Escolas particulares retornam hoje às aulas presenciais no ensino médio
Ensino público estuda retorno presencial a partir do próximo semestre. Veja como é o preparativo nas escolas particulares. Algumas podem ter rodízio
23:49 | Jun. 13, 2021
Escolas do Ceará, com exceção da macrorregião do Cariri, já podem ter aulas presenciais em todas as séries do ensino médio a partir desta segunda-feira, 14. A novidade, anunciada na última semana para o novo decreto, é resultado de discussões do Comitê Estadual de Enfrentamento à Pandemia. Anteriormente, o ensino estava permitido para turmas até o último ano do ensino fundamental.
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Após o anúncio na última sexta-feira, escolas acompanhadas pelo O POVO realizaram sondagens com os alunos e pais, para saber quais deles já desejavam retornar presencialmente e os que ainda preferem manter o ensino remoto — direito garantido pelo decreto. No Colégio Christus, por exemplo, os alunos só poderão frequentar as salas de aula novamente a partir da terça-feira, após a conclusão da pesquisa feita com os responsáveis e a determinação da logística de funcionamento de cada turma.
Diretora de uma das unidades da instituição, Yluska Aquino explica que caso a quantidade de alunos interessados em retornar ao colégio supere a quantidade permitida em decreto, a escola trabalhará com o esquema de rodízio. Divididos em dois grupos distintos, os estudantes entram em um ensino híbrido e revezam para definir quem acompanhará as aulas virtualmente ou no local.
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Publicado neste sábado, 12, o novo decreto estadual define que a ocupação máxima das salas é de 50% e as atividades deverão ser desenvolvidas preferencialmente em ambientes abertos, com respeito ao distanciamento. “Desde o ano passado, a gente fez treinamento e tem implementado esse modelo em outras séries, (a retomada do ensino médio) é uma continuidade do que já estamos fazendo. Desde o começo, lidamos com essa modificação do espaço físico, por exemplo, que garante o distanciamento social seguro”, esclarece a diretora.
Aquino pondera ainda que a forma de conviver da comunidade escolar precisou mudar e isso foi realizado por meio de treinamentos com professores e outros funcionários. “O visto no caderno do aluno agora é virtual, o professor sempre precisa manter a distância de dois metros. Também temos o escalonamento do horário de recreio, para os alunos não entrarem no mesmo horário. Fomos criando estratégias, temos batalhado para isso”, argumenta.
Para a estudante Sarah Maria Leite, 16, a oportunidade de retornar ao ensino presencial torna o aprendizado bem mais fácil, devido ao contato mais próximo com o professor e os alunos, ainda que obedecendo às condições determinadas. “Eu sei que não vou poder voltar abraçando, mas só de estar no mesmo ambiente vai ser uma alegria muito grande”, celebra.
Também com início das aulas marcado para terça-feira, ela diz que sua escola já comunicou sobre o que deve ser seguido. “É aquilo que a gente já sabe, precisamos usar máscara, distanciamento... É melhor voltar com todos esses cuidados do que não voltar”, ressaltou, lembrando ainda da importância vacinação dos professores, mesmo que com somente uma das duas doses. “A gente se sente mais seguro, mais confortável com eles”, enfatiza.
“É preciso que os pais também zelem pelos seu filhos”, ressalta professor
Encarando o desafio de ministrar aulas remotamente desde o início da pandemia, o professor de História Mariano Junior diz que a retomada no ensino médio é um “misto de sentimentos”. Por um lado, há a esperança de retorno à normalidade, mas por outro continua o receio da contaminação. “Todo mundo só vai tá bem quando pelo menos 70% da população estiver vacinada. Seria muito egoísmo pensar que por ser da educação e estar vacinado as coisas estão bem. Elas não estão”, reforça.
Ele lembra que os familiares devem exercer um papel fundamental neste momento, com zelo pelos filhos e por si mesmos. “A frase que deve ser mantida é ‘a pandemia não acabou’. Não podemos liberar os alunos como se nada mais estivesse acontecendo”, frisa. Ele considera ainda acertada a decisão de só retomar as aulas com a imunização dos professores. “As tentativas de voltar sem vacina eram inviáveis, não eram adequadas", pondera.
