construções Urbanas foram registradas em Fortaleza e na Região Metropolitana. De acordo com os relatos, a construtora fecha os contratos e, após o recebimento dos pagamentos e início das obras, some com o dinheiro das vítimas. Prejuízo dos clientes chega a mais de R$ 50 mil.
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Em 2020, Andrea Nunes, 32, procurou por empresas para realizar a reforma da casa onde morava com a mãe. Após consultar conhecidos, a jornalista tomou conhecimento da empresa Sosa Construções Urbanas.
Ela conta que, na época, até chegou a checar se a empresa estava em conformidade com a Prefeitura de Fortaleza e se tinha registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE). “Recebi a visita do [nome do suspeito]*, que era o proprietário. Ele me passou o orçamento dele e comparei com outras empresas. Fechamos com ele, que era o mais acessível”, conta a vítima.
Para que os trabalhos fossem iniciados, Andrea e a mãe deixaram a residência no bairro José Bonifácio e foram morar em uma casa alugada. Ela explica que os trabalhos de reforma começaram por volta de agosto e setembro de 2020, com data de entrega para, no máximo, dezembro do mesmo ano.
Até hoje, no entanto, a obra não foi concluída. “O máximo que foi feito foi a demolição. Então, fora o prejuízo do dinheiro que a gente perdeu, ainda teve o prejuízo da demolição. Inclusive, eu cheguei a denunciar a minha própria obra”, explica.
Andrea não consegue entrar mais em contato com o homem para reaver o dinheiro investido na contratação da empresa. “A gente tentou fazer acordo e nunca dava em nada, porque ele nunca ia ou inventava mil desculpas”, conta a contratante.
Ela explica que, após perceber o golpe, começou a investigar a fundo a empresa. “Eu pesquisei e comecei a ver outras vítimas. Muitos com o mesmo problema, ou ele só fazia a quebradeira e sumia, ou não tinha nada de obra. Foi aí que eu vi que ele já era conhecido como Dick Vigarista”, relata.
Ao todo, Andréa Nunes teve um prejuízo de R$ 50 mil. Sem ter condições para voltar a morar em casa própria, a família se vê obrigada a continuar a morar de aluguel. Elas agora tentam se reorganizar financeiramente para retomar a obra.
Golpe na Região Metropolitana
Uma outra vítima da Sosa Construções, que preferiu não se identificar, relata que teve um prejuízo de R$ 37 mil ao contratar os serviços para a reforma de um apartamento, localizado na praia de Icaraí, no município de Caucaia.
A procura pela empresa aconteceu no início da pandemia de Covid-19. “Como minha mãe é idosa, achei que o ambiente da praia seria melhor. Perguntei a um amigo engenheiro se ele conhecia alguma empresa, pois não queria ter dor de cabeça e nem preocupação com trabalhadores autônomos”, relata.
A vítima conta que o amigo foi em um grupo na internet, que reúne empresas que fornecem serviços de engenharia, e deixou o contato. “Imediatamente o [nome do suspeito] veio falar comigo e disse que a empresa dele poderia ir fazer o orçamento”, explica.
Além do homem, outras duas empresas entraram em contato para oferecer os serviços. Após receber os três orçamentos, a vítima optou pela Sosa Construções, pois era o melhor valor oferecido, além de ter recebido a promessa de que a obra seria entregue em 30 dias.
Segundo o relato, o proprietário da empresa teria mostrado fotos de várias obras. Além disso, informou que todos os funcionários da empresa trabalhavam exclusivamente para ele e que eram de confiança. Após o pagamento, a obra foi iniciada.
Contudo, o homem identificado como dono informou ao cliente que precisava fazer um aditivo no contrato pois, devido à pandemia, o preço dos materiais de construção tinha subido. “Caso eu não pagasse, minha obra iria parar. Então paguei o aditivo e minha obra, mesmo assim, parou”, conta a vítima.
Segundo a denúncia, o empresário alegava que o atraso havia sido causado pela falta de material em lojas de construção. “Quando passou um tempo e vi que a obra não saía do canto, perguntei em qual loja ele tinha comprado. Ele me disse que foi na loja Carajás. Liguei para lá, o material não estava em falta, e (a loja disse) que a empresa Sosa não havia comprado lá”, explica.
O proprietário da Sosa Construções justificou dizendo que havia desistido da compra e que estava esperando outra loja trazer o material. “Como eu já tinha pagado até mais do que o combinado, liguei pra ele. Ele disse que tinha pagado os funcionários, mas os pedreiros me mandaram o print da conversa, e vi que ele estava mentindo”, expõe. A vítima conta, ainda, que tomou a chave do apartamento e resolveu terminar a obra com outra empresa.
Desaparecido
De acordo com o depoimento de uma das vítimas, o proprietário da Sosa Construções Urbanas informou que a empresa mantinha domicílio fiscal no coworking Concept Offices, em Fortaleza. O serviço é oferecido para fins exclusivamente tributários e formais. Nesse caso, o endereço constará em documentos oficiais, como cartão de CNPJ, contrato social, alvará de localização, inscrição estadual e municipal, entre outros.
O POVO entrou em contato com a administração do local. Em resposta, foi informado de que, apesar da contratação do domicílio fiscal, o homem não aparece no coworking, além de não marcar reuniões há bastante tempo.
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE) também foi procurado para a verificação de um registro da empresa Sosa Construções vinculado ao órgão, bem como ações de fiscalizações. A matéria será atualizada.
O POVO também buscou falar com proprietário da Sosa Construções por meio dos números disponibilizados pelos denunciantes, mas não obteve resposta. Ele também não foi encontrado nas redes sociais. Tão logo apareça, a matéria será atualizada com a versão dele dos fatos.
Procurado pela Justiça
Após diversas denúncias das vítimas, o representante da empresa Sosa Construções Urbanas é investigado pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) pelo crime de estelionato.
Ao O POVO, o órgão alegou que o denunciado não foi encontrado nos quatro endereços fornecidos. A instituição também informou que, caso ele não seja encontrado, será solicitada a citação por edital e serão avaliados elementos para pedido de prisão preventiva.
*O POVO não cita o nome do homem que se apresentou como proprietário da Sosa Construções porque a investigação pelo Ministério Público do Ceará ainda está em andamento, sem denúncia junto à Justiça. Além disso, a reportagem ainda não conseguiu contato com ele.
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