MPCE cria força-tarefa para analisar contrato da Enel e barrar reajuste da energia
Órgão anunciou uma comissão formada por quatro promotores para apurar possíveis descumprimentos contratuais por parte da concessionária. Investigação pode durar até quatro mesesO Ministério Público do Ceará (MPCE) anunciou a criação de uma força-tarefa para analisar o contrato de concessão do serviço de distribuição de energia elétrica da Enel com o Governo do Ceará. O objetivo é apurar possíveis descumprimentos contratuais por parte da concessionária. A investigação será conduzida por uma comissão formada por quatro promotores de Justiça. O grupo foi nomeado nesta segunda-feira, 2, pelo procurador-geral de Justiça do Ceará, Manuel Pinheiro.
Nos próximos 120 dias, a comissão fará uma análise minuciosa sobre cada cláusula do acordo. Além disso, os promotores também irão averiguar a qualidade da prestação do serviço aos consumidores. Ao fim do prazo, um relatório detalhado será entregue à Procuradoria. A iniciativa busca encontrar elementos para barrar o aumento de 25% na tarifa de energia elétrica solicitado pela Enel e aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
É + que streaming. É arte, cultura e história.
“Esta análise fática-jurídica leva tempo para entendermos como os critérios desse reajuste estão sendo auditados, observando a frequência de interrupções, o tempo para normalização dos serviços, quais os investimentos da empresa para expansão dos serviços e que justifiquem o aumento da tarifa", explicou Pinheiro.
O promotor acrescentou que, além da iniciativa interna, o MPCE uniu forças à Associação dos Municípios e Prefeitos do Estado do Ceará (Aprece) e à Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), que também estudam providências para reverter o reajuste tarifário na conta de luz.
O presidente da Assembleia, Evandro Leitão, afirmou que o Poder Legislativo também criará uma comissão para a análise do contrato da Enel. O grupo será composto por nove parlamentares e também terá prazo de 120 dias para desempenhar suas atividades de apuração. "Estamos nos mobilizando para barrarmos essa tarifa. A partir desta revisão das cláusulas do contrato firmado ainda em abril de 1998, poderemos recomendar a rescisão ou a formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para sabermos se as obrigações da concessionária estão sendo respeitadas”, disse o deputado.
De acordo com o secretário-executivo do Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Decon), Ricardo Memória, a Enel é alvo de frequentes reclamações dos usuários, principalmente por cobrança indevida, acordo para pagamento, corte indevido, má prestação do serviço, dano em decorrência das quedas de energia e cobrança não reconhecida pelo consumidor. Segundo o promotor, a concessionária acumulou 1.436 queixas no Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec) em 2021.
Apelo à Justiça
O anúncio da força-tarefa ocorre três dias após o Decon ingressar com uma Ação Civil Pública (ACP) contra a Enel pedindo a suspensão do aumento na conta de luz em todo o Estado. A ação tramita no âmbito da 28ª Vara Cível. No documento, o órgão pede à Justiça que a Enel não implemente o reajuste autorizado pela Aneel ou, caso efetivado o aumento, que se abstenha de praticá-lo ou continuar praticando, sob pena de multa diária no valor de R$ 1 milhão para a hipótese de descumprimento.
Em nota ao O POVO, a Enel afirmou que "está aberta para o diálogo com todas as entidades para prestar todos os esclarecimentos sobre o tema."
Confira o restante da nota:
A empresa esclarece que as tarifas são definidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) com base em leis e regulamentos federais e contêm custos que não são de responsabilidade da Enel como: custos de geração, transmissão de energia, impostos e encargos setoriais. Estes valores são arrecadados pela distribuidora e repassados às empresas de geração, transmissão e ao governos federal e estadual. Durante a pandemia, a agência reguladora postergou repasses para a tarifa que impactaram no reajuste desse ano, principalmente, por encargos setoriais, aumento da inflação e custos de geração de energia. A companhia acrescenta ainda que o fim da bandeira de escassez hídrica vai amenizar o efeito do reajuste para a maior parte dos consumidores.
Cabe esclarecer que, do reajuste anunciado semana passada, cerca de 5% corresponde a parcela destinada à distribuidora para operação, expansão, manutenção e investimentos na rede de energia. A Enel Ceará vem investindo constantemente na melhoria da qualidade do fornecimento e na modernização da rede de distribuição do Estado. Nos últimos 10 anos, a empresa investiu um total de R$ 6,4 bilhões. Só em 2021, foi investido cerca de R$ 1 bilhão no Ceará.
OUÇA O PODCAST VOO 168 BASTIDORES