Peixe-leão: entenda como o peixe venenoso chegou ao Brasil
Venenosa, a espécie peixe-leão é nativa da região Indo-Pacífica e não possui predadores no Atlântico, podendo causar elevados prejuízos ambientais e socioeconômicos
19:27 | Abr. 29, 2022
Animal peçonhento, o peixe-leão já foi encontrado em quatro regiões do Norte e Nordeste do Brasil em 2022. Sua aparição é motivo de atenção devido ao seu veneno perigoso aos humanos e à ameaça que representa ao ecossistema dos recifes de corais.
Características do peixe-leão e origem
Peixe-leão, peixe-dragão, peixe-peru, peixe-escorpião e peixe-pedra são alguns dos nomes populares para a variedade venenosa de peixes dos gêneros Pterois, Parapterois, Brachypterois, Ebosia ou Dendrochirus, da família Scorpaenidae.
Em entrevista para O POVO, Caroline Vieira Feitosa, engenheira de Pesca e professora do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), afirma:
“O peixe-leão tem um padrão de coloração rajada em tons amarronzados/alaranjados. Tem espinhos longos na nadadeira dorsal e são esses que inoculam o veneno. A nadadeira peitoral também é longa. Quando o peixe está 'armado', fica bem ornamentado.”
Para saber mais sobre essa espécie de peixe invasora, continue lendo o texto!
Como o peixe-leão veio parar no Brasil?
O peixe-leão é uma espécie carnívora, nativa do Indo-Pacífico. O animal passou a habitar os mares do Caribe após a passagem do furacão Andrew, que ocorreu na Flórida, nos Estados Unidos, em 1992.
Na ocasião, os peixes-leão que estavam em um aquário foram acidentalmente libertos no oceano e chegaram ao Brasil após atravessarem a barreira de recifes de corais do Rio Amazonas.
Em 2012, a espécie já existia na Venezuela, adentrando em mares brasileiros nesse mesmo ano. Entre 2014 e 2015, o peixe foi encontrado no Rio de Janeiro.
De modo geral, a presença do peixe-leão já foi registrada no Ceará, Amazonas, Piauí e em Fernando de Noronha.
Desde março de 2022, mais de 30 peixes-leão foram encontrados em águas rasas da costa do Nordeste brasileiro.
Qual o problema do peixe-leão?
Além de ser peçonhenta, a espécie, nativa da região Indo-Pacífica, pode causar elevados prejuízos ambientais e socioeconômicos quando invade águas onde não possuem predadores naturais.
O peixe-leão é perigoso ao ser humano?
O peixe-leão possui 18 espinhos que liberam toxinas com força suficiente para causar dor intensa, seguida de edema local.
Um acidente envolvendo essa espécie pode causar grandes riscos à saúde, como aconteceu no dia 21 de abril de 2022, com o pescador Francisco Mauro da Costa Albuquerque, de 24 anos.
O caso foi registrado na Praia de Bitupitá, no município cearense de Barroquinha. Após o contato, o jovem precisou ser levado ao hospital do município de Camocim.
"O pescador teve edema e eritema no local, dor intensa e excruciante, febre e convulsões", afirma o biólogo e pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Soares.
Esse foi o primeiro acidente no Brasil com um peixe-leão, espécie venenosa e predadora agressiva de outros peixes e invertebrados marinhos.
O peixe-leão é uma ameaça à vida marinha?
A professora Caroline Vieira comenta que esse animal se trata de uma espécie carnívora e seu poder de predação é voraz. “Por ser uma espécie invasora e predadora de animais vertebrados e invertebrados, o peixe-leão representa uma ameaça ao ecossistem”, explica.
Em nota da Universidade Federal do Ceará (UFC), o professor Marcelo Soares explica que o peixe-leão é uma das espécies invasoras de maior risco local por não possuir predadores naturais.
De acordo com ele, é preocupante que os registros desse peixe sejam em ambientes rasos, pois significa que ele já está espalhado por outras regiões do Brasil.
"Estes resultados demonstram que o processo de invasão pode ser bastante rápido, afetando a biodiversidade local, a pesca artesanal, o turismo, sendo também um problema de saúde pública”.
