Uma a cada cinco meninas cearenses afirma já ter sofrido violência sexual, aponta IBGE

Dentre as capitais brasileiras, Fortaleza foi a que registrou o percentual mais elevado de jovens que já sofreram algum tipo de abuso sexual. O recorte é de adolescentes entre 13 e 17 anos

16:34 | Set. 10, 2021

Por: Gabriel Borges
PESQUISA do IBGE aponta que 21,6% das meninas cearenses de 13 a 17 anos foram vítimas de algum tipo de violência sexual (foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

Os dados apresentados pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram números alarmantes no quesito da violência sexual contra adolescentes no Ceará. Uma a cada cinco meninas cearenses, entre 13 e 17 anos, afirma já ter sofrido algum tipo de violência sexual. O levantamento realizado em 2019, que ouviu jovens entre 13 e 17 anos, foi divulgado nesta sexta-feira, 10. 

O Ceará apresenta os números mais preocupantes dentre todos os estados do Nordeste, pois o Estado apresentou o percentual mais elevado dentre os nove estados da região. Depois do Ceará, com 15,6% dos jovens já tendo sofrido algum abuso sexual, estão Maranhão (14,2%), Rio Grande do Norte (13,9%) e Pernambuco (13,7%).

Em relação aos casos de violência sexual, 21,6% das entrevistadas cearenses alegam ter sido tocadas, manipuladas, beijadas ou ter tido alguma parte do corpo exposta sem consentimento.

Levando em consideração as 27 capitais brasileiras, Fortaleza foi a que apresentou o índice mais alarmante. 19,5% dos entrevistados afirmaram que alguém, alguma vez na vida, tocou, manipulou, beijou ou expôs partes do próprio corpo deles contra a sua vontade, levando a Capital cearense a ter o índice mais elevado do País.

Depois de Fortaleza, as capitais brasileiras com maior percentual de algum tipo de abuso contra adolescentes foram: Macapá (19,1%), Palmas (17,7%), Boa Vista (17,6%) e São Paulo (com o mesmo percentual de 17,6%).

De acordo com a pesquisa, 26,3% das meninas, de 13 a 17 anos, entrevistadas em Fortaleza, já sofreram algum tipo de abuso. Já entre os meninos entrevistados, o percentual foi de 12,5%.

Os resultados apresentados apontaram que as meninas são as principais vítimas de violência sexual na adolescência, com 21,6% das entrevistadas cearenses já tendo passado por algum abuso.

Entre os meninos cearenses, 9,2% dos adolescentes ouvidos pelo IBGE relataram ter sofrido algum tipo de violência sexual. No geral, 15,6% dos estudantes do Ceará de 13 a 17 anos narraram já ter sofrido algum tipo de abuso sexual pelo menos uma vez na vida.

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Relação sexual forçada 

Outro dado preocupante é que cerca de uma a cada dez meninas cearenses (9,5%) relata já ter sido forçada a ter algum tipo de relação sexual. A pesquisa revelou, ainda, que os agressores costumam já possuir alguma proximidade com suas vítimas.

Entre todos os entrevistados no Ceará, 7,1% dos adolescentes (meninos e meninas) disseram já terem sido obrigados a ter relações sexuais contra a sua vontade. O percentual também é o maior dentre todos os estados nordestinos.

O número de meninos vítimas desse tipo de abuso é de 4,7%, número inferior aos 9,5% registrados entre as garotas. De acordo com a pesquisa, o número de casos na rede pública é de 7,5%, sendo 2,5% superior aos casos na rede privada de ensino.

Os parceiros, namorado(a), foram apontados como os principais autores (25,1%), seguido por outro familiar (23,9%).

Agressor

Em um contexto mais amplo da violência sexual, onde não necessariamente ocorra uma relação sexual forçada, o número de casos entre estudantes da rede privada de ensino é superior ao da rede pública no Ceará. 17,8% dos entrevistados de escolas particulares relatam já terem sofrido algum tipo de abuso. Na rede pública, 15,2% dos jovens já foram vítimas de violência sexual.

Segundo os dados do IBGE, os adolescentes no Estado, vítimas de algum tipo de violência sexual, apontaram que tiveram algum amigo como agressor em 30% dos casos. 28,8% dos entrevistados sofreram algum tipo de violência sexual por parte do(a) namorado(a), outros 20,9% foram praticados por desconhecidos.

O número de casos dentro do ambiente familiar também chama a atenção. Os entrevistados, vítimas de algum tipo de violência sexual , responderam que em quase 17% dos casos, o autor do abuso foi algum familiar. Em 6,3% dos casos, o agressor foi o pai, a mãe ou algum outro responsável pelo jovem.

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O IBGE ressalta que "os casos de violência sexual podem ter ocorrido mais de uma vez e, inclusive, ter sido praticado por pessoas diferentes, os escolares puderam identificar mais de um autor no questionário".

Pesquisa

Em um âmbito geral da pesquisa, levando em consideração o número total de entrevistados no País, a média nacional de jovens entre 13 e 17 anos que passaram por algum tipo de violação sexual chegou a 14,6%. O que mostra que o percentual de vítimas no Ceará superou a média nacional em 1%.

A pesquisa ouviu estudantes do 7º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio em todo o Brasil. Ao todo, 11,8 milhões de jovens de 13 a 17 anos, dos quais 7,7 milhões tinham de 13 a 15 anos e 4,2 milhões, de 16 ou 17 anos.

De acordo com o IBGE, 5,8 milhões (49,3%) são meninos e 6 milhões (50,7%) são meninas. Entre os entrevistados, 10,1 milhões (85,5%) estudavam em escolas públicas e 1,7 milhão (14,5%) em escolas privadas.

A pesquisa apresenta dados sobre a saúde dos jovens brasileiros, além de apresentar informações sobre hábitos e autoimagem. De acordo com Cristiane Soares, uma das analistas da PeNSE, a pesquisa ajuda a traçar um panorama de casos que muitas vezes não são reportados.

“Dessa forma, conseguimos captar melhor as informações sobre casos de violência sexual que, normalmente, não chegam a ser reportados a nenhuma autoridade ou figura de autoridade, principalmente no caso de menores de 18 anos, que, em geral, não sabem a quem recorrer.”

De acordo com o IBGE, o método de coleta de informação da PeNSE é realizado por meio de um dispositivo móvel utilizado pelo próprio adolescente. A pesquisa garante o anonimato e a individualidade de quem responde às perguntas.

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