7 membros de facção viram réus por participação na chacina do Boqueirão das Araras, em Caucaia

Decisão atende denúncia apresentada pelo Ministério Público do Ceará, com base no inquérito da Polícia Civil

A Justiça do Ceará acolheu denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) e tornou réus sete integrantes de uma facção criminosa acusados de participação na chacina do Boqueirão das Araras, distrito de Caucaia, que resultou na morte de cinco pessoas no último dia 31 de julho. A decisão foi publicada nesta terça-feira, 17, pela Vara Única do Júri da Comarca de Caucaia, menos de 24 horas após o encaminhamento da peça acusatória pelo órgão ministerial.

Segundo a denúncia, a qual O POVO teve acesso, o crime foi motivado por disputa de território entre dois grupos rivais, que disputam o controle do tráfico de drogas em zonas periféricas do município. O promotor de justiça responsável pelo caso, Elton Wanderley Leal, classifica a chacina como mais um episódio da “sangrenta escaramuça [batalha] entre facções e subfacções criminosas com atuação em Caucaia”.

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O conflito, segundo o documento, decorre de um processo de dissidência dentro da facção Comando Vermelho (CV), que deu origem a um outro bando chamado de "Tropa do Mago". Desde a ruptura, em meados de junho último, integrantes dos dois grupos travam uma verdadeira guerra pelo domínio de áreas em que há forte incidência do comércio ilegal de drogas e de armas em Caucaia. Segundo o promotor, a matança teria sido planejada e executada por um bando subordinado ao CV, conhecido como ''Tropa do Vaqueirim''.

“Como se não fosse suficiente a brutalidade da ação, os delatados [denunciados] ainda gravaram um vídeo das vítimas mortas nos vários ambientes da residência palco do crime, registro este disponível nos autos [do processo], tendo pichado a sigla CV e o nome de 'Vaqueirim' no muro da residência, com isso deixando manifesta a motivação torpe [...] eis que às escâncaras cuidou-se de demarcação de dominação criminosa de território”, argumentou Leal. Ainda segundo o promotor, “a autoria e materialidade delitiva se acham suficientemente comprovadas através dos elementos de convicção coligidos [agrupados] e demais provas colhidas”.

Os alvos da denúncia são Antônio Michael da Silva Nogueira, 18, Diones Rosa de Carvalho, 28, João Pedro de Oliveira Sousa, 21, Francisco Vilmar Brito da Silva, 30, Leandro Moreira Vítor da Silva, 27, Mickael Gomes de Oliveira, 19, e Raimundo Cleiton Ferreira da Costa, 24. Com o acolhimento da denúncia pela Justiça, os sete acusados, que já estão presos, serão levados a julgamento no Tribunal do Júri, que terá seu rito definido pela Comarca local.

Eles vão responder pelos crimes de organização criminosa, associação para o tráfico, roubo, homicídio, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo e corrupção de menores, pois há indícios da participação de pelo menos um adolescente no crime.

Chefe de facção 

A denúncia enviada pelo MPCE à Justiça não cita Domingos Costa Miranda, 38, apontado no inquérito da Polícia civil como chefe do CV no Ceará e um dos possíveis mandantes da chacina, preso no último dia 9. Em depoimentos, pelo menos cinco suspeitos de participação no crime alegaram que os assassinatos foram planejados por Miranda, que, segundo duas das testemunhas, assumiu o comando de um grupo criminoso após a prisão do então chefe do bando.

O POVO também teve acesso ao relatório final das investigações. No documento, de 175 páginas, dois depoentes suspeitos — entre eles um adolescente de idade não revelada — relataram que a chacina não foi um fato isolado. Segundo eles, “diversos homicídios estão ocorrendo em Caucaia” por causa da disputa entre facções.

“As ordens [para assassinatos] são emanadas pelas chefias desses dois grupos criminosos, de dentro do sistema prisional cearense, onde eles determinaram aos seus subordinados que matassem qualquer um da organização criminosa rival, com o fim de se manter no controle da área”, detalha trecho do inquérito. Miranda, segundo os depoentes, é “braço direito” de um desses chefes de facção preso.

Apesar dos relatos colhidos nos interrogatórios, o MPCE afirma que não há elementos suficientes para indicar participação de chefes da facção na chacina. “[...] Apenas a indicação de que os representados fazem parte da cúpula do comando, não havendo elementos objetivos que os liguem diretamente à ação aqui apreciada, não é suficiente para provar a efetiva participação dos mesmos”, pontua o promotor.

 

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