Cem anos de JC Alencar Araripe: o jornalista que deu o "Oscar" ao O POVO

O jornalista ,que nasceu em Jardim, celebraria um século de história neste sábado. Em homenagem, O POVO lembra a trajetória do escritor, jornalista, político e membro de agremiações

Quando em vida, o cearense José Caminha Alencar Araripe não foi um homem só, foi muitos. Se não fosse vitimado por complicações de saúde em 2010, o "JC", como costumava iniciar sua assinatura, completaria 100 anos neste sábado, 1°, celebrando uma trajetória onde foi escritor, jornalista, político e membro de agremiações culturais. Seu trabalho, contudo, ainda ecoa em instituições como O POVO, onde se consagrou como o primeiro repórter a ganhar o prêmio Esso, considerado o Oscar do jornalismo brasileiro.

JC Alencar Araripe nasceu há exatamente um século na cidade de Jardim, localizada na Região Metropolitana do Cariri (RMC),  fazendo parte de uma das famílias caririenses mais tradicionais que existiam à época. Quando criança, ele ingressou em escolas da região e partiu para estudar em Fortaleza ao ficar mais velho, onde se formou no curso de Ciências Contábeis e exerceu o mandato de vereador.

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Os números e a política, no entanto, não tinham o atrativo suficiente para prender o seu interesse por completo. JC Alencar Araripe passou a lecionar depois de formado e foi um dos professores responsáveis por fundar o curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceara (UFC), onde foi também chefe de departamento. Na Instituição, ele acabou assumindo ainda a secretaria da faculdade de medicina.

Engrossando o seu vasto currículo, o caririense integrou o grupo de comunicação O POVO, exercendo funções que vão desde revisor e repórter até a alta direção do jornal e trabalhando ao lado de figuras como  Paulo Sarasate, ex-deputado estadual. Também foi presidente por 12 anos (de 1977 a 1986 e de 1992 a 1995) da Associação Cearense de Imprensa (ACI) e membro do Instituto do Ceara.

José Caminha, primeiro à esquerda, em conversa com os historiadores Gustavo Barroso e Raimundo Girão, além do seu primo, Dr. Valdir Liebmann, no O POVO, em 1950
José Caminha, primeiro à esquerda, em conversa com os historiadores Gustavo Barroso e Raimundo Girão, além do seu primo, Dr. Valdir Liebmann, no O POVO, em 1950 (Foto: ACERVO)

Amante da literatura, o cearense se destacou como escritor escrevendo biografias. Dentre seus livros consta a obra “Alencar, o Padre Rebelde”, que detalha a vida de um dos personagens da Confederação do Equador, movimento revolucionário de 1824. JC Alencar Araripe também escreveu sobre a trajetória da Faculdade de Medicina e resgatou a história de personalidades como o Senador Alencar e o empreendedor Delmiro Gouveia.

Consagrado no jornalismo e vencedor do Esso

Jornalista foi apenas uma das várias profissões que o cearense exerceu na vida mas, não obstante, foi talvez a que mais o consagrou. No jornal impresso, tradicionalmente vendido nas bancas, ele discorria sobre questões sociais e denunciava o descaso público, com a pura essência de quem parece ter nascido para escrever incansavelmente e aliou isso ao desejo de transformar o mundo de alguma forma.

Era assim que ele atuava no jornal O POVO, onde foi revisor, repórter, editorialista e articulista. Foi dessa forma, escrevendo para provocar mudanças, que o cearense produziu uma série de reportagens sobre a seca e em 1958 conquistou o prêmio Esso, a mais importante distinção dada a profissionais de imprensa no Brasil. Aquela foi a primeira vez que o jornal, em toda sua história, ganhou a premiação.

“J. C Alencar Araripe foi um dos maiores talentos da sua geração no Jornalismo cearense, e esse talento foi uma parte importante do O POVO. Como repórter, JC conquistou o primeiro prêmio Esso do Jornal. Foi um grande feito: o Esso era a maior premiação de todo o Jornalismo brasileiro e a conquista marcou o reconhecimento nacional à qualidade do que jornalismo que fazemos. Como editor geral, ele trouxe para todo o jornal o mesmo padrão de qualidade de suas reportagens”, relembra a atual presidente do O POVO, Luciana Dummar, destacando a importância da distinção.

Além disso, a gestora pontua que a trajetória de JC  Alencar Araripe como jornalista é necessária como exemplo para os profissionais de imprensa. “O centenário de JC Alencar Araripe é um momento necessário para relembrarmos tantas gerações de jornalistas brasileiros que defenderam a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão. E essa é uma reflexão absolutamente necessária no Brasil atual”, afirma.

O adeus do "irônico e bem humorado" cearense

Quando trabalhava na secretaria da faculdade de medicina da UFC, o jornalista teve o caminho cruzado com o do jovem Lúcio Alcântara, que viria a ser governador do Ceará anos depois, mas àquela época era apenas um estudante de medicina. Os dois se esbarravam vez ou outra, deixando uma impressão no aluno.

"Ele (JC Alencar Araripe) era uma pessoa afável, uma pessoa de fácil diálogo e bem humorado, que tinha uma certa ironia, como convém a um bom jornalista", relembra risonho o ex-governador, 77 anos. Alcântara também recorda da rotina que o secretário tinha, encerrando as atividades no fim da tarde e indo direto para o O POVO, onde passava horas mergulhado nas histórias que escrevia.

"Araripe foi um grande jornalista, teve uma militância importante na imprensa diária (...) Era um homem intelectual, que escreveu muitas obras importantes", destaca Lúcio, mencionando ainda que o repórter tinha uma integridade para lidar com o oficio que o fez conquistar a confiança de personalidades politicas como a de Paulo Sarasate, ex-deputado estadual e que foi ainda diretor do O POVO

Quis o destino que Alcântara acabasse ingressando em agremiações, passo quase semelhante aos do secretário com quem vez ou outra conversava. Depois de atuar na política, Lúcio assumiu em 2017 a presidência do Instituto de Cultura do Ceará, instituição em que José Caminha chegou a ser membro.

"Uma pessoa que chega onde chegou, não tenha dúvidas de que essas duas instituições são muitas prestigiadas, ninguém chega a integrar as duas se não tiver a competência para isso", destacou o ex-governador, se referindo ao fato de JC Alencar Araripe ter ingressado no Instituto de Cultura e na ACI.

Tanto Lúcio, como amigos, familiares, profissionais da impressa e admiradores do trabalho de JC Alencar Araripe tiveram que se despedir do "bem humorado" jornalista no dia 11 de junho de 2010, após uma complicação de saúde ter lhe provocado uma falência múltipla dos órgãos. O escritor faleceu com 85 anos. 

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Com informações da Academia Cearense de Letras

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