Espécie venenosa que come animais marinhos, peixe-leão é encontrado em águas rasas do CE

Considerado um predador agressivo, o peixe-leão pode causar elevados prejuízos ambientais e socioeconômicos, sendo também considerado uma das espécies invasoras de maior risco global

19:36 | Mar. 17, 2022

Por: Marília Serpa
Pescador Sergio após captura do peixe-leão no norte do litoral do Ceará (foto: Tommaso Giarrizzo/Arquivo pessoal)

Oito peixes-leão (lionfish), espécie peçonhenta e predador agressivo de outros peixes e invertebrados marinhos, foram capturados em águas rasas no norte do Ceará, nos dias 12 e 14 de março. O animal representa uma ameaça às águas rasas do Nordeste brasileiro por ser capaz de causar elevados prejuízos ambientais e socioeconômicos, sendo também considerado uma das espécies invasoras de maior risco global.

As capturas ocorreram durante uma expedição em parceria com 12 pesquisadores, realizada sob a coordenação do Centro de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), sendo liderada por Marcelo Soares, pesquisador do Labomar, e tendo coordenação de campo do pesquisador Tommaso Giarrizzo.

Dos oito peixes-leão capturados no Norte do Ceará, um foi encontrado no município de Camocim, enquanto os outros sete foram achados em Acaraú, Cruz e no Parque Nacional de Jericoacoara. Esta é a quarta captura da espécie peçonhenta no Brasil, na qual foi identificada até agora a maior concentração do animal invasor no litoral brasileiro.

A espécie possui 18 espinhos venenosos, que podem provocar acidentes com banhistas, e não possui predadores naturais. Além disso, o peixe-leão se reproduz rapidamente e consegue sobreviver em diferentes habitats, alcançando grandes profundidades no mar, que variam de um a 100 metros, tornando seu manejo difícil. Ainda, a reprodução do animal pode acontecer também em águas profundas.

Para capturar os peixes-leão, os pesquisadores receberam auxílio do grupo do pescador e mergulhador Alexandre Carvalho. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) também colaborou com a expedição. Foi a primeira vez que a espécie foi encontrada no litoral cearense, sendo a ocorrência em água mais rasa registrada no Brasil, já que os animais foram achados em profundidades que variaram de um a nove metros.

No total, mais de dez espécimes já foram registrados no litoral do Nordeste, sendo encontrados nos municípios de Luís Correia e Cajueiro da Praia, no Piauí, e em Camocim, Acaraú e Jijoca de Jericoacoara, no Ceará. Para o pesquisador Marcelo, é preocupante que a espécie tenha sido encontrada em ambientes rasos, pois pode significar que o animal já está espalhado por outras regiões do País.

Marcelo também explica que os resultados obtidos durante a expedição mostram que o processo de invasão pode acontecer de maneira rápida, afetando a biodiversidade local, a pesca artesanal e o turismo, podendo também ser considerado um problema de saúde pública. O detalhamento das capturas será submetido a uma revista científica internacional.

O pesquisador Tommaso Giarrizzo acredita que ações de gestão ambiental precisam ser tomadas de forma imediata, levando em conta que a região afetada é detentora da maior parte dos recifes de corais do Atlântico Sul e de um alto nível de endemismo, fator que aumenta os riscos de ameaça às espécies nativas brasileiras. 

Os pesquisadores também chamam atenção para uma necessidade urgente de ação do Governo Federal por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e ICMBio no mar brasileiro, em parceria com as Universidades, Marinha do Brasil, ONGs, comunidades costeiras, pescadores e mergulhadores para o combate imediato da espécie.

A atenção maior, no entanto, deve ser voltada para os municípios onde o peixe-leão foi encontrado e em novos locais para fins de prevenção. Caso a espécie seja avistada, informações podem ser passadas para o Sistema Integrado de Manejo de Fauna (Simaf), por meio do site, ou, ainda, pelo e-mail da Secretaria do Meio Ambiente (Sema): cientistachefesema@gmail.com.

Peixe-leão no Brasil

Dois peixes-leão foram capturados no Rio de Janeiro nos anos de 2015 e 2016. Não foi confirmado, no entanto, se foi uma invasão natural ou soltura de exemplares do mercado ornamental. Mais recentemente, em 2020, no arquipélago de Fernando de Noronha, um animal da mesma espécie foi capturado vivo via mergulho autônomo.

No mesmo ano, outros dois peixes-leão foram capturados nos recifes da foz do rio Amazonas, entre os estados do Amapá e Pará, por meio de pesca. Atualmente, já foram avistados e capturados mais de 50 animais da espécie peçonhenta em ambas as regiões, confirmando a invasão do peixe-leão em águas brasileiras.