IBGE: Fortaleza é a 2ª capital do NE com menor proporção de pessoas homossexuais ou bissexuais

É a primeira vez que o IBGE investiga a orientação sexual autodeclarada no País. No Ceará, uma pesquisa estadual sobre a população LGBT+ deve ser divulgada em junho

10:36 | Mai. 25, 2022

Por: Marcela Tosi
Pesquisa Nacional de Saúde foi realizada pelo IBGE em 2019 e perguntou aos adultos se eles se identificavam como heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. (foto: Tatiana Fortes/ O POVO em 17/0/2019)

Apenas cerca de um a cada 100 fortalezenses se afirma como homossexual ou bissexual. É o que indicam resultados da Pesquisa Nacional de Saúde em 2019 e divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 25. O número abrange apenas as pessoas maiores de idade e, proporcionalmente, é o menor entre as Capitais do Nordeste.

O Instituto mostra que, entre as pessoas com 18 anos ou mais que residem em Fortaleza, 1,5% se declara fora da heteronormatividade, enquanto 95,1% se afirmam heterossexuais. Outros 3,4% não souberam ou não responderam à pergunta.

Das capitais nordestinas, Salvador também registra 1,5% da população adulta declarada como homo ou bissexual. Em seguida está São Luís (1,8%). Maceió, Recife, Teresina e João Pessoa marcam entre 2% e 3%. Já em Aracaju, são 3,5% da população. A cidade com maior porcentagem de pessoas não heterossexuais é Natal, onde 4% responderam ter orientação sexual diferente do interesse exclusivo pelo sexo oposto.

81 mil cearenses

 

Dos cerca de 2,9 milhões de brasileiros que se assumem fora da heteronormatividade, 81 mil são cearenses. O total corresponde a 1,2% dos 6,8 milhões de adultos no Ceará em 2019. 

Na pesquisa, 287 mil cearenses (4,2%) afirmaram não saber sua orientação sexual ou não quiseram responder. Os outros 6,4 milhões (94,5%) se declararam heterossexuais.

Entre os estados nordestinos, o Ceará fica com a segunda menor proporção, seguido apenas por Pernambuco (1%). Na outra ponta do ranking, Alagoas, Bahia e Rio Grande do Norte apresentam 1,8% de seus adultos se afirmando como parte da população LGBTQIA+ quando o assunto é orientação sexual.

Pesquisa cearense

 

No âmbito estadual, a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para pessoas LGBTQIA+ vem realizando uma pesquisa sobre essa população. O levantamento aplicado por formulário online contempla dimensões de habitação; etnia e raça; deficiência; educação; trabalho e renda; saúde; segurança pública, entre outras.

Lançada no final de 2021, a pesquisa está em fase de análise dos dados recebidos. O preenchimento ficou disponível durante cinco meses, de 9 de dezembro de 2021 a 9 de maio de 2022. Conforme a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), a proposta é que o resultado seja divulgado até 28 de junho.

"Desde o primeiro censo do IBGE, nunca foram divulgadas informações sobre a população LGBT+ no Brasil. Para este nosso grupo tão vulnerável, é imprescindível obter informações sobre quantos somos, em quais territórios nos localizamos, quais as vulnerabilidades que mais se concentram ao nosso entorno, entre outros fatores", aponta Silvia Cavalleire, coordenadora do Centro Estadual de Referência LGBT+ Thina Rodrigues.

Ela expõe que os dados são centrais "para se discutir as políticas públicas que são destinadas para nós e pensar em iniciativas por parte do poder público e da sociedade civil que gerem oportunidades para essa população se conhecer e se reinventar".

 

Dados inéditos

 

O IBGE ressalta que as estatísticas apresentadas ainda são experimentais uma vez que os “dados referentes à orientação sexual encontram-se ainda sob avaliação por não terem atingido um grau completo de maturidade em termos de harmonização, cobertura ou metodologia”.

Entre as limitações do estudo, o Instituto aponta que, diante do estigma social, os participantes podem ter indicado respostas que julgaram que seriam mais bem aceitas. Além disso, os pesquisadores avaliam que termos como “orientação sexual” e “heterossexual” podem ser de difícil compreensão para algumas pessoas. Os dados têm um intervalo de confiança de 95%.

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) é um inquérito de base domiciliar e âmbito nacional, elaborado pelo Ministério da Saúde em parceria com o IBGE. A primeira edição foi executada em 2013. Na segunda edição, em 2019, os pesquisadores visitaram 108.525 domicílios e fizeram 94.114 entrevistas.

*Matéria atualizada e corrigida às 12 horas de 25/05/2022

Anteriormente, a matéria afirmava o número absoluto de 2.100 homossexuais e bissexuais entre a população adulta de Fortaleza. O número, entretanto, estava errado. Conforme a PNS 2019, seriam 2,1 milhões de fortalezenses adultos, dos quais cerca de 30 mil se afirmam não-heterossexuais.