7 PMs e um policial civil são alvos de operação por extorsão, tortura e outros crimes

A suspeita é de que organização criminosa praticava crimes de extorsão e tortura contra traficantes com o objetivo de obter vantagens financeiras

Atualizada às 11h28min

Na quarta fase da Operação Gênesis, o Ministério Público do Ceará (MPCE) cumpre, na manha desta terça-feira, 20, 12 mandados de busca e apreensão, sete de condução coercitiva e um mandado de prisão contra policiais do Ceará. Eles são suspeitos de praticar crimes como extorsão, tortura, comércio ilegal de arma de fogo, corrupção ativa, além de organização criminosa.

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Nessa fase, os 12 mandados de busca e apreensão são para cada um dos alvos da operação, sete mandados de condução coercitiva (para os policiais), um mandado de prisão contra o policial militar apontado como líder do grupo, além de medidas cautelares de afastamento das funções de todos os outros seis policiais.

Entre os alvos, estão sete policiais militares da ativa, um policial civil da ativa e mais quatro pessoas que pertenceriam à organização criminosa e atuariam como informantes. Todos os policiais envolvidos na investigação foram afastados de suas funções, de acordo com o promotor de Justiça do MPCE, Adriano Saraiva. A informação foi divulgada em entrevista à rádio O POVO/CBN. Ainda na conversa, o promotor avisou que atuação do grupo ocorria no bairro Messejana, na Capital. 

Dos mandados judiciais expedidos, cinco são da Vara de Delitos de Organizações Criminosas e sete da Vara Única de Auditoria Militar do Ceará. As ordens estão sendo cumpridas com o apoio da Coordenadoria de Planejamento Operacional (Copol) da SSPDS, da Polícia Militar do Ceará e da Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) nos municípios de Aquiraz, Fortaleza, Itaitinga e Pacatuba, todos na Região Metropolitana da Capital, e em Itabaiana, na Paraíba.

Investigação

Durante as investigações, foram investigados crimes cometidos por pessoas que se vinculavam a policiais. De acordo com o MPCE, as pessoas se estruturavam para realizá-los em uma teia de corrupção, que era complexa, envolvendo agentes públicos de segurança. Segundo o MPCE, a organização criminosa praticava crimes de extorsão e tortura contra traficantes para obter vantagens financeiras.

Os alvos dos policiais eram escolhidos entre traficantes com alto poder aquisitivo ou que já tinham alguma passagem pela Polícia, o que facilitava as exigências, as abordagens e o alcance das vantagens pelo grupo. Os agentes públicos tinham acesso ao sistema de informações da Polícia para selecionar os criminosos e planejar as ações.

O grupo funcionava da seguinte forma: informantes trabalhavam na procura e no levantamento de situações potencialmente lucrativas para o bando, que consistiam principalmente na seleção de vítimas com envolvimento em crimes e com alto poder aquisitivo.

Os informantes, então, avisavam ao policial militar líder da organização, que passava a orientá-los sobre os detalhes que precisaria para a ação. As orientações incluíam veículos usados, rotina e principais endereços das vítimas. Ao mesmo tempo, ele selecionava e convidava, a depender do caso, os demais comparsas para a execução.

Com a equipe formada, o alvo passava a ser monitorado por meio de operações de inteligência policial e de pesquisas nos sistemas da própria. As vítimas eram abordadas e levadas para a residência delas ou para local mais isolado. Nesses locais, elas eram, algumas vezes, torturadas para que apontasse o esconderijo de drogas e/ou de dinheiro. Assim, elas contraíam uma espécie de “dívida” com os policiais para que não fossem presas, desde que pagassem um determinado valor em dinheiro, que era rateado entre os participantes.

Segundo as investigações, o policial militar apontado como líder do grupo costumava apresentar atestados médicos para ser dispensado do serviço e, assim, ficar mais livre para o cometimento dos crimes.

Outras fases da Operação

A primeira e segunda fase da operação foram deflagradas, respectivamente, em setembro e em outubro de 2020. Na época, os policiais, junto com outros traficantes, escolhiam os alvos com base nos antecedentes criminais e no poder aquisitivo deles e simulavam uma compra de droga ou de arma com um dos traficantes. Tudo era previamente combinado. Os policiais chegavam ao local onde o traficante estaria simulando a compra para dar ares de legalidade à abordagem.

O criminoso que estava sendo abordado pelos policiais e pelo comparsa traficante era preso. No momento da prisão, os policiais, junto a outros traficantes, extorquiam esse alvo. Após a liberação do dinheiro da propina, tanto os traficantes quanto os policiais da organização criminosa revendiam os bens apreendidos e dividiam o dinheiro. Somente na segunda fase da operação, a investigação aponta que foram movimentados R$ 2 milhões em um período de sete meses.

Na terceira fase, as ações estavam mais estruturadas, e o modus operandi da organização criminosa era diferente. A função dos policiais passava a ser a de dar proteção aos traficantes, visto que já existia uma organização criminosa própria com suas lideranças. Essa organização tinha um vínculo com uma facção de atuação nacional e internacional.

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