Mesmo com 13 açudes sangrando, situação hídrica do Ceará ainda preocupa
Reservatórios que atingiram capacidade máxima são de pequeno porte e têm pouca influência sobre o quadro hídrico geral do Estado
21:38 | Mar. 24, 2022
O Ceará atingiu, nesta quinta-feira, 24, a marca de 13 açudes que já ultrapassaram a capacidade máxima de armazenamento. Com as recentes chuvas registradas no Estado, mais três reservatórios começaram a sangrar nesta semana: Itapebussu, em Maranguape, Muquém, em Cariús, e Angicos, em Coreaú. As informações constam no Portal Hidrológico do Ceará, gerenciado pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
Os outros dez açudes que já haviam vertido suas águas são: Caldeirões (Saboeiro), Gameleira (Itapipoca), Germinal (Palmácia), Rosário (Lavras da Mangabeira), Itaúna (Granja), Ubaldinho (Cedro), Do Coronel (Saboeiro), Tijuquinha (Baturité), Quandú (Itapipoca) e Acaraú Mirim (Massapê). O quadro atual é bem melhor do que março do ano passado, quando apenas quatro açudes estavam sangrando no Estado.
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Além dos açudes que já transbordaram, outros seis estão com volume acima de 90% e podem atingir a mesma condição nos próximos dias caso as recargas hídricas continuem aumentando. O mais próximo de atingir a sangria é a Barragem do Batalhão (97,94%). Os açudes de Sobral (96,12%) e do Valério (95,53%) também concentram bons níveis de reserva. Completam a lista o Mundaú (93,7%), Batente (92,95%) e Gavião (92,51%).
Mesmo com um bom número de açudes sangrando ou na iminência do transbordo, o Ceará ainda vive um cenário de escassez hídrica. Considerando os 150 açudes monitorados pela Cogerh em todo o Estado, o volume médio chega a apenas 26% da capacidade. Atualmente, pelo menos 55 reservatórios registram níveis de reserva inferiores a 30%, patamar classificado pela Cogerh como “estado de alerta”.
O geógrafo Bruno Rebouças, que também é diretor de operações da Cogerh, comenta que os números registrados até agora indicam que as recentes sangrias dos reservatórios não provocaram impactos expressivos no quadro hídrico do Estado.
“Esses açudes que estão sangrando no momento são de pequeno porte, então são açudes que enchem mais rápido e também secam mais rápido. Ou seja, eles não têm tanta resiliência a períodos longos de estiagem. Eles têm importância local, mas no acumulado de uma forma geral a contribuição deles é pequena. Se você somar todos os açudes que estão sangrando hoje, não dá o volume do Castanhão”, explica Rebouças.
Segundo o Portal Hidrológico, os 13 reservatórios que atualmente estão transbordando no Ceará somam, juntos, um aporte de 322 milhões de metros cúbicos (m³). Como observado pelo especialista, o número é menor do que a recarga do Castanhão, maior reservatório do Estado. O açude concentra cerca de 859 milhões de m³, volume que corresponde a 12,83% da sua capacidade total.
Volume morto
Mesmo com as chuvas já registradas neste ano, o Ceará contabiliza 17 açudes com nível hídrico abaixo de 5%, o chamado volume morto. Um deles é o conhecido açude de Cedro, em Quixadá, que tem capacidade para acumular até 226 milhões de m³. Até a noite desta quinta-feira, 24, o aporte registrado chegava a apenas 0,01%.
O quadro preocupante, no entanto, não é novidade. O reservatório enfrenta grave escassez desde 2016, ano em que chegou a ficar completamente seco. Devido à irregularidade das recargas, as águas da barragem deixaram de ser utilizadas para abastecimento humano ainda em 2009. A água que chega às torneiras dos quixadaenses é proveniente de uma adutora construída no século passado. Em tempos de alta demanda, o consumo é feito mediante sistema de racionamento.
Além do açude de Cedro, também estão em situação de colapso os seguintes reservatórios: João Luís (4,85%), Várzea do Boi (1,85%), Cipoada (1,45%), Fogareiro (3,59%), Monsenhor Tabosa (0,0%), Pedras Brancas (2,75%), Quixeramobim (1,42%), Serafim Dias (0,4%), Umari (3,28%), Jerimum (0,55%), Salão (3,15%), São Domingos (2,89%), Sousa (0,01%), Madeiro (0,06%), Riacho da Serra (3,24%) e Pompeu Sobrinho (2,27%).
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