Evento remoto não abrange pessoas sem acesso à internet, diz pescador sobre Festa de São Pedro

A Festa de São Pedro dos Pescadores, a igrejinha que leva o nome da festa e o seu entorno representam juntos o primeiro bem imaterial registrado de Fortaleza. Moradores locais reclamam da falta de atenção que os gestores públicos dão à celebração

A pandemia de coronavírus e a necessidade de isolamento social reformularam as formas de se relacionar com os espaços da Cidade. Tradicionalmente na data desta terça-feira, 29 de junho, é celebrada a festa de São Pedro dos Pescadores em Fortaleza. No entanto, desde o ano passado, a celebração é realizada no formato remoto. Moradores questionam a falta de acessibilidade do evento, considerando que nem todos possuem acesso à internet. 

Os festejos a São Pedro dos Pescadores são de grande importância para a memória de toda a comunidade pesqueira. A tradicional festa da cultura litorânea se repete desde a década de 1930. Os eventos foram organizados ao longo dos anos e contavam com quermesses, apresentações de quadrilhas, forró, comidas típicas e a procissão de jangadas.

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Desde o ano de 2020, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) organiza ações virtuais para comemorar a data. Porém, para Diêgo di Paula, idealizador do Projeto Acervo Mucuripe e guia de Turismo Cultural, a celebração online está muito distante de uma parte da comunidade.

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“Sei que em abril teve a evento dedicado a São Pedro dos Pescadores online, pela Secultfor, mas é muito distante da realidade da população que participa anualmente, já que uma boa parte da comunidade não possui acesso à rede social”, comenta.

O secretário da colônia de pescadores Z-8, Possidônio Soares, disse que, entre os pescadores, ninguém acompanhou os eventos remotos realizados em comemoração à data. “Não abrange quem não possui redes sociais como a gente.”

No entanto, o pescador diz esperar por dias melhores: “A gente espera que no próximo ano a pandemia esteja estabilizada e que possamos realizar eventos abertos e o tradicional passeio marítimo no dia 29 de junho”.

A igreja de São Pedro dos Pescadores, no bairro Mucuripe, realizou nesta manhã uma missa de celebração. A igreja em questão é a única construção da antiga vila de pescadores que ainda se mantém de pé, sendo tombada e registrada como Patrimônio Cultural de Fortaleza.

Em abril deste ano, com recursos oriundos de Emenda Parlamentar, concedida pelo Deputado Federal Chico Lopes, houve a realização do Projeto Ações de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial de Fortaleza, uma parceria entre a Secultfor e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A programação contou com webinarios, aula-espetáculo, lives e exibição de teatro documental.

O POVO questionou a Secultfor sobre o formato virtual da celebração não incluir parte da população sem acesso à internet. A pasta respondeu que as ações online contemplaram tanto pescadores quanto rezadeiras, que "participaram de live e foram integrados à programação". 

A Secultfor ainda informou que nesta terça-feira, 29, será realizada a estreia de especial junino no YouTube da Secretaria, às 19h30min.

Sentimento de pertencimento

A Festa de São Pedro dos Pescadores, a igrejinha que leva o nome da festa e o seu entorno representam juntos o primeiro bem imaterial registrado de Fortaleza. O registro foi proposto e legitimado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural (Comphic), com base na Lei Nº 9.347/2008. "A festa é um bem imaterial. Existe o tombamento que deveria colocar a festa no calendário. A tradição pode morrer aos poucos por falta de apoio do poder público", critica Diêgo.

Segundo ele, com a expansão imobiliária do bairro, algumas pessoas passaram a ser removidas e foram realocadas. "Quando tiram as pessoas de perto desses locais que geram pertencimento, esses territórios são esvaziados. O bairro fica sem identidade, memória e sem cultura. Historicamente o crescimento do bairro e o não fomento à cultura têm ajudado nisso."

Por fim, Diêgo diz que a região precisa do apoio da gestão municipal para continuar organizando ações que incluam a comunidade. "Nós estamos preocupados em relação à organização da festa. A gente sofre quando não tem apoio político", complementa. 

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