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Como forma de conscientização, as conversas sobre a necessidade de cuidados entraram na rotina de uma médica e mãe de aluna do ensino médio. Manuela, como preferiu se identificar, tem explicado à sua filha a importância de todos os protocolos. “No novo mundo haverá o novo coronavírus e por muito tempo”, defende. Ela discorda, porém, da necessidade de vacinação para retorno às aulas. “Não tem justificativa para esse problema criado, houve um prejuízo grande para a sociedade”, lamentou.
Com a volta, Mariano projeta que os alunos devem apresentar maior desempenho e interesse pelo conteúdo transmitido, devido ao entusiasmo de estar de volta ao ambiente escolar. O professor ressalta ainda que, apesar de não ser o ideal, o ensino remoto também trouxe ganhos para educação e várias experiências devem permanecer mesmo depois da pandemia.
Há duas semanas das férias, retomada funcionará como teste para o próximo semestre
Andréa Nogueira Sales, diretora do colégio Deoclécio Ferro, no Parque Araxá, celebrou que a liberação para retomada aconteceu antes das férias escolares. Para ela, o período inicial será usado para escutar o aluno e reintegrá-lo ao convívio na escola. “Há estudantes que perderam parentes, precisamos fazer uma avaliação diagnóstica para saber como estamos recebendo esses alunos e começar a planejar como será o próximo semestre”, destaca.
Ela considera importante ter atenção ao emocional dos alunos, além do processo de aprendizado. Durante o período exclusivamente remoto, defende ela, a escola já estava realizando palestras com psicólogos para dar apoio aos estudantes e isso deve se intensificar presencialmente. “Alguns alunos do ensino médio completaram 454 dias ausentes da sala de aula. Isso trará um prejuízo que a escola vai ter que superar, lidar com as lacunas que foram deixadas”, enfatiza.
João Vitor Toledo, estudante de 15 anos do 1ª ano do ensino médio, relata não conseguir se concentrar remotamente da mesma forma em relação ao ensino presencial. “Não é a mesma coisa estar olhando para um computador do que está dentro da sala, com professores e amigos”, pontua. Ainda assim, ele pondera que durante o período de estudos em casa, seguiu dando seu máximo, buscando conhecimento principalmente por conta própria.
Em relação aos protocolos sanitários, João defende que já está ciente e acredita que a maioria de seus colegas irá respeitar. “É chato ficar usando máscara, bem cansativo. Mas o que de fato importa agora é a qualidade do ensino, que foi algo que faltou nesses 14 meses sem aula presencial. A partir de agora temos que ter a higiene, com ou sem vírus”, acrescenta.
Escolas públicas avaliam retorno presencial em agosto, diz Seduc
Conforme divulgou nessa semana a Secretaria da Educação (Seduc), as escolas públicas de ensino médio continuarão de forma exclusivamente remota até o fim deste semestre. A pasta considera a possibilidade de um retorno híbrido — com aulas presenciais e remotas — em agosto, início do segundo semestre letivo de 2021. A pasta defendeu ainda que as decisões serão negociadas com o sindicato dos professores e representantes dos estudantes.
Em entrevista nessa sexta-feira, 11, o professor Anízio Melo, presidente do Sindicato dos Professores e Servidores de Educação e Cultura do Estado e Municípios do Ceará (Apeoc), pontuou que a nova medida não altera o ensino público no momento, mas disse que é possível conversar sobre um possível retorno com a garantia de condições sanitárias. “A regularidade presencial das aulas só pode se dar a partir das condições sanitárias satisfeitas em uma mesa de diálogo permanente", enfatizou o representante da categoria.
Em outubro do ano passado, o Estado chegou a liberar aulas presenciais na macrorregião de saúde de Fortaleza com 50% dos estudantes. Em 20 de maio deste ano, uma liminar garantiu o retorno das aulas em formato presencial a todas as séries do ensino médio. No dia seguinte, no entanto, a medida foi suspensa pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), a pedido do Governo do Estado.
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