Casos de hepatite aguda infantil misteriosa podem ter ligação com Covid, alerta especialista
Hepatologista Elodie Bomfim explica que casos podem ter relação com um tipo de adenovírus que está causando uma reação imunológica em crianças que já foram expostas à infecção por Covid-19
18:46 | Jun. 03, 2022
A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) investiga cinco casos suspeitos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida no Estado. De acordo com a hepatologista Elodie Bomfim, do Hospital São José (HSJ), em Fortaleza, os casos podem ter relação com um tipo de adenovírus que está causando uma reação imunológica em crianças que já foram expostas à infecção por Covid-19.
"As pesquisas com esse grupo de crianças que adoeceram apontam que em metade delas foi isolado um tipo de adenovírus que circula há muito tempo, e é uma fonte muito frequente de infecções nessa faixa etária, mas que não costumava causar hepatite. Uma parte considerável dessas crianças que evoluiu com necessidade de transplante tinha tido Covid-19 há pouco tempo", explica a hepatologista.
A especialista também pontua que uma nova infecção que pode ser causada por esse tipo de adenovírus desencadeou uma resposta imunológica do sistema de defesa das crianças sob investigação, fator que pode estar agredindo o fígado delas. "Essa teoria não está comprovada totalmente, mas é a mais acreditada neste momento", esclarece Elodie.
A insuficiência de fígado foi constatada em 10% dos casos suspeitos no Ceará, segundo a hepatologista. Os relatos demonstram acometimento de crianças e adolescentes do sexo feminino, com idade média de 11 anos. As Superintendências Regionais de Saúde de Fortaleza têm quatro casos (66,7%), a do Norte, um caso (16,7%). O caso em investigação no Cariri foi descartado.
Sintomas
Os sintomas mais comuns da hepatite aguda infantil de origem misteriosa, de acordo com a hepatologista Elodie Bomfim, são febre, vômito, dores abdominais, quadros de diarreia acompanhados de olhos e peles amarelados, além de urina escura (laranja ou marrom). "Então, em qualquer situação de pele amarelada, a criança deve ser levada a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para que ela seja avaliada", alerta a especialista.
Diagnóstico
O diagnóstico da hepatite aguda infantil de origem misteriosa é feito, principalmente, por meio das provas de lesão hepática. Além disso, a hepatolosgista recomenda que profissionais solicitem exames de TGO, TGP, Gama GT e fosfatase. "Incluindo as provas de função hepática, que são as dosagens de bilirrubina, albumina e o tempo de protrombina, que indicarão que há gravidade com sinais de ciência hepática", pontua Elodie.
A especialista também salienta que a patologia de origem desconhecida é defininda diante de um quadro de hepatite aguda onde foi feita sorologia para hepatite A, B, C e E, com resultados negativos. "Nos casos que tiverem [hepatite] B, a gente faz hepatite delta. Então, uma hepatite de causa desconhecida, a priori, eu tenho que ter feito no mínimo essas cinco sorologias com resultados negativos", explica.
O perfil de quem é acometido pela patologia, de acordo com a hepatologista, é de crianças com menos de cinco anos de idade. "Três quartos dos casos notificados no mundo estão nessa faixa etária, mas nós temos crianças maiores e adolescentes com menos de 18 anos", completa Elodie.
Tratamento
Em casos de crianças diagnosticadas com hepatite aguda de origem misteriosa, a hepatologista recomenda boa alimentação, repouso e administração de medicações, receitadas por especialistas, para tratar cada sintoma manifestado. "Nós não devemos dar nenhum tipo de anti-inflamatório, como Ibuprofeno, Aspirina, ASS Infantil (ácido acetilsalicílico) ou Paracetamol, pois é completamente proibido", alerta a médica.
Como se prevenir
Para prevenir a infecção de crianças, são indicados os cuidados semelhantes aos tomados durante a pandemia da Covid-19, como:
1) Uso de máscara em população de risco e não vacinados;
2) Higienização rigorosa das mãos;
3) Evitar aglomerações em locais fechados, principalmente com crianças e pessoas não vacinadas;
4) Manter crianças com algum quadro de gastroenterite, diarreia e vômito utilizando um vaso sanitário isolado;
5) Manter vasos sanitários sempre higienizados com desinfetante.