Em Quixeramobim, menino de 8 anos busca trocar sobrenome do pai pelo do padrasto

"Senhora juíza, quero pedir encarecidamente que a senhora troque meu nome. Eu gostaria muito de usar o sobrenome do meu verdadeiro pai, que é o meu padrasto", escreveu Angelo em uma carta à juíza Kathleen Nicola Kilian, titular da 1ª Vara da Comarca de Quixeramobim.

14:14 | Jun. 07, 2021

Por: Levi Aguiar
Angelo Ravel e o padrasto (foto: Reprodução/ Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará)

Angelo Ravel Nunes de Sousa tem apenas 8 anos e mora em Damião Carneiro, uma comunidade na zona rural de Quixeramobim. Há cinco anos, a criança perdeu o contato com o pai biológico após o divórcio com a mãe, Teresa Cristina Nunes.

Atualmente Teresa tem um relacionamento com José Adilton de Moraes, com quem vive com os três filhos (Any,16, Angelo e Moraes, 3, fruto da relação com Adilton).

O garoto de 8 anos considera Adilton seu verdadeiro pai e lutou na justiça para ter o sobrenome do padrasto. Angelo redigiu as seguintes palavras para a juíza Kathleen Nicola Kilian, titular da 1ª Vara da Comarca de Quixeramobim.

“Senhora juíza, quero pedir encarecidamente que a senhora troque meu nome. Meu nome é Angelo Ravel Nunes de Sousa e quero tirar o sobrenome Sousa. É o sobrenome do meu pai biológico. Eu gostaria muito de usar o sobrenome do meu verdadeiro pai, que é o meu padrasto. Ele sim é um pai de verdade pra mim. Ele esteve comigo nos momentos bons e ruins.”

O garoto teve conhecimento das ações promovidas pela Defensoria Pública de Quixeramobim através da rádio e de uma notícia recebida pela mãe no WhatsApp, sobre a distribuição de cestas básicas em comunidades vulneráveis da zona rural do município. Logo em seguida veio a ideia de escrever a carta endereçada à juíza.

No dia 25 de maio, a carta direcionada a juíza foi entregue pela mãe da criança ao radialista, apresentador do programa onde que a criança ouviu falar sobre a juíza. Logo em seguida, o profissional da imprensa enviou a foto da carta à juíza. 

Um dia após receber a carta, Kathleen Nicola Kilian respondeu à criança através de uma carta e informou que agendou o atendimento da família dele com a família na Defensoria Pública. O objetivo do atendimento seria para formalizar o pedido feito pelo garoto perante à Justiça.

O amor que Angelo sente por Adilton é um afeto forte e cultivado diariamente. “Ele sai todo dia 4h30 da manhã para trabalhar e chega umas seis horas da tarde para conseguir R$ 50 para não deixar faltar nada pra mim e pros meus irmãos".

O garoto ainda completa que pai é aquele quem ajuda, aquele que ama, que abraça, que dá carinho, que está do lado, que conversa, que dá atenção. "E é ele quem faz isso comigo. Ele sim é meu verdadeiro pai”, explica o garoto se referindo a Adilton.

A mãe de Angelo confessa que antes estava descrente da possibilidade do garoto ganhar o sobrenome do padrasto. Agora, ela sonha junto com o menino. “Eu achava que não ia dar certo porque pensava que era coisa muito distante da gente [o sonho de mudar o sobrenome do menino]. Escondi até a carta pra ver se ele esquecia dessa história. Eu pensava que isso era quase impossível, que só poderia mudar quando ele fosse maior de idade, mas o defensor disse que ia dar certo, que tem outros casos assim”, conta a dona de casa.

O defensor público responsável pelo caso, Jefferson Leite Dias, comenta o caso: “É impossível não se emocionar com essa história, principalmente porque é uma família muito humilde e que poderia pedir qualquer outra coisa. Mas a felicidade tem outro sentido. Estamos vivendo tempos tão sombrios e, quando encaramos uma situação de amor verdadeiro, buscamos fazer o impossível para solucionar e fazer a diferença na vida daquela família”, destaca.

Além do trabalho de Adilson, a família possui como renda o programa assistencial do Governo: R$ 396 por mês. Para cinco pessoas. Eles moram distante 50 quilômetros da sede de Quixeramobim, 12 dos quais percorridos em estrada carroçável.

*Com informações da Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará.