Arquidiocese de Fortaleza tem quatro religiosos candidatos à canonização; entenda o processo

Frei João Pedro, dom Antônio de Almeida Lustosa e as religiosas Irmã Clemência e Rosita Paiva são as personalidades que estão com processo aberto

A Jornada Teológica realizada pela Faculdade Católica de Fortaleza, que ocorreu nesta sexta-feira, 10, apresentou os perfis e os estágios dos processos dos quatro religiosos, com notórios trabalhos no Ceará, candidatos à canonização e beatificação pela Igreja Católica. O capuchinho Frei João Pedro, o segundo arcebispo de Fortaleza, dom Antônio de Almeida Lustosa e as religiosas irmã Clemência, filha da Caridade e Rosita Paiva, fundadora do Instituto Josefinas são as personalidades que estão com processo aberto.

Frei João Pedro, o segundo arcebispo de Fortaleza Dom Antônio de Almeida Lustosa e as religiosas Irmã Clemência e Rosita Paiva são as personalidades que estão com processo aberto
Frei João Pedro, o segundo arcebispo de Fortaleza Dom Antônio de Almeida Lustosa e as religiosas Irmã Clemência e Rosita Paiva são as personalidades que estão com processo aberto (Foto: Danrley Pascoal/O POVO)

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O padre Vicente Oliveira, que participou da Jornada, explicou que o primeiro passo para canonização é o reconhecimento das virtudes ou martírio do candidato. Este é o passo mais demorado, porque é preciso investigar minuciosamente a vida do Servo de Deus. 

Após o processo de investigação e autenticidade dos fatos, o bispo dá início aos trâmites de beatificação. Os resultados são enviados para a conferência episcopal, que precisará apoiar o início da causa. Antes que o candidato a beato receba qualquer título, as informações colhidas passarão pelo o Vaticano, para que ali, após a aprovação, se dê início ao processo.



De acordo com o padre, feita as averiguações de fontes de sua fama e sendo aprovada a documentação. O Vaticano inicia o processo, com o candidato a beato ganhando o título de Servo de Deus. 

“As investigações recolhem todo material produzido pelo Servo de Deus. A literatura: escritos, livros, escritos e mensagens. Depois vai arrumar a parte de provas testemunhais, que são as pessoas que conviveram e estiveram presentes na vida do candidato. Elas vão dar um testemunho das virtudes daquela pessoa”, disse Vicente Oliveira.

Com as provas do envolvimento do candidato com a vida canônica, o Vaticano reconhece as virtudes heróicas do Servo de Deus, entendendo sua entrega ao Evangelho. Depois que o Vaticano reconhece as virtudes, o candidato passa a ter o título de "Venerável". Para encerrar o processo é analisada a intercessão direta do postulante em um milagre. Com um milagre comprovado, é feita a beatificação e em seguida a canonização pelo papa, sendo a personalidade religiosa considerada santa.


Conheça os candidatos com trabalho realizado no Ceará


Capuchinho frei João Pedro


Nasceu em Sexto São João, Milão, Itália, em 9 de setembro de 1868. Como frade Capuchinho, foi missionário e chegou ao Brasil em 1894, quando veio com alguns companheiros para trabalhar na Missão do Norte e Nordeste. Das quatro personalidades, frei João Pedro tem o processo de canonização mais avançado, já que é considerado venerável.

Cristo e seu Reino eram o centro de sua vida de fé e amor a Deus. Impulsionado pelo ideal missionário, enfrentou florestas, sertões, áreas pantanosas, viagens perigosas e enfadonhas. Sobre os ideais e fundamentos da sua vida fundou a Congregação das Irmãs Missionárias Capuchinhas para ocupar-se da educação da juventude feminina.

“Trabalhou profundamente pelas questões da evangelização, especialmente em terras amazônicas. E a sua contribuição para o Cristianismo foi exatamente esse zelo para a área amazônica, esse zelo com os mais empobrecidos e também por fundar uma comunidade religiosa para poder cuidar das pessoas mais sofridas”, destacou padre Abimael, missionário do Sagrado Coração, da Paróquia São João Batista do Tauape, sobre frei João Pedro.

Seguindo o seu exemplo, as Irmãs Missionárias Capuchinhas realizam seu trabalho na educação como um serviço missionário para o Reino de Deus, em fidelidade ao dom recebido de seu Fundador: “Ide com coragem e santa alegria evangelizar os povos; ide instruir e catequizar todas as gentes e derramar sobre elas a infinita misericórdia divina”.

 

Dom Antônio de Almeida Lustosa


Nasceu em 11 de fevereiro de 1886, na cidade de São João Del Rei, Minas Gerais. Ordenou-se padre em 28 de janeiro de 1912. Como padre Salesiano, ensinou filosofia e teologia, atuou como mestre de noviços, diretor e vigário. Foi sagrado bispo de Uberaba, Diocese do Triângulo Mineiro. Passou por Corumbá, no Mato Grosso, e Belém do Pará, logo em seguida foi transferido para Fortaleza, em 1941, onde ficou até 1963.

