Não existem mais organizações especializadas em ataque a bancos no Ceará, aponta delegado
Conforme a SSPDS, a redução desse tipo de delito aconteceu devido a trabalhos contínuos das forças de segurança do Estado, como o investimento da inteligência e a intensificação do policiamento na segurança das divisas
17:00 | Ago. 03, 2021
Não existem mais organizações criminosas cearenses que atuam com crimes a bancos e outras instituições financeiras no Ceará, conforme defendeu Rommel Kerth, titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), em entrevista ao O POVO. O número de ataques a bancos no Ceará diminuiu quase 80% entre 2018 e 2020 — passando de 41 casos para oito episódios — conforme estatísticas divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Em nota, a SSPDS defendeu que a redução é fruto dos trabalhos contínuos das forças de segurança do Estado. Além do policiamento ostensivo realizado por equipes das polícias Civil e Militar, a pasta enfatizou que tem feito investimentos estratégicos em inteligência e no reforço do policiamento das divisas do Ceará. Todas as ações, conforme a secretaria, são planejadas de acordo com dados obtidos pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp).
Kerth considerou que um dos pontos mais relevantes para reduzir os índices é a articulação com a inteligência policial de outros estados. Ele defende que isso permite que as forças de segurança cearenses possam se antecipar para combater esses criminosos que migram para o Ceará. “As quadrilhas que agiam (no Ceará) foram desmanteladas, muitos dos integrantes acabaram padecendo em confronto”, ressalta.
O delegado citou como exemplo o ataque recente a um carro forte que aconteceu na cidade de Piquet Carneiro, localizada a 297,8 km de Fortaleza, no início deste mês de julho. Na ocasião, somente um dos oito suspeitos, que tiveram a prisão solicitada pela polícia, é cearense. Com o avanço das ações, ele enfatiza que a tendência é que os criminosos passem a visar menos o Estado para crimes desse tipo.
Com intuito de agilizar o tempo de resposta em todo o território cearense, a SSPDS mantém bases fixas da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) em quatro municípios: Fortaleza, Quixadá, Juazeiro do Norte e Sobral. A Polícia Militar ainda realiza o policiamento focado nesse tipo de ocorrência em corredores bancários por meio do Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio) e da Força Tática (FT), que atuam integradas com os sistemas de videomonitoramento
Sobre isso, Rommel explica que em algumas cidades pequenas do Ceará o reduzido efetivo policial pode acabar atraindo mais criminosos e é necessária uma maior interiorização das forças. “O evento que ocorre no Interior é atacado pela delegacia local no primeiro momento, especialmente devido à distância e ao horário, normalmente de madrugada. Com mais recursos e um policiamento mais robusto conseguiríamos ter um resultado ainda melhor”, ressalta.
Um dos principais pilares para evitar novos delitos do gênero tem sido a desarticulação das organizações criminosas por meio da “asfixia econômica” da sua saúde financeira. Um dos pontos ressaltados são as prisões dos chefes desses grupos nos últimos anos, consideradas fundamentais para que a atuação dos grupos diminuísse. Um exemplo foi a prisão de Francisco Rivanildo Lima Sousa, atuante na cidades de Russas, a 171,1 km de Fortaleza.
Comunicação com inteligência dos bancos é um dos pilares para o combate ao crime organizado, argumenta delegado
Rommel Kerth também lembra que, além da comunicação com outras polícias, o diálogo com distintos setores da sociedade, como é o caso dos bancos, é um fator importante para que as ações tenham um planejamento mais efetivo. Ele explica que o contato com a inteligência dessas instituições possibilita ter noção de crimes do gênero que já são praticados em outros estados brasileiros e uma ocorrência semelhante no Ceará não surpreenda a polícia.
“Essa interação entre a polícia e as instituições financeiras é um facilitador tremendo, para que a gente possa acelerar o processo de investigação e até mesmo de prevenção pela Polícia Militar”, explica, enfatizando a dinâmica comunicação entre os setores, inclusive por meio de grupos nas redes sociais.
Carlos Eduardo Bezerra, presidente dos Sindicatos dos Bancários do Ceará, reconhece que nos últimos anos aconteceu uma melhora significativa da segurança no Estado. Ele pondera que isso se deve a avanços legislativos, tanto em âmbito municipal como estadual, que fizeram com que as instituições financeiras tenham aumentado progressivamente as suas medidas de segurança.
Em Fortaleza, por exemplo, há o Estatuto Municipal de Segurança Bancária, implementado pela Lei 9910/2012. O dispositivo garante, entre outras medidas, que os vidros das agências sejam resistentes a impactos e a disparos de arma de fogo e haja gravação simultânea permanente e ininterrupta das imagens de todas as câmeras. Já no caso de carros-fortes, é definido que as operações de abastecimento e recolhimento só poderão acontecer quando clientes e usuários não estiverem no recinto da operação.
Bezerra alerta, no entanto, que uma tentativa de promover a segurança restringindo a circulação de papel-moeda nas agências pode acabar prejudicando os consumidores. “Isso nos preocupa, porque aumentaram as reclamações de falta de dinheiro para sacar a aposentadoria e salários nas agências bancárias principalmente do interior. Limitar o acesso ao papel-moeda significa diminuir a capacidade de movimento econômico principalmente daquelas cidades que são mais desiguais”, frisa o presidente.