Ceará tem maior média de crianças internadas por síndromes respiratórias desde 2020
Volta do contato com vírus e bactérias após dois anos de isolamento e uso de máscara estão entre as explicações. Falta de vacinação também é um fator no atual cenárioNessa segunda-feira, 25, o Ceará registrou a média móvel de 213,9 crianças internadas em leitos de enfermaria em decorrência de infecções respiratórias. O número é resultado da média de internações pediátricas registradas em sete dias e é a maior média desde o início da pandemia de Covid-19 no Estado, em 2020.
"Desde o início de abril, a gente vê um aumento exponencial nos casos graves de crianças internadas por síndromes respiratórias. Tanto bronquiolites quanto casos asmáticos e de pneumonias graves", afirma a pediatra Bárbara Montenegro. "Existe a sazonalidade dos vírus, que aumentam de março a junho, mas este ano o aumento está sendo muito maior. Além de um momento de mais chuvas, estamos saindo de dois anos das crianças dentro de casa e uso de máscara. É como se elas tivessem que ser reacostumadas por esses vírus", analisa.
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A pediatra Graciela Josue acrescenta a possibilidade de as infecções pelo coronavírus, mesmo que assintomáticas, afetarem o sistema imunológico dos pequenos. "Temos percebido mais viroses, mais gripes. Como se a resposta imunológica estivesse menor", levanta a hipótese. "Principalmente agora com todo mundo voltando ao convívio social sem máscara, foi intensificada a disseminação dos vírus e das bactérias que a gente já tinha."
Comparando com o ano passado, a média móvel em 25/04/2021 era de 141 leitos pediátricos de enfermaria ocupados por crianças que apresentavam quadros de infecções respiratórias. A diferença é de mais de 70 pacientes.
Em números absolutos, a última segunda-feira foi o terceiro dia com mais crianças internadas em enfermarias com síndromes respiratórias desde abril de 2020. Eram 274 pacientes. O primeiro foi o dia 21/04/22 (277 pacientes) e o segundo, 22/04/22 (275 pacientes).
Já em relação aos casos mais graves que demandam internação em leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), a média móvel registrada nessa segunda-feira, 25, foi de 32,1. O número sinaliza uma queda que acontece desde o pico registrado em 28 de janeiro deste ano, quando a média móvel foi de 47,4 crianças em UTI por síndromes respiratórias.
Bárbara, que também é intensivista pediátrica e coordenadora da UTI 3 do Hospital Infantil Albert Sabin, explica ainda que "perdemos muitos leitos de pediatria no Estado". "Muitos locais e leitos de enfermaria foram redirecionados para outros atendimentos. Então, a criança acaba não tendo o atendimento básico e chegando muito grave ao hospital."
As especialistas recomendam aos responsáveis retomar as consultas pediátricas de rotina, manter em casa as crianças com algum sintoma respiratório ou de virose e colocar em dia o calendário de vacinas. Na prática clínica, as pediatras afirmam observar muitos pacientes com imunizantes atrasados.
Outra indicação é realizar diariamente uma lavagem nasal com soro fisiológico, mesmo quando a criança não está doente, pois limpa a via área e umidifica a área trazendo maior proteção.
Segundo o infectologista Keny Colares, "neste momento a principal causa de internamentos é o vírus sincicial respiratório, que não dispõe de vacina". Já no início do semestre, "tivemos bastante Covid-19 e influenza". "Também estão sendo verificados casos de coinfecção com o pneumococo, a principal bactéria que causa pneumonia. Isto pode estar relacionado à queda da cobertura vacinal", completa.
Os dados utilizados nesta matéria foram levantados pela DATADOC, Central de Jornalismo de Dados do O POVO, a partir da plataforma IntegraSUS. As bases de dados e o notebook com o código executado para coleta e tratamento dos dados estarão disponíveis no Github da Central.
Aumento de leitos e vacinação
Em entrevista coletiva concedida nessa segunda-feira, 25, o secretário da Saúde do Ceará, Marcos Gadelha, afirmou que o crescimento da demanda por atendimento surpreende as unidades de saúde.
“Vivemos um período de sazonalidade dessas infecções respiratórias, de março até junho, quando é esperado um aumento de infecções respiratórias em crianças. Neste ano, fomos surpreendidos por um aumento significativamente maior, inclusive de casos graves, em relação ao ano de 2021", disse.
Na ocasião foi anunciada ampliação de leitos pediátricos em Fortaleza, e o secretário apontou possibilidade de ampliar também no Interior.
Conforme a secretária executiva de Atenção à Saúde e Desenvolvimento Regional da Sesa, Tânia Mara Coelho, a principal faixa etária atingida por síndromes gripais no Estado têm sido a de crianças de até 9 anos. Ela apontou ainda que, das amostras identificadas em 2022 pelo Lacen, 56% (1.249) são influenza e 29,9% (667) são vírus sincicial respiratório (responsável pela maior parte das infecções do trato respiratório) – este com maior crescimento observado em abril.
Diante do cenário, o Ceará antecipou as campanhas de vacinação contra Influenza e sarampo em crianças de até 5 anos de idade. Em Fortaleza, as vacinas estão disponíveis nos 116 Postos de Saúde, em dias úteis, das 7h30min às 18h30min. Nos fins de semana e feriados, o atendimento ocorre conforme programação divulgada previamente pela Prefeitura.
Em relação à Covid-19, conforme da dados da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) consolidados às 17h do último dia 25, 645,831 crianças de 5 a 11 anos de idade tomaram a 1ª dose contra o coronavírus. O número representa 71,9% da população nessa faixa etária que deve receber o imunizante. Destas, 323.845 tomaram também a 2ª dose. (Colaboraram Gabriela Custódio e Alexia Vieira)
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