63% das terras para plantação de caju no Brasil ficam no Ceará
Ele não é exatamente um fruto, mas é um dos produtos que melhor definem o Ceará. Com os portugueses, saiu do Brasil para colonizar a África e a Ásia. Conheça mais da história, dos usos e de como a produção de caju está se transformando
12:37 | Jul. 10, 2021
O Ceará tem 269.829 hectares de área destinada à plantação do caju. O território em solo cearense representa 63,24% da área total de cajueiro destinada à colheita no Brasil. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a Produção Agrícola Municipal (PAM).
Campeões do caju, uma fruta nordestina
Percentual da área total de cajueiros destinada à colheita do País (dados mais recentes, referentes a 2019):
Ceará: 63,24%
Piauí: 16,26%
Rio Grande do Norte: 12,05%
Fruto? Não exatamente
O caju é considerado um pseudofruto. O fruto do cajueiro, na verdade, é a castanha. Fruto é a estrutura desenvolvida a partir do ovário da flor, no caso, a castanha. E o caju? Ele se origina do pedicelo da flor, estrutura modificada do caule.
Chuva do caju
A chamada chuva do caju ocorre por volta de setembro até novembro. São chuvas fora da estação, em geral esparsas.
Não há uma relação causa-efeito entre a chuva e o cajueiro. A denominação se refere à coincidência entre a época e a floração do caju.
Por falar em chuva, segundo o Relatório de Ocorrências do IBGE, verificou-se que a situação pluviométrica da região do Ceará foi mais regular entre 2019 e 2020, favorecendo a agricultura e o cultivo do caju.
De onde veio o caju
O Anacardium occidentale, nome científico do cajueiro, é originário do Brasil. Há descrições portuguesas da planta pelo menos desde meados do primeiro século da colonização. O caju foi levado pelos portugueses para África e Ásia.
Financiamento da Sudene
De acordo com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Marlos Bezerra, umas das fases de maior produção do caju foi por meio da política de financiamento pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), na década de 1970.
O incentivo para o reflorestamento do Nordeste foi usado pelos fazendeiros e agricultores para a plantação do caju. "Os empresários que estavam na região tinham uma visão mais voltada para a cultura do caju. Eles aproveitaram as verbas da Sudene para investir no plantio", comenta.
Renda
De acordo com Sérgio Baima, engenheiro agrônomo da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará (Sedet), o caju, em alguns casos, é uma das únicas opções de trabalho para o pequeno e médio produtor. "Seu cultivo pode dar a possibilidade de complementar a renda de famílias com a industrialização caseira e em pequenas fábricas", acentua Baima.
Comercialização do produto
De acordo com estudo divulgado pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), a amêndoa da castanha-de-caju (ACC) ocupa o primeiro lugar em exportações dos principais agronegócios e o quarto lugar entre os principais setores das exportações na economia cearense.
Iguaria
Sérgio Baima aponta que a amêndoa da castanha, produto de exportação, é considerada uma iguaria internacional e muito procurada.
"A importância da Caju para o Ceará é extraordinária, principalmente em relação a amêndoa da castanha de caju (ACC). Trata-se do primeiro produto da pauta de exportações do Estado."
Cajueiro anão-precoce e cajueiro comum
Os cajueiros no Ceará podem ser classificado entre cajueiro anão-precoce e o cajueiro comum. A Embrapa define o cajueiro anão-precoce como "altamente produtivo". Uma das grandes vantagens é o porte pequeno da árvore, que viabiliza o aproveitamento do pedúnculo (a parte do caju com a qual se produz o suco).
Essa produtividade não é possível nos pomares de cajueiro comum, pois as árvores podem atingir a altura de 20 metros, nelas os frutos costumam cair no solo e a maior parte do pedúnculo é perdida.
Substituição
Sobre os investimentos e incentivos na área de produção, Sérgio Baima conta que vem ocorrendo uma substituição paulatina do caju-comum pelo caju-anão, proporcionado pelas pesquisas da Embrapa, com a disponibilização no mercado de diversos clones de cajueiro anão com características agroindustriais superiores aos existentes. Segundo informações passadas pela Sedet, a Secretaria, poor meio da Secretaria Executiva do Agronegócio, apoia diversos projetos para a melhoria tecnológica na produção e na industrialização da caju.
Expansão no Ceará
Regina Dias, supervisora de Estatísticas Agropecuárias do IBGE, explica que, para contar sobre o desenvolvimento da cultura do caju no Estado precisamos recorrer à história.
Em 1943 surgiu o interesse industrial pelo cajueiro devido ao líquido da casca da castanha-de-caju (LCC). O LCC é matéria-prima básica para a fabricação de vernizes, tintas, plásticos, lubrificantes e inseticidas.
Com o passar dos anos, o interesse econômico passou a ser a amêndoa da castanha-de-caju (ACC), que foi responsável por um crescimento da agroindústria de caju. A ACC serve para a alimentação, devido ao valor nutritivo das amêndoas.
Foi por causa desse interesse em ACC que, na década de 1950, começaram os primeiros plantios organizados de cajueiro no Nordeste.
No ano de 1968, começa a aplicação dos incentivos fiscais do Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor) para projetos agrícolas. "Todas essas grandes plantações comerciais tinham o objetivo de abastecer as primeiras indústrias processadoras de castanha (extração das amêndoas) e as novas indústrias de suco", explica Regina Dias.
Museu do Caju
Em Caucaia, há um museu dedicado às tradições relacionadas à cultura do cajueiro. Por entre as árvores espalhadas pela chácara de 5 mil metros², pode-se adquirir, experimentar e vivenciar produtos da cajucultura produzidos por famílias de vérios municípios cearenses. Há doces redes, tapetes, toalhas e diversos itens. São três espaços de imersão e dois carros personalizados, conhecidos como "Fuscaju".
Onde: Rua San Diego, 332, Parque Guadalajara, Jurema, em Caucaia.
Quando: por agendamento, pelo (85) 98835 9915
Entrada: R$ 5, e o visitante recebe uma muda de planta ornamental
Local é acessível para quem tem dificuldades de locomoção ou visão
O museu aceita doações de peças e publicações regionais, garrafas e tampinhas pets, além de antenas parabólicas para o Projeto Recicla ArteCaju
Conheça mais: Do tapete à eira e beira, a valorização do "fruto divino" no Museu do Caju
Conheça museus na Grande Fortaleza que fogem do convencional e contam a história do cotidiano