Sabe o que é denunciação caluniosa? Ceará registra 327 casos de crime que tem pena de 2 a 8 anos
Em dois anos, 327 pessoas foram denunciadas às autoridades no Ceará por ações que não cometeram. Elas procuraram seus direitos após provarem inocênciaO Ceará registrou 172 ocorrências de denunciação caluniosa em 2021 e 155 em 2020, somando um total de 327 crimes em dois anos. Prevista no artigo 339 da Lei 2.848, a denunciação caluniosa é um crime contra a administração da Justiça e consiste em dar causa à instauração de um inquérito policial ou de um procedimento investigatório do Ministério Público, processo administrativo disciplinar e inquérito civil, improbidade administrativa imputando a uma pessoa um crime, uma infração ou ato de improbidade que provoque as autoridades mesmo sabendo que a pessoa é inocente. De forma simples: é acionar as autoridades para denunciar alguém que é inocente.
O delegado Renê Andrade, titular do 1º Distrito Policial (DP), explica que a denunciação caluniosa tem forte impacto para a pessoa que é denunciada de forma caluniosa. "Tira a paz psicológica daquela pessoa que foi vítima, assim como perturba a tranquilidade, causa-lhe problemas no trabalho, no grupo social, diante da opinião pública e até dos familiares", relata.
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O delegado descreve um caso, atendido pelo distrito, em que um homem registrou um Boletim de Ocorrência (B.O) denunciando o furto de um veículo. Uma pessoa chegou a ser detida por receptação, no entanto, foi descoberto que, na verdade, o denunciante fez uma negociação de compra e venda de uma motocicleta. Como não recebeu o valor negociado, fez um B.O por furto e imputou o crime de receptação ao comprador. Neste caso, de acordo com o delegado, a pessoa que fez o B.O respondeu na Justiça por denunciação caluniosa.
"Ele registrou um boletim mentiroso que acusava de furto a pessoa que comprou a moto. Foi instaurado procedimento por receptação e, quando foi verificar, houve a venda e algumas pendências financeiras. Ao invés de procurar o aparato civil, ele usou de forma indevida o aparato policial", explica.
O crime tem uma pena de dois a oito anos de reclusão e existe uma forma qualificada que causa o aumento da pena, que é quando o denunciante se usa do anonimato, ou seja, não se identifica ou usa um nome falso. Neste caso, a pena pode passar de nove anos.
Denunciação caluniosa é diferente de calúnia
O crime de denunciação caluniosa é diferente da calúnia, que é um crime contra a honra. A calúnia, do artigo 138 do Código Penal Brasileiro, é um crime de ação privada, para que seja cometido não tem a necessidade de utilizar o aparato policial. Na denunciação caluniosa, a pessoa que imputa alguém de forma criminosa, vai à Delegacia, faz BO, usa do sistema de Justiça e da Polícia para prejudicar alguém mesmo sabendo da inocência do mesmo.
O delegado Renê Andrade, titular do 1º Distrito Policial (DP), cita ainda casos contra agentes da segurança pública que são vítimas de denunciação caluniosa por criminosos. São policiais militares, agentes públicos e pessoas que enfrentam diariamente a criminalidade, mas que sofrem denúncias inverídicas. "(O objetivo é) Causar ali um determinado constrangimento aos policiais que estão em exercício da atividade e no enfrentamento à violência", relata.
O que fazer ao ser vítima de uma denunciação caluniosa
A denunciação caluniosa é um crime de ação pública incondicionada, ou seja, a pessoa que foi vítima seja na esfera judicial, policial ou administrativa deve comunicar o fato às autoridades. A vítima deve registrar um Boletim de Ocorrência (B.O) e reunir todas as provas de que foi vítima da denúncia, como por exemplo a cópia do processo que se resultou improcedente.
Outro tipo de caso de denunciação caluniosa que o titular do 1º DP retrata como mais recorrente é o de maus tratos a animais. Em situações que chegam às delegacias, alguns vizinhos denunciam pessoas por maus tratos por escutar o cachorro latindo, por exemplo. "E quando é verificado, não há maus tratos, a pessoa se baseou apenas pelo achismo para denunciar", conta.
Sempre que as pessoas registram Boletins de Ocorrência na Polícia Civil, o delegado Renê frisa que o denunciante é alertado para a questão do crime de denunciação caluniosa. "As pessoas precisam ser esclarecidas que, caso cometam excessos, poderão ser responsabilizadas, frisa. Esses casos resultam em investigações e ocupam delegados, inspetores, escrivães e mobilizam todo o aparato, isso causa prejuízo aos órgãos responsáveis. Esse caso segue para o promotor, a Justiça vai analisar, a estrutura da Polícia Judiciária, do Ministério Público, sem falar no prejuízo para outras investigações que poderiam ser realizadas", finalizou.