Com protocolo sanitário rígido, Ceará realiza primeiro evento-teste e ensaia retomada do setor cultural
Guaramiranga, primeira cidade a vacinar 100% da população adulta, ainda em junho, foi escolhida para sediar o primeiro evento-teste do Ceará
12:04 | Set. 18, 2021
O município de Guaramiranga, na região do Maciço do Baturité, sediou na noite dessa sexta-feira, 17, o primeiro evento-teste do Ceará com presença de público desde o começo da pandemia. Com participação limitada a 200 pessoas, o Festival de Jazz & Blues trouxe de volta ao palco artistas que não se apresentavam para uma plateia, ainda que em número reduzido, há mais de um ano e seis meses. O acesso ao local foi condicionado a um rigoroso protocolo sanitário, que incluiu exigência do “passaporte de vacinação” e teste negativo para Covid-19.
Até as 24 horas que antecederam o evento, todos os participantes e colaboradores envolvidos na organização, além da imprensa, tiveram que se submeter a exames do tipo RT-PCR em estabelecimentos da rede estadual de Saúde. Outra exigência foi a apresentação do cartão de vacinação com esquema de imunização completo (duas doses ou dose única). Com os requisitos cumpridos, o público teve acesso a um QR code, utilizado como ingresso virtual para acesso ao local dos shows.
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Para controlar a entrada e saída de pessoas no município, a Prefeitura montou duas barreiras sanitárias na entrada principal da cidade. O acesso foi liberado apenas para moradores e adultos maiores de 18 anos que apresentassem o cartão de vacinação e teste negativo para Covid-19. A fiscalização contou com o apoio das Polícias Militar (PM-CE), Rodoviária Estadual (PRE), Ambiental, do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur) e da equipe do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio).
Dentro do evento, o uso de máscaras N95 e PFF2, consideradas mais seguras na proteção contra a Covid-19, foi obrigatório para todos os presentes, exceto para os artistas durante as apresentações. Para evitar que os participantes retirassem o item de proteção, o consumo de bebidas alcoólicas e de alimentos foi proibido durante toda a festa, que começou por volta das 19h00 e se estendeu até 00h00.
A estrutura do palco foi montada dentro do estádio municipal de Guaramiranga, local aberto e com amplo espaço para a garantia do distanciamento social entre os presentes. A plateia foi acomodada em cadeiras dispostas a 2 metros umas das outras, distância recomendada pelas autoridades sanitárias. O contato físico entre artistas e público não foi permitido.
Para o empresário Augusto Pontes, 52, que diz participar do Festival desde a primeira edição (em 2000), a comparação do formato atual com os anos anteriores foi inevitável. “É tudo muito diferente. Nas outras edições era uma loucura, filas de carros, de pessoas, muita gente mesmo. Essa está sendo uma experiência totalmente atípica em relação às anteriores, mas mesmo assim já é um grande avanço, tendo em vista todas as dificuldades trazidas pela pandemia”, comentou.
Segundo a organização do evento, na pré-pandemia a média de público do Festival costumava variar entre 15 a 20 mil pessoas, mais que o triplo do número de habitantes da cidade, que chega a 5.073, segundo estimativa recente divulgada pelo IBGE.
A produtora Maria Amélia Mamede, responsável pela logística do evento, ressaltou que, apesar do formato diferenciado, não houve resistência dos participantes em relação ao cumprimento dos protocolos de segurança. Para ela, a experiência do Festival confirma que o setor de eventos pode retomar suas atividades de forma segura, mesmo em meio à crise sanitária.
“É um desafio, principalmente para o público, mas as pessoas conseguiram compreender que o momento é diferente e exige outro tipo de comportamento. O mais importante desse evento é mostrar que a gente tem condições de trabalhar, independentemente do estágio de circulação do vírus. A nossa cadeia produtiva pode seguir os protocolos, assim como outros setores, e retomar aos poucos as atividades. É uma necessidade, porque já estamos parados há mais de um ano e seis meses”, pontuou a produtora.
Segurança sanitária e o retorno aos palcos
O POVO ouviu vários participantes do evento para saber se eles se sentiam seguros em relação às medidas de segurança adotadas pelos organizadores e autoridades sanitárias. As respostas foram praticamente unânimes: “Desde o começo do processo, me senti muito segura. Principalmente pelo cuidado em relação à vacina, o teste, e hoje o controle na entrada da cidade e aqui no evento. A gente percebe que o distanciamento das cadeiras está bem organizado”, disse a empresária Neide Amorim.
