Encontro reúne mães de vítimas de violência policial em Fortaleza

Representantes de 12 estados brasileiros estão reunidas na capital cearense, em busca de acolhimento e atenção do poder público, após episódios de violência

 

Cerca de 120 pessoas, de 12 estados do Brasil, são esperadas durante os quatro dias do  Encontro Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado, que teve início no último dia 17 e terá duração até o próximo dia 20, em Fortaleza. Além do momento de acolhida mútua, a reunião dos familiares deve render uma carta com reivindicações. O apelo deverá ser encaminhado aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado. O evento chega à quinta edição, neste ano. A reunião volta a acontecer após dois anos de paralisação, devido à pandemia da Covid-19.

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Na manhã desta quarta-feira, 18, foi realizada a abertura do encontro com um ato ecumênico contando com um padre, um pastor, uma mãe de santo e um líder espírita. Em seguida, houve uma mesa de debates com a temática "Redes de Resistência: por Memória, Justiça e Direitos Humanos".

Os relatos das mães das vítimas de violência policial foi o momento de maior conexão durante a manhã. Com o lema de transformar luto em luta, Alessandra Félix, do coletivo Vozes, relata como a violência chegou ao seu meio familiar.

"Fui atravessada pela violência quando meu filho foi apreendido aos 14 anos de forma truculenta, sendo agredido, mesmo que o ECA fale que isso não é correto. Meu filho nunca foi ressocializado e acabou migrando para o sistema prisional", afirma a mãe.

Alessandra lamenta que os espaços de privação de liberdade, na visão dela, não agreguem em nada na ressocialização dos jovens apreendidos.

"Nenhuma mãe quer os filhos se desumanizando nesses espaços de privação de liberdade, o filho que o Estado recolhe não é o mesmo filho que o Estado devolve. Ter essa rede, estar juntas nesse encontro é o que nos fortalece", destaca.

Para Edna Cavalcante, 50, mãe de uma das vítimas da Chacina do Curió, ocorrida no dia 12 de novembro de 2015, as lembranças do filho servem como um combustível na luta por apoio a outras mulheres que passam pela mesma dor.

"Não podemos ser indiferentes com as mortes praticadas em outros estados, as características são as mesmas. Pessoas periféricas, que vivem em lugares esquecidos até mesmo pelos direitos humanos. Os casos são de pessoas pobres, negras, periféricas".

Sobre o encontro realizado em Fortaleza, Edna ressalta que o momento é de trazer visibilidade aos casos que não ganham grande repercussão social. Além disso, a mãe cobra um melhor acompanhamento do Estado, como o oferecimento de oportunidades de acolhimento e de cuidados com a saúde mental.

Patrícia Oliveira, 47, veio do Rio de Janeiro para participar do encontro. Ela conta que o seu irmão foi um dos sobreviventes da chacina da Candelária, em 1993, após sofrer oito disparos de arma de fogo durante a ação.

"A justiça não lida com respeito com pessoas que sofreram violência policial, não temos credibilidade. Como os policiais têm fé pública, a palavra deles vale muito mais que a nossa", lamenta.

Para Mara Carneiro, coordenadora geral do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), que apoia o movimento realizado pelos familiares, é evidente a importância do encontro.

"É um momento muito forte para essas pessoas. Percebemos alguns avanços nessa luta, mas ainda existem muitos desafios, sobretudo o enfrentamento ao racismo. A violação realizada pelo Estado é fortemente ligada ao racismo", afirma.

De acordo com Carneiro, o Cedeca atua no apoio e na defesa de crianças e adolescentes quando o Estado é o violador. O Centro de Defesa presta apoio às famílias das vítimas tanto de forma psicológica, quanto jurídica. Para a coordenadora, o Cedeca e os grupos familiares atuam como uma rede de resistência aos casos de violência.

O POVO entrou em contato com o Governo do Estado para comentar sobre a questão da violência policial no Ceará, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria. 

Agenda:

 - Quinta, 19, às 9h: Entrega da Carta Pública à Governadora Izolda Cela, ao Tribunal de Justiça; à Promotoria Geral do Estado (PGE) e à Defensoria Geral do Estado (DPE).

- Quinta, 19, às 15h: Reunião ampliada na Assembleia Legislativa do Ceará.

- Sexta, 20, às 8h: Realização da II Travessia, a concentração será na Praça Murilo Borges de onde sairão em cortejo até a Praça do Ferreira.

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Luto vítimas de violência Encontro de mães

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