Escavações serão realizadas no Maciço de Baturité para repor acervo do Museu Nacional

As pesquisas irão começar, contudo, após a vacinação contra a Covid-19 terem alcançado o patamar de 80%. As previsões indicam meados do segundo semestre de 2021

Novas escavações serão realizadas no sítio arqueológico da Serra do Evaristo, no Maciço de Baturité, como uma tentativa de repor informações históricas perdidas no incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018. As descobertas consumidas pelas chamas revelavam parte do processo de ocupação do território cearense, datado de aproximadamente 700 anos. A pesquisa receberá investimento da National Geographic, instituição voltada para difundir conhecimentos de geografia. 

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O pesquisador Vinícius Franco, que estuda o processo de ocupação do continente sul-americano, irá dirigir as escavações. As pesquisas buscarão compreender questões relacionadas à formação e cronologia, delimitação, uso e função do espaço do sítio arqueológico, como também o processo de ocupação daquela região. O financiamento para a retomada das escavações foi conquistado em 2019, quando, após um rígido processo de seleção, a National Geographic premiou o projeto de doutorado de Vinícius Franco, intitulado “Novas perspectivas para as culturas pré-coloniais do nordeste brasileiro por meio de urnas funerárias”. 

Ele já participou de outras atividades pelo Ceará: em 2012, cerca de 18 vasilhames foram encontrados na região. O estudo concluiu que houve atividades pré-históricas na área, no qual os indivíduos se alimentavam de vegetais como abóboras e macaxeiras. Material foi fornecido ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e possibilitou a abertura de um Museu na região e de cursos de escavação com moradores do Maciço.

Ele aponta que o Estado é um rico sítio arqueológico, com destaque para Baturité, por possuir áreas comprovadamente ocupadas desde a Pré-História. "O ambiente proporciona que a população permaneça, pois há água e uma certa quantidade de animais disponíveis", explica Vinícius. "São paisagens que concentram essa riqueza e atraem esses grupos desde o período pré-colonial".

No entanto, devido a pandemia de Covid-19, a instituição americana orientou que os trabalhos de campo somente aconteçam após o programa de vacinação nacional alcançar o patamar de 80% da população imunizada. O motivo é que o contato da comunidade que habita o local com pessoas externas pode ser um risco de transmissão do vírus. 

Além disso, segundo o pesquisador, por conta da alta do dólar e da condição econômica atual do País, o projeto demanda um orçamento complementar. Segundo ele, a pesquisa poderia ser financiada pelo poder público ou pela iniciativa privada. "Fazer Arqueologia é muito caro porque você depende das pessoas, materiais, técnicas e métodos específicos de escavação", complementa. "O Governo do Ceará ainda não se manifestou. Devido à pandemia, os valores previstos para anos atrás estão bem mais restritos devido a questão financeira". 

O projeto está em fase de revisão e em breve será encaminhado para análise na superintendência do IPHAN no Ceará, com vistas à aquisição de Licença de Pesquisa. Além disso, o sítio Evaristo I está inserido no topo de uma serra no mesmo lugar onde se encontra um dos Quilombos mais antigos do estado do Ceará, reconhecido pelo Instituto Palmares desde 2010.

A realização da pesquisa, para Vinícius, vai além do interesse público. "Se torna também de interesse da comunidade civil. Você começa a conhecer todo o ambiente do Estado e tem acesso a outros tipos de cultura", expõe. "O estudo sobre esses estados consegue indicar quais vegetais esse indivíduo veio ingerindo por pelo menos 30 anos".

O auxílio da população, inclusive, é peça chave tanto para o desenvolvimento da pesquisa quanto da economia da região do Maciço. O Museu criado na região após pesquisas anteriores em busca de vasilhames arqueológicos é uma comprovação dessa relação, segundo o pesquisador. "Tivemos de quatro a seis pessoas, antes envolvidas diretamente na pesquisa, que ingressaram na Universidade e cursaram graduações afins à Arqueologia. Acabamos movimentando e instigando a população a adquirir um conhecimento próprio", comemora.

Incêndio no Museu Nacional

O fogo que atingiu o Museu Nacional, em 2018, consumiu praticamente toda a pesquisa sobre amostras de ossos humanos e de animais encontrados na Serra do Evaristo. Além disso, peças de cerâmicas e ossos de animais que viveram na pré-história, encontrados em território cearense e que estavam no museu, foram completamente destruídos.

“São amostras pequenas, retiradas dos ossos, que seriam analisadas para elucidação da dieta do grupo que ocupava a serra por volta do ano de 1.300. É um material bem significativo, que poderia ajudar a compreender o processo de ocupação do território cearense. Mas, temos expectativa de avançarmos nessas novas escavações e conseguirmos descobertas promissoras”, pontua Vinicius Franco.

Com Marília Freitas



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