Reprodução do peixe-leão
Outro fator que colabora para a sua rápida ocupação dos oceanos é a reprodução do peixe-leão. Após 48h do ritual de acasalamento, nascem os filhotes e, também em dois dias, eles passam a se alimentar e crescer.
Conforme a professora Caroline, a fêmea atinge a maturidade com pouco mais de um ano, chegando a 19 cm de comprimento e liberando cerca de 50.000 ovócitos a cada 3 dias quando apta a reprodução.
O que fazer quando um peixe-leão for encontrado?
Caso o peixe-leão seja avistado, informações podem ser passadas para o Sistema Integrado de Manejo de Fauna (Simaf) por meio do site da organização, ou, ainda, pelos e-mails da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) cientistachefesema@gmail.com. A Secretaria do Meio Ambiente do Estado (Sema) também pode ser acionada pelo número (85) 3108 2768.
"O protocolo é se alguém avistar o peixe-leão, é preciso avisar imediatamente às Secretarias Municipais do Meio Ambiente ou diretamente à Sema, para que a gente possa mapear essas ocorrências, ver como o peixe-leão está atuando no nosso litoral e começar atuar nas questões dos protocolos para recolhimento e como lidar com esse tipo de situação”, explica Eduardo Lacerda.
Luís Ernesto, professor do Labomar e cientista-chefe de Meio Ambiente do Ceará, também explica que só é recomendado capturar o animal se existir uma forma segura para fazer isso. "Se a pessoa não tiver experiência ou não se sentir segura, é melhor não arriscar, porque pode se acidentar com os espinhos", pontua.
O professor também explica que o peixe-leão é um animal territorialista, o que pode facilitar sua captura. "Mesmo que seja um mergulhador que esteja tentando capturar, se não conseguir naquele momento por alguma dificuldade, o melhor a fazer é deixar para outro momento em que possa fazer de forma segura", completa.
Um aplicativo para poder inserir informações em casos onde o peixe-leão for avistado no litoral cearense também está sendo produzido, segundo informações de Luís. No dia 6 de maio, será feita uma reunião pelo Observatório Costeiro e Marinho com as Secretarias de Meio Ambiente e de Saúde dos municípios para esclarecimentos sobre a presença do peixe-leão no Estado.
Sintomas do veneno do peixe-leão
O veneno do peixe-leão tem efeito cardiotóxico e citotóxico e pode afetar a transmissão neuromuscular. Essas características costumam provocar dor intensa e inchaço localizado, bem como náuseas, mialgias, cefaléia, náuseas, tontura, fraqueza muscular e respiração ofegante.
A substância venenosa é inoculado por meio dos espinhos localizados nas regiões dorsal, pélvica e anal do peixe. Geralmente, os animais possuem de 12 a 13 espinhos dorsais, 2 pélvicos e 3 anais.
Cada espinho possui duas glândulas que produzem e armazenam veneno. Os peixes-leão também possuem espinhos peitorais, porém estes não possuem glândulas de veneno.
A potência do veneno varia conforme a espécie e tamanho do peixe-leão, sendo a sua constituição baseada em proteínas termossensíveis, que são vulneráveis ao calor e se desnaturam facilmente.
O que fazer em caso de acidente com o peixe-leão?
Felizmente, por ainda não haver uma população mais robusta de peixe-leão no Brasil, é difícil que acidentes ocorram durante o banho de mar e atividades náuticas.
Mas caso aconteça, o ideal é mergulhar o local afetado em água quente (tolerável), os primeiros socorros constituem-se na imersão do local afetado em água quente (43-45 °C) por 30 a 40 minutos ou até a dor diminuir.
Indica-se ainda o uso de analgésico para aliviar a dor. Na sequência, deve-se encaminhar a vítima à emergência médica, pois podem acontecer quadros de infecção após o acidente.
Em caso de captura do peixe-leão, é importante ter cuidado ao manipulá-lo e contactar as autoridades locais e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
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Conclusão
Devido à baixa densidade populacional do peixe-leão em águas atlânticas, acidentes envolvendo o animal ainda são raros.
No entanto, devido ao seu rápido processo reprodutivo, o peixe-leão pode ameaçar a biodiversidade marinha local.
É importante que se realize, portanto, um trabalho de controle da população do bicho para que se evitem problemas de ordem ambiental, social e salutar.