“Como já tomei as duas doses da vacina e costumo seguir à risca essa questão dos protocolos, isso me dá uma certa segurança para estar aqui, mas claro, ainda é preciso um pouco de cuidado, porque o vírus não acabou”, contou a educadora Naiara Fernandes.
Para a cantora e compositora Fladiana Ruiz, uma das atrações do evento, a volta ao palco e o reencontro com a plateia proporcionou um misto de sentimentos. “Estar no palco antes era uma coisa comum para nós, artistas, mas hoje foi muito diferente e emocionante. É muita alegria a gente ver o pessoal da técnica, do som, viver novamente esse ambiente de show, mesmo em uma circunstância ainda restrita. A gente espera que esses eventos sejam um sucesso e que a gente possa, aos poucos, e com segurança, retomar as atividades desse setor tão importante para nós, não só para os artistas, mas para o público também”, comentou a artista.
O também cantor e compositor Marcos Lessa, outro artista que subiu ao palco para se apresentar no evento, contou como foi a experiência de reencontrar com o público e reviver os shows presenciais, embora em condições ainda limitadas. “Ver novamente, depois de mais de um ano, essa estrutura de palco, luz e som, pegar uma van para viajar com a minha equipe, ensaiar... isso traz para a gente uma esperança de que estamos voltando. O sentimento que nos toma agora é a alegria”, disse o músico.
Monitoramento posterior
De acordo com Ricristhi Gonçalves, secretária executiva da Sesa, assim como o Festival de Jazz e Blues, em Guaramiranga, o Ceará deve realizar mais eventos-testes em várias regiões do Estado até o fim do ano. O objetivo, segundo ela, é avaliar se há condições epidemiológicas para o retorno seguro dos eventos com grande participação de público.
"Os eventos-testes são para que a gente consiga ver o comportamento da doença na região onde está acontecendo o evento e em seu entorno. Primeiro, o evento tinha que se credenciar e os protocolos devem estar em consonância com os protocolos do Governo do Estado. As pessoas têm que vir de máscara, têm que ser testadas antes e precisam estar vacinadas. A partir dos resultados obtidos aqui, vamos estudar quais medidas deverão ser tomadas para o retorno dos eventos com maior número de pessoas. Claro que é um processo gradativo e que vai exigir muita cautela", explicou a representante da pasta.
Ainda conforme a secretária, todos os participantes dos eventos-testes serão monitorados pelas Vigilâncias Epidemiológicas dos Municípios e do Estado por 21 dias após o comparecimento aos shows. No acompanhamento, os técnicos da Saúde irão avaliar os possíveis impactos do novo coronavírus em quem participou dos eventos. Quem apresentar sintomas da doença precisará se submeter a novos testes.
Confira um resumo do protocolo sanitário adotado no Festival de Jazz e Blues:
Vacina
Comprovar, com o cartão de vacinação, ter recebido as duas doses ou a dose única da vacina contra Covid-19.
Teste
Testagem obrigatória realizada em locais determinados pela produção do evento e Secretaria de Saúde do Estado (Sesa).
Acesso
Os testes de Covid-19 foram realizados entre 48h e 24h antes do show. Com o resultado negativo, os participantes receberam um QR com permissão de acesso ao local do evento.
Monitoramento
Todo o público precisou fornecer suas informações pessoais (nome completo, data de nascimento, telefone, CPF e email) e assinar um termo de consentimento, concordando com monitoramento e, caso necessário, nova testagem, pela Sesa, até 21 dias após o evento.
Alimentação
Foi proibida a entrada de pessoas com alimentos ou bebidas para consumo interno.
Máscara
Exigência de máscara cirúrgica (N95 ou PFF2) para todos os participantes, trabalhadores, imprensa e artistas que se apresentaram no evento.
Programação
Nesta sexta, 17, primeira noite do Festival, subiram ao palco Fladiana Ruiz e Quarteto Jazzera, com o show "Meu Lugar"; O trombonista Rômulo Santiago com "Tributo a Raul de Souza"; e o cantor cearense Marcos Lessa com o show "Nature Boy - Tributo a Nat King Cole." Já neste sábado, 18, no encerramento, a cantora Idilva Germano se apresenta com o show "Quasar" e o pianista Ricardo Bacelar finaliza os shows com o espetáculo "O Viver é de Improviso".
Além da programação presencial, todas as atividades do evento também estão sendo transmitidas pela internet, através do canal do Festival Jazz & Blues no Youtube.