Peixe-leão causa primeiro acidente no Brasil após ataque a pescador cearense

Pescador cearense foi atingido pelos espinhos do peixe-leão enquanto trabalhava em um curral de pesca na quinta-feira, 21, na Praia de Bitupitá, em Barroquinha

O primeiro acidente no Brasil com um peixe-leão (lionfish), espécie peçonhenta e predador agressivo de outros peixes e invertebrados marinhos, foi registrado na Praia de Bitupitá, no município cearense de Barroquinha. O pescador Francisco Mauro da Costa Albuquerque, 24, foi atingido pelos espinhos do animal enquanto trabalhava em um curral de pesca na quinta-feira, 21.

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Após o contato, o jovem precisou ser levado ao hospital do município de Camocim. "O pescador teve, supostamente, duas paradas cardíacas, mas o que sabemos de fato é que [os sintomas] foram edema e eritema no local, dor intensa e excruciante, febre e convulsões", explica o biólogo e pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Soares.

Francisco Mauro precisou ir outras vezes ao hospital, de acordo com o pesquisador, por continuar sentindo sintomas após o contato com o animal. Na sexta-feira, 22, o pescador teria sofrido duas paradas cardíacas. "Não se sabe se houveram as duas paradas cardíacas. Precisa de uma pesquisa médica para confirmar isso", pontua Marcelo.

O pesquisador explica que não conhece casos de morte após contato com a espécie, mas que o organismo humano pode sofrer diversas reações devido às toxinas neuromusculares de efeito sistêmico nos raios das nadadeiras do peixe-leão, principalmente dorsais, o que pode trazer consequências graves. O animal é caracterizado como peçonhento e invasor. Ele não tem predador natural no Brasil.

Peixe-leão no Brasil

O peixe-leão apareceu no Brasil pela primeira vez nos anos de 2014 e 2015, no Rio de Janeiro. Neste ano, o animal já foi encontrado no Ceará, nas cidades de Bitupitá, Jericoacoara, Preá, Camocim, Acaraú e Itarema. No Piauí, a espécie foi vista em Luís Correia e Cajueiro da Praia, de acordo com estudos realizados pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar).

De modo geral, registros do peixe-leão já foram feitos no Ceará, Amazonas, Piauí e Fernando de Noronha. Desde março deste ano, mais de 30 peixes-leão foram encontrados em águas rasas do litoral do Nordeste brasileiro. Além de ser venenoso, a espécie, nativa da região Indo-Pacífica, pode causar elevados prejuízos ambientais e socioeconômicos quando invade regiões que não possuem predadores naturais.

A solução seria realizar capturas em escala nacional. “Captura em larga escala, em plano nacional. No Caribe, têm ações para matar a espécie; já participei lá no México, inclusive. Mas não é algo tão simples, precisa de treinamento e cuidados com roupas adequadas. As águas do Nordeste não são como do Caribe, que são super claras e dá pra ver bem o bicho. Aqui, não dá”, pontua o pesquisador Marcelo Soares.

No quinta, 21, dia em que o pescador cearense foi atingido pelos espinhos do animal, outros quatro peixes-leão foram encontrados na praia de Bitupitá. Marcelo explica que a tendência é que surjam ainda mais animais da espécie peçonhenta no litoral cearense pelos próximos meses. O invasor tem sido encontrado no raso, entre um e nove metros de profundidade.

Plano de contingência no Ceará

Eduardo Lacerda, geógrafo e doutor em Ciências Tropicais, informou que o Labomar tem criado um plano de contingência para combater o animal. "Nós temos o Observatório Costeiro e Marinho no Ceará, que foi lançado no mês passado, e a primeira reunião foi envolvendo o tema do peixe-leão, que era uma coisa que não tínhamos aqui. Desde então, a gente está trabalhando diariamente nisso”, pontua.

O geógrafo também explicou que quando os primeiros registros do peixe-leão foram feitos no Ceará, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado (Sema) lançou um informe geral para todos os municípios que possuem praia, a fim de alertar sobre a presença do animal. Desde então, não existe uma estatística precisa de quantos animais foram encontrados, segundo Luís Ernesto, professor do Labomar e cientista-chefe de Meio Ambiente do Ceará.

O que fazer quando um peixe-leão for encontrado?

Caso o peixe-leão seja avistado, informações podem ser passadas para o Sistema Integrado de Manejo de Fauna (Simaf), por meio do site, ou, ainda, pelos e-mails da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) cientistachefesema@gmail.com. Além disso, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado (Sema) pode ser acionada pelo número (85) 3108 2768.

"O protocolo é se alguém avistar o peixe-leão, é preciso avisar imediatamente às Secretarias Municipais do Meio Ambiente ou diretamente à Sema, para que a gente possa mapear essas ocorrências, ver como o peixe-leão está atuando no nosso litoral e começar atuar nas questões dos protocolos para recolhimento e como lidar com esse tipo de situação”, explica Eduardo Lacerda.

Luís Ernesto, professor do Labomar e cientista-chefe de Meio Ambiente do Ceará, também explica que só é recomendado capturar o animal se existir uma forma segura para fazer isso. "Se a pessoa não tiver experiência ou não se sentir segura, é melhor não arriscar, porque pode se acidentar com os espinhos", pontua. 

O professor também explica que o peixe-leão é um animal territorialista, o que pode facilitar sua captura. "Mesmo que seja um mergulhador que esteja tentando capturar, se não conseguir naquele momento por alguma dificuldade, o melhor a fazer é deixar para outro momento em que possa fazer de forma segura", completa. 

Um aplicativo para poder inserir informações em casos onde o peixe-leão for avistado no litoral cearense também está sendo produzido, segundo informações de Luís. No dia 6 de maio, será feita uma reunião pelo Observatório Costeiro e Marinho com as Secretarias de Meio Ambiente e de Saúde dos municípios para esclarecimentos sobre a presença do peixe-leão no Estado.

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