De acordo com a Arquidiocese de Fortaleza, dom Antônio de Almeida Lustosa foi um escritor de frase fina e leve, observação aguda, de um interesse apaixonado pela criatura humana, de um toque seguro de erudição. Escreveu vários livros, desde literatura infantil a cartas pastorais e livros com vasto conhecimento de teologia. Escreveu também inúmeros artigos nos jornais da época. No processo de canonização é considerado um Servo de Deus e pleiteia se tornar um venerável.

Fundou o Instituto dos Cooperadores do Clero, em fevereiro de 1957, com a finalidade de ajudar aos párocos e cooperadores leigos que contribuíssem nos trabalhos paroquiais. Além de fundar a Congregação das Josefinas, hoje espalhada por vários estados, trazendo real benefício à pastoral da igreja.

Em Fortaleza ajudou a abrir escolas populares, postos de saúde, alguns existentes ainda hoje, e na construção da Catedral, foi responsável por desenhar os vitrais. “Abriu escolas populares para as crianças pobres serem alfabetizadas, na década de 1920, 1930 e 1940 não havia uma ampla cobertura educacional. E abriu postos de saúde para atender os mais pobres na periferia em uma época com pouco atendimento à saúde”, explica o missionário do Sagrado Coração, da paróquia São João Batista do Tauape.

 

Irmã Clemência

Batizada como Francisca Benícia de Oliveira, irmã Clemência atuava em um ambulatório da caridade Vicentina, fazia curativos e atendimentos em enfermos pobres para cura de doenças da época (bouba, queimaduras, verminoses, hemorragias, olho de peixe, tracoma, bicho-de-pé) mesmo sem nunca ter tido nenhum estudo técnico ou superior de medicina ou enfermagem.

Viveu de 1896 a 1966. Nasceu em Redenção. Em Fortaleza, trabalhou por duas décadas no colégio Imaculada Conceição, antes de ser transferida para Pacoti e Baturité. Fez seu noviciado no Rio de Janeiro.

“Há diversos testemunhos de pessoas que foram cuidadas pela Irmã Clemência, as quais dizem que ela ficava até altas horas da noite cuidando das pessoas. Isso no começo do século passado. Extremamente dedicada aos mais pobres, a atenção dela não era apenas para quem tinha recursos, mas aos mais pobres, fazia tudo com muita generosidade, com muita alegria, enfim, contribuiu demais com a questão em Baturité”, conta padre Abimael.

O processo de canonização de irmã Clemência começou em abril de 1995, com o então arcebispo de Fortaleza dom Aloísio Lorscheider. Os trâmites de beatificação ficaram paralisados por 19 anos, em 2020 foi criada uma Associação dos Devotos da Irmã Clemência (Adic) que retomou o processo e que atualmente é responsável pelo Memorial da religiosa, escola de música e distribuição de sopa para famílias carentes em Baturité. A candidata hoje é considerada Serva de Deus e está próxima do título de venerável.


Rosita Paiva


Nasceu em 13 de março de 1909, em Lábrea/Amazonas. Fundou, juntamente com monsenhor Luís de Carvalho Rocha e dom Antonio de Almeida Lustosa, o Instituto Josefino (Congregação das irmãs Josefinas) na Arquidiocese de Fortaleza. Se caracterizava pelo espírito de fé, ardor missionário, obediência à vontade de Deus, confiança na Divina providência, zelo pelos sacerdócio e amor aos pobres.

O Instituto Josefino surgiu com o objetivo de exaltar a glória de Deus, o bem da Igreja, a santificação dos seus membros, pela vivência da palavra de Deus e observância dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, na defesa da fé e da vida, até o martírio.

Rosita permaneceu na direção do Instituto como Superiora Geral de 29 de dezembro de 1949 a 22 de janeiro de 1988. Fundou 84 comunidades Josefinas. Ao deixar o cargo foi morar na diocese de Campo Maior, no Piauí, onde faleceu no dia 19 de agosto de 1991. Seu corpo foi trazido para Fortaleza e seus restos mortais repousam na capela da primeira casa do Instituto, chamada Casa Mãe. Ela hoje é considerada Serva de Deus pelo Vaticano e também está prestes a se tornar venerável.

“Os quatro candidatos à santidade são pessoas extremamente virtuosas, reconhecidas por muitas ações divinas e trazem para nós um dom muito precioso, nos ensina que o evangelho ele se encarna, ele vive na vida concreta, na caridade, na justiça e na oração contínua. Então eles ensinam esses valores para todos nós aqui em Fortaleza e também a Igreja (Católica) do mundo todo”, ressalta padre Abimael.

*Com informações da Arquidiocese de Fortaleza

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