Refugiados no Ceará receberão oportunidade de capacitação profissional
Cursos serão administrados aos migrantes que manifestarem interesse e que tiverem renda familiar, per capita, de até dois salários mínimos
14:34 | Jul. 04, 2022
Mais de 100 vagas para cursos profissionalizantes gratuitos serão ofertadas a refugiados que residem em municípios cearenses. A iniciativa é resultado de um convênio entre a Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) — que assinaram um termo de colaboração técnica para a capacitação e inserção de migrantes no mercado de trabalho.
A ação celebra a Semana Estadual do Migrante e do Refugiado no Ceará e o próprio Dia Nacional do Migrante, comemorado no último dia 25 de junho. A ideia central é proporcionar a refugiados de guerra, perseguições religiosas e situação de miséria novas oportunidades de qualificação profissional e melhores perspectivas de socialização e fusão cultural.
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Ao todo, 146 vagas estarão abertas nos cursos de costureiro, salgadeiro, recepcionista, assistente administrativo e recepcionista em meios de hospedagem. A carga horária total é de 160 horas. O Projeto contempla, também, cursos de 20 horas sobre empreendedorismo, com foco em áreas como a administrativa, financeira e mercadológica. A previsão para o início das aulas é julho e agosto, ainda sem data específica.
"O mercado de trabalho é a primeira ponte de recursos econômicos de qualquer pessoa. Por esse motivo, temos esse foco no desenvolvimento de pessoas migrantes no Brasil. A minha avaliação desse tipo de acordo de cooperação é totalmente positiva. É um convênio que vai fomentar a aprovação e a garantia desses direitos das pessoas migrantes e refugiadas. Eles vão conseguir se formar e ganhar um desenvolvimento maior que vai permiti-los conseguirem desenvolver a criatividade econômica no futuro", argumenta o coordenador do Programa Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Arkaitz Pascual.
Turmas
As turmas serão formadas conforme a manifestação de interesse das pessoas contatadas, com renda familiar, per capita, de até dois salários-mínimos e que não estejam matriculadas como pagante ou bolsista em qualquer curso, no mesmo período, no Senac Ceará.
Para formação dos grupos, estão sendo contatadas famílias que já passaram pelo acolhimento na entidade e as atendidas pela Pastoral dos Migrantes do Ceará e pelo Programa Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, da SPS.
“O SPM avalia essa parceria como um grande passo na nossa história, frente a referência que o Senac é enquanto educador profissional e ao significado que essa ação traz à vida dos migrantes no que diz respeito à qualificação e inserção laboral, o que influi diretamente no alcance de uma vida digna para essas famílias, um dos principais objetivos do nosso trabalho social”, diz a coordenadora da Casa dos Migrantes de Fortaleza, Mirella Torres de Morais.
A venezuelana Ana Gabriela veio de seu País natal para o Brasil com sua família. Após morar na Casa dos Migrantes por algum tempo, ela decidiu que gostaria de trabalhar com costura, motivo pelo qual irá participar do curso correspondente da SPS.
"Eu vim do meu país porque estava procurando uma forma melhor de viver. Meu marido trabalha, eu ainda não. Quero trabalhar na minha casa costurando roupas", conta ela, demonstrando ansiedade para o início das aulas.
"Eu acho que esses cursos são muito úteis para nós aprendermos a fazer coisas que nos ajudem a conseguir um emprego melhor, ou um emprego para poder pagar nossas despesas, já que muitos de nós não têm um ofício", completa.
Já Yulmary Marilex Berti Vargas, também vinda da Venezuela, é dona de casa e tem dois filhos. Antes de chegar a Fortaleza com a família, ela morou na fronteira, em uma cidade chamada Santa Elena. "Nada foi planejado. O marido da minha mãe estava doente, e não tínhamos como pagar a medicação que ele precisava, em poucas palavras, estávamos em um situação financeira ruim", narra.
Ela, então, decidiu entrar no Brasil para buscar ajuda para ele e conseguiu por meio do Alto comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e da Avsi Brasil.
Yulmary conta que as pessoas que a ajudaram falavam muito sobre o Brasil e a motivavam a tentar uma nova oportunidade. "Infelizmente, minha mãe não quis continuar e depois da recuperação do marido, ela voltou a Venezuela. Eu continuei porque Deus estava comigo e eu sempre pedia orientação. Era muito difícil, outro país, outras pessoas, outros costumes, mas eu nunca desisti."
Yulmary admite que foi difícil para seu marido conseguir um emprego e que eles receberam bastante ajuda de organizações, como a Pastoral dos Migrantes. Para o curso profissionalizante, ela escolheu gastronomia e costura.
"Sinto que é uma iniciativa muito boa, uma grande oportunidade para a gente poder continuar crescendo e aprendendo mais coisas. A verdade é que seria muito mais fácil conseguir um emprego depois do curso, porque você já vai ter um certificado que comprova o aprendizado na área", afirma Yulmary.
Cidadania
Os cursos compõem as ações do Programa Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, coordenado pela SPS. Além de oferecer os cursos gratuitos, a iniciativa atende demandas de regularização documental, em parceria com a Polícia Federal, proporcionando emissão de:
- CPF;
- Cartão do SUS;
- Carteira do Trabalho e Previdência Social (CTPS)
Dentre outros documentos.
Serviço
O atendimento é realizado, de formas presencial e online, pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP), Posto Avançado e Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM), pelos telefones (85) 3454 2199 e (85) 9.9666 3235, ou pelo Programa Estadual de Atenção ao Migrante Refugiado (85) 9 8644 9482.