Cinco policiais penais, seis presos e colaboradores do sistema prisional morreram de Covid-19 no CE
Dados são de março de 2020, quando a pandemia chegou ao Estado, a abril deste anos. O Sindppen-CE denuncia o fechamento de mais de 100 cadeias públicas
19:30 | Mai. 03, 2021
Um total de 20 pessoas, sendo cinco policiais penais, seis colaboradores da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado (SAP) e seis detentos morreram de Covid-19 desde o início da pandemia no Ceará, entre março de 2020 e o último dia 19 de abril. Relatório divulgado em parceria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Departamento Penitenciário (Depen) mostra o Estado com 2.085 presos contaminados e seis mortes; 1.015 servidores com a infecção e cinco mortes e seis colaboradores da SAP também falecidos. Em março de 2021, o acumulado de presos contaminados era 1.576, o que representa um crescimento de 105% de novos casos em um mês. Os dados podem ser acessados na página do CNJ.
O número de casos também cresce entre os servidores da SAP. Em 24 de março, CNJ e Depen registravam 719 servidores infectados, no último mês o número chegou a 1.015. Rafael Magno, diretor financeiro do Sindicato dos Policiais Penais do Estado do Ceará (Sindppen-CE) aponta que, como trabalham na linha de frente, os policiais penais deveriam estar na prioridade da vacina contra a Covid. “Nós temos contato com presos, não só os que chegam para nós, mas os que estão internados nos hospitais. Isso deixa os policiais penais e outros servidores muito apreensivos”, conta.
“Os policiais penais trabalham na linha de frente e muitos têm contato com presos hospitalizados e isso nos deixa muito apreensivos”, informa. Segundo ele, a Secretaria da Saúde do Ceará repassou algumas doses da vacina para servidores de dois presídios, as Casas de Privação Provisória de Liberdade (CPPL) 5 e 6, o que não representa nem 10% dos policiais e servidores. “Todas as unidades são importantes e os agentes estão apreensivos não só por eles, mas também por suas famílias”, diz.
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O diretor conta que no Centro de Triagem e Observação Criminológica (CTOC), que funciona no Complexo Penitenciário de Aquiraz e é a porta de entrada do sistema penitenciário, nenhum policial penal foi vacinado. “Nós recebemos presos vindos das audiência de custódia e outros presos que vão direto para o sistema. É uma das principais portas para a contaminação”, conta.
Lá, são feitos exames e traçado um perfil criminológico antes do interno ser encaminhado a uma das unidades prisionais do Estado. O Sindpen está organizando um ato com o pedido de inclusão na vacinação. Outro problema apontado pelo diretor é que foram fechadas mais de 100 cadeias públicas no Interior do Estado. E hoje a maioria dos presos é enviada para os presídios da Região Metropolitana de Fortaleza. “A Organização Mundial da Saúde repete que evitar a aglomeração é a melhor forma de se evitar a Covid”, diz.
Em nota, a Secretaria da Administração Penitenciária informa que as visitas estão suspensas desde o dia 20 de fevereiro. O atendimento da Casa do Albergado também segue suspenso neste momento. Além disso, a Secretaria já realizou mais de 20 mil testes em internos e servidores, como forma de rastreamento de novos casos e medidas precoces de isolamento e tratamento. A SAP aproveita para esclarecer que ainda permanece com sua estrutura de Enfermaria Máxima de Saúde para isolar e tratar da forma mais adequada os internos que tenham sintomas ou apresentem resultado positivo para o novo coronavírus.
Por fim, a SAP comunica que todo interno que entra no sistema prisional cearense realiza teste para a Covid-19 e que, neste momento, tem 35 internos em tratamento para quadro leve da doença, sendo todos oriundos da Decap, diante de uma população carcerária de aproximadamente 23 mil detentos. A SAP nega o número de mortes divulgado pelo relatório nacional. Além disso, afirma que tem dois policiais penais e 10 colaboradores terceirizados em tratamento para quadro leve da doença diante de um efetivo total de 4.700 servidores da Secretaria. Para concluir, a SAP esclarece que, desde o início da pandemia até esta segunda-feira, 3, foram registrados óbitos provocados pela Covid-19 em quatro policiais penais, seis internos e três colaboradores.
O que diz a Secretaria da Saúde
Em nota, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou que "os profissionais das áreas de segurança que atuam na linha de frente do enfrentamento à Covid-19 ou em unidades com risco de contágio da doença estão sendo vacinados, conforme orientação do Ministério da Saúde, na Fase 2 do Programa Nacional de Imunização (PNI)".
A Secretaria declarou ainda que se reuniu com as secretarias de Segurança Pública (SSPDS) e Administração Penitenciária, após a orientação do Ministério, para definir quais profissionais receberiam as doses dos imunizantes. Foi identificada a necessidade de vacinação dos agentes penitenciários que atuam nas CPPL onde há detentos positivados com Covid-19. Os demais agentes penitenciários do Ceará serão imunizados na Fase 4 do PNI.