Cerca de mil pessoas esperam por um transplante de órgão no Ceará

Dia Nacional do Doador de Órgãos, celebrado no dia 27 de setembro, reuniu famílias envolvidas com a causa em Fortaleza

Em meio ao setembro verde, período em que se busca trazer mais visibilidade à questão da doação de órgãos no Brasil, o Instituto Doutor José Frota (IJF) promoveu a 9ª Edição do Encontro das Famílias Doadoras, nos jardins do Centro Cultural Casa Barão de Camocim, em Fortaleza.

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De acordo com a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), o Ceará possui 1.005 pessoas à espera de um transplante. Em 2021, até o último dia 23, 1.002 transplantes já foram realizados no Estado. O número ainda é menor do que os registrados nos últimos dois anos. Em 2020, 1.122 transplantes foram realizados. Já em 2019, 1.616 pessoas foram contempladas.

Entre os transplantados e as pessoas que ainda aguardam a sua vez na fila de espera, a esperança em dias melhores é pregada a todo momento. A auxiliar de enfermagem Laurenice Oliveira, 61, pede que as pessoas que estão na fila não percam a fé.

"Tenham fé e confiem, porque um dia vai chegar a vez de vocês, assim como chegou a minha. Graças a Deus, encontrei um doador", conta Laurenice, que foi transplantada em 2019, após receber um diagnóstico em 2017 de que estava com seus dois rins comprometidos.

Diante da nova chance de viver que recebeu após o transplante, ela relata que não esquece do nobre gesto praticado pelo seu doador e familiares.

"Agradeço a Deus todos os dias. Todas as noites eu rezo pela família do meu doador e por ele. Não é fácil o processo da hemodiálise, tem dia que sai tudo muito bem, mas em outros dias você passa mal", relata.

A doação de rim é a que possui maior demanda entre os pacientes. De acordo com a Sesa, os principais órgãos transplantados no Ceará são rim e fígado. Com relação aos tecidos, o transplante de córnea é o mais realizado. Desde dezembro de 2016, o Estado zerou a fila de transplante de córneas.

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Entre as pessoas que aguardam a oportunidade de uma nova vida está a jovem Lara Cavalcante, 22. A estudante de Engenharia Química realizou uma apresentação musical no evento realizado pelo IJF, ao lado de outros colegas que também precisam hemodiálise.

"Estou na hemodiálise há um ano e seis meses. Eu descobri a doença renal há quase oito anos, uma doença autoimune que afeta os rins. Eu vim tratando com medicamento e me preparei muito para esse momento", relata.

Setembro verde e setembro amarelo

 

A jovem destaca a importância do mês de setembro em suas duas vertentes, no incentivo à doação de órgãos e no combate ao suicídio. Lara ressalta também a importância do cuidado com o próximo.

"O setembro verde e o setembro amarelo são duas cores que representam muito a valorização da vida. Representam muito o quanto a gente precisa das pessoas. Precisamos do apoio, que as pessoas se mobilizem por essas causas", comenta.

Para que o número de transplantes volte a subir no Ceará é preciso uma grande colaboração de todos os setores. O primeiro passo é tornar o tema mais debatido no meio social,  como explica a médica Riane Azevedo, superintendente do IJF.

"A informação tem desmistificado a questão da doação. Às vezes, as justificativas e as dificuldades colocadas para não doar são, de certa forma, inapropriadas. Mas nós respeitamos. Isso tem sido cada vez mais debatido".

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Renovação das esperanças

 

Eliana Barbosa, médica nefrologista e coordenadora da Central de Transplantes do estado do Ceará, relata que o mês de setembro renova as esperanças daqueles que ainda seguem na espera de um novo órgão.

"Temos em torno de mil pacientes na nossa fila. Eles ficam muito felizes quando chega o setembro verde, porque a esperança deles aumenta. Já que a gente intensifica as campanhas em prol da doação", explica.

De acordo com Barbosa, o Ceará segue na quarta colocação no ranking nacional em número de doadores efetivos por milhão da população. "O Ceará não parou as doações nem os transplantes durante a pandemia, coisa que aconteceu em outros estados. Não teremos ainda os mesmos números de 2019, mas continuamos na luta", explica.

O aposentado Diógenes Lima, 50, faz questão de destacar o tempo passado desde a data do seu transplante, quando questionado sobre a sua idade.

"Eu tenho 50 anos, com cinco anos, um mês e três dias de transplante cardíaco. Pra mim, não é setembro verde, é o ano todo verde. Quero que sempre tenhamos pessoas sendo transplantadas e tendo qualidade de vida. Enquanto eu tiver vida, meu propósito é esse, pedir que as pessoas doem", finaliza.

O IJF informou que, em 2020, aproximadamente 50% dos órgãos disponibilizados para transplante no Ceará foram encaminhados por meio da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do hospital.

No último ano, 201 famílias atendidas no hospital aceitaram realizar a doação, o número é relevante diante da ascensão da pandemia durante o ano de 2020. Em 2019, 245 famílias toparam realizar a doação dos órgãos de algum familiar.

Em 2021, até o momento, 140 famílias permitiram a doação dos órgãos de seus parentes. Em agosto, 92% das famílias acolhidas pelo IJF autorizaram a realização do procedimento, o número é o mais positivo se comparado com o dos últimos 20 meses.

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