Fiocruz Ceará e Instituto Pasteur: parceria pode tornar tratamentos médicos mais acessíveis
Pataforma Fiocruz-Pasteur buscará desenvolver pesquisas relacionadas à imunologia e imunoterapia. Estudos deverão ajudar no tratamento de diversos tipos de doenças
16:45 | Abr. 18, 2022
Uma comitiva francesa formada por membros do governo francês e pesquisadores do Instituto Pasteur está na Capital cearense para dar andamento à implantação de uma plataforma de imunologia e imunoterapia. Uma visita à Fiocruz Ceará foi realizada na manhã desta segunda-feira, 18. A expectativa é de que, durante os próximos dois anos, um especialista técnico francês passe a contribuir, em Fortaleza, na consolidação da plataforma Fiocruz-Pasteur.
O objetivo da visita é estreitar relações entre pesquisadores brasileiros e franceses, além de gerar benefícios futuros nas pesquisas relacionadas ao combate a doenças degenerativas. Um dos ganhos ressaltado pelos presentes na reunião será o desenvolvimento de tratamentos mais acessíveis à população.
Leia mais
"É um projeto de médio a longo prazo, possivelmente, o instituto Pasteur deve vir para cá. Existe uma cátedra de excelência do Pasteur que vai fomentar essa vinda de um pesquisador sênior, francês, e isso irá contribuir muito para a formação de recursos humanos locais", destaca o doutor João Hermínio, coordenador de pesquisas da Fiocruz Ceará.
Hermínio relata que algumas adaptações já estão sendo feitas para a implementação do projeto em Fortaleza, como a compra de novos equipamentos para o Fiocruz. O pesquisador explica que os estudos ajudarão no tratamento de diversos tipos de doenças.
"Tratará, particularmente, de terapia celular, é uma tecnologia de ponta para tratamento de pacientes com diversas malignidades. Isso vai além das doenças oncológicas, mas também doenças neurodegenerativas e outros tipos de doenças de fundo imunológico", pontua.
De acordo com o especialista, a produção de imunobiológicos, que são considerados medicamentos de ponta, podem chegar a custar entre R$ 25 mil a R$ 30 mil por aplicação, em cada paciente, o que dificulta o acesso da população a diversos tipos de tratamentos.
"Vamos gerar novos produtos para doenças específicas, que ainda estão sendo avaliadas, além da terapia celular, este sim um tratamento revolucionário, recente e ainda bastante caro."
Carlile Lavor, coordenador da Fiocruz Ceará, explica que as pesquisas relacionadas à imunoterapia, que consiste no tratamento com anticorpos, serão ainda mais desenvolvidas após a concretização da parceria, podendo culminar na criação de novos produtos no mercado.
"Esses produtos poderão ser utilizados pela imunoterapia para tratar linfomas, tipos de cânceres do sistema linfático. O projeto pode facilitar que a população tenha acesso a esse tipo de medicamento. São medicamentos caríssimos, e essa é a importância da Fiocruz ajudar, que a gente tenha esses produtos, que possam estar ao alcance da população."
O coordenador da Fiocruz Ceará explica que o fato dos insumos serem produzidos no Brasil acaba por baratear o acesso a esses medicamentos. "E não é só baratear, mas ter o produto em si. Vejam no caso da Covid, o fato de a gente ter a produção em Manguinhos, no Rio, e no Butantã, em São Paulo, fez com que a gente pudesse ter vacina para toda a nossa população, além de baratear os custos", acrescenta.
Os estudos devem favorecer principalmente pacientes que necessitam de um tratamento para doenças como cânceres e a esclerose múltipla, entretanto, ainda não é possível precisar quando a população poderá usufruir desses benefícios.
LEIA TAMBÉM | Como estão as medidas contra Covid pelo mundo e o que podemos aprender
"Não há como precisar um tempo. Um dos ensinamentos que temos da pandemia é de que o processo poderá ser acelerado. Porém, existe um roteiro que você não pode sair dele. Uma vez o produto tendo condições de ser oferecido à população, isto é, ser produzido em boas práticas de produção, ele precisa ser avaliado e avalizado pela Anvisa", explica Wilson Savino, assessor especial da Fiocruz para a cooperação com instituições francesas.
Além dos benefícios na área de saúde, Savino explica que a parceria marca "uma etapa muito importante de internacionalização da ciência do Estado", já que a Fiocruz Ceará passa a ser mais um braço do Instituto Pasteur. Por fim, o assessor destaca os benefícios financeiros que a pesquisa pode trazer ao País.
"Uma vez aprovado (um medicamento) para uso clínico, faz com que o Brasil tenha autonomia para esse tipo de remédio, que traria uma economia nacional importante na balança comercial, além de ajudar no combate à doença", finaliza.