Ceará tem 178 defensores públicos abaixo do ideal, aponta associação
Para a Associação das Defensoras e dos Defensores Públicos do Estado do Ceará (Adpec), o baixo orçamento e o número reduzido de servidores tem relação com os dados apresentadosO Ceará lida com deficiência de 178 defensores públicos em atuação no Estado, de acordo com levantamento divulgado em relatório da Associação das Defensoras e dos Defensores Públicos do Estado do Ceará (Adpec). A quantidade refere-se à relação ideal entre o número de defensores e o público alvo atendido pelo órgão — 10 mil pessoas a cada defensor, de acordo com recomendação do Ministério da Justiça (MJ).
Atualmente, 346 defensores públicos estão em atuação no Ceará, o que representa pouco mais de 14 mil pessoas para cada profissional. A situação é ainda mais preocupante em algumas regiões do Ceará, em que a proporção sobe para mais de 100 mil pessoas por defensor. O caso mais grave acontece no Litoral Oeste/Vale do Curu, onde atuam somente dois defensores e 200 mil pessoas do público alvo são atendidos por um profissional. Já no Maciço do Baturité e no Sertão de Crateús, as proporções são de 174 e 118 mil pessoas por defensor, respectivamente.
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A única área que cumpre a recomendação do MJ, com cinco mil pessoas por defensor, é a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). No relatório, a Adpec pondera ainda que outros fatores que geram impacto na carga de trabalho do defensor devem ser considerados para ranquear a urgência de defensores nas macrorregiões, como o nível de complexidade dos processos e a frequência das ocorrências.
O número de funcionários efetivos também é um ponto destacado pela análise da associação. São apenas quatro servidores na Defensoria, enquanto o Ministério Público conta com 561 pessoas e o Poder Judiciário com 3.064. Em pesquisa recente, 66,7% dos defensores públicos cearenses classificaram o volume de trabalho sob sua responsabilidade como excessivo ou muito excessivo. “Essas informações evidenciam que o ônus do diminuto quadro de apoio recai sobre os defensores ativos”, aponta o relatório.
A presidente da Adpec, Andrea Coelho, defende ainda que o orçamento destinado ao órgão tem relação com o número de defensores estar abaixo do ideal. “Para esse ano de 2021, houve um aumento de 2% no orçamento para a Defensoria, comparado ao ano anterior. Ainda assim, o valor é inferior ao investido no Poder Judiciário e no Ministério Público. Pegando o período de 2016 a 2020, o crescimento orçamentário da Defensoria é quase a metade do Ministério Público e menos de um quarto do Poder Judiciário”, argumenta.
Aumento nos últimos anos
Apesar disso, o relatório aponta que o número de defensores teve um aumento significativo nos últimos — foi um acréscimo de 22,5% entre os anos entre 2014 e 2020. No total, o Ceará tem 467 cargos de defensor público, mas 121 deles não estão ocupados. Em julho deste ano, a Defensoria Pública aprovou regulamento para concurso público para defensor público. A expectativa é de que o edital com 117 vagas seja lançado ainda este ano. A remuneração inicial da carreira é de R$ 26,1 mil.
Além do provimento de novos cargos, a Adpec sugere ainda que a prática de respondência seja implementada. A estratégia permite que os defensores atuais recebam pagamento de gratificações para que possam expandir sua área de atuação. “Isso pode amenizar a necessidade de advogados dativos (que exerce o papel de defensor, sem ser nomeado para função)”, aponta o documento.
A Emenda Constitucional n° 80, de 2014, estabelece ainda que a União, os Estados e os municípios tinham um prazo de oito anos para contar com defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais. Conforme os cálculos da Adpec, é necessário um acréscimo anual de R$ 41 milhões para a contratação dos profissionais para ocupar as vagas exigidas, assim como a seleção de estagiários e da equipe de apoio.
Vagas de novo concurso podem suprir exigências de Emenda Constitucional, diz defensora geral
Em nota enviada ao O POVO, a defensora geral do Ceará, Elizabeth Chagas, defendeu que a situação está evoluindo nos últimos anos. "Estamos a todo vapor com o novo concurso que vamos lançar até o fim deste ano. Hoje temos 121 cargos a serem ocupados que, respeitando o limite orçamentário e teto de gastos, poderemos ampliar a nossa capilaridade de atuação, sobretudo, no interior”, analisa. Ela ressaltou que o órgão pode cumprir inclusive o estabelecido com a Emenda Constitucional nº 80, com as vagas do novo certame.
“A Defensoria é a mais nova instituição do sistema de justiça cearense, completando 25 anos em 2021. Temos muito ainda por fazer dentro do nosso planejamento de ações, trazendo novos projetos, expandido nossa atuação e com o aperfeiçoamento do atendimento, sempre lado a lado com os movimentos sociais nas causas do povo”, acrescenta Elizabeth.
Nacionalmente, a ampliação da atuação da Defensoria Pública também é observada, conforme o II Mapa das Defensorias. Em 2013, o órgão estava presente em 2013 em apenas 28% das comarcas do país. Agora, com base em dados de 2019/2020, está em 42%. São 6.235 defensores e defensoras pelo dado mais atual (contra os 4.500 membros de oito anos atrás).
“Isso significa que em mais de 50% das comarcas do Brasil a população não tem direito de acesso à justiça. Nós precisamos de, pelo menos, mais 4.700 defensores em todo o Brasil para atendermos a toda a população. É preciso compreender que fortalecer a Defensoria não é um fortalecimento pro defensor. É pra população. Pro Brasil. Pra nossa democracia”, afirma Rivana Ricarte, presidente da Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep).
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