Família do filho de Dedim Gouveia acusa IJF de negligência e promete levar caso à justiça após morte do artista
Segundo parentes de Delano Gouveia, hospital omitiu verdadeira causa da morte e não ofereceu assistência adequada; direção do IJF contesta e nega desassistência ao pacienteA família do produtor musical Delano Gouveia (37), filho do sanfoneiro Dedim Gouveia, anunciou que deve processar o Instituto Doutor José Frota (IJF) por negligência médica. Delano morreu neste domingo, 25, data em que foi celebrada a missa de sétimo dia pela morte do seu pai, que faleceu no último dia 19, vítima da Covid-19. Um laudo médico emitido pela unidade hospitalar, obtido pelo O POVO, indica que a causa da morte de Delano foi Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), em decorrência da Covid-19. A informação, no entanto, é contestada por parentes do produtor, que afirmam ter sido uma infecção bacteriana o verdadeiro motivo do óbito.
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Segundo a família, Delano havia contraído a Covid-19 no mês passado, mas já tinha se recuperado da doença desde o dia 14 deste mês. “Ele tinha acabado com o tratamento da Covid e estava internado por contrair, no hospital, uma super bactéria”, diz trecho de nota enviada à reportagem pelos familiares de Gouveia.
De acordo com o laudo médico, o paciente estava internado no IJF desde o último dia 07. Há registro de que ele deu entrada no hospital já infectado pelo novo coronavírus, porém, exames realizados posteriormente, nos 14/04 e 15/04, mostraram que o vírus já não estava mais ativo no organismo de Delano.
Sem Covid, mas com complicações da doença
A assessoria de imprensa do IJF confirmou ao O POVO que os dois últimos testes tiveram resultado negativo, mas explicou que o paciente precisou permanecer internado para tratar das complicações causadas pela Covid-19. O hospital afirma, ainda, por meio de nota, que Delano deu entrada na unidade já em estado grave, “sob sedação e assistência ventilatória mecânica”. Ele também precisou fazer uso de antibióticos para o tratamento de infecção por bactéria multirresistente conhecida como KPC.
Família denunciou falta de antibiótico
Familiares de Gouveia, entretanto, acusaram o hospital de não fornecer a medicação adequada para o tratamento da infecção. Dois dias antes da morte do produtor, a sua irmã, Isabel Gouveia, o marido dela, Victor Nascimento, e a esposa de Delano, Juciana Andrade, publicaram um vídeo nas redes sociais em que faziam denúncia sobre a falta de Sulfato de Polimixina B, antibiótico usado para combater a KPC. Segundo os parentes, um médico do hospital havia recomendado a eles que comprassem a medicação por conta própria, e assim o fizeram, mas ao chegarem na unidade para fornecer o fármaco, a direção teria rejeitado.
“O antibiótico que ele precisa para combater essa bactéria não tem no hospital. A família se uniu, médicos ligaram dizendo que ele precisava, a esposa tem a prescrição médica, mas quando a gente conseguiu comprar o remédio, o hospital não aceitou”, disse o cunhado de Delano no vídeo. Ele ainda pediu que a publicação fosse compartilhada “para chegar ao conhecimento das autoridades” e, sem citar nomes, disse que “tem alguém ganhando com mortes” no Ceará.
Pedido do presidente
No sábado, 24, em outro post, Victor contou que, após forte repercussão, o vídeo havia chegado ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) que, junto com o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e a médica cearense Mayra Pinheiro, Secretária Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), solicitaram o medicamento à Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza, que no mesmo dia fez a doação do antibiótico para o IJF.
“Nós cremos que o tratamento será concluído e o Delano sairá daquele hospital curado. Que Deus abençoe, presidente”, agradeceu Victor após a confirmação da doação. Na mesma publicação, feita no perfil de sua esposa no Instagram, também houve menção de agradecimento a meios de comunicação, jornalistas e políticos, como os deputados federais Capitão Wagner (Pros/CE) e Carla Zambelli (PSL/RJ), além do deputado estadual André Fernandes (Republicanos).
Hospital nega interferência
Ao O POVO, o IJF confirmou que recebeu no sábado, 24, um lote de polimixina proveniente da Santa Casa de Fortaleza, mas disse que a medicação foi adquirida mediante empréstimo e não por doação. De acordo com o hospital, o procedimento ocorreu “conforme a rotina de cooperação entre os órgãos de saúde” e não teve influência de políticos ou autoridades, “garantindo a segurança, impessoalidade e legalidade do ato, em benefício de todos os usuários e sem a influência de terceiros para o direcionamento e privilégio de um em detrimento de outros”.
Falta de medicamento X tratamento
Ainda de acordo com o hospital, apesar do desabastecimento temporário de polimixina, o tratamento de Delanio não foi interrompido. Segundo a unidade, houve a administração de outros dois tipos de antibióticos que também são utilizados no combate à KPC. O IJF, no entanto, não especificou quais fármacos foram usados.
Sobre o suposto pedido dos médicos à família para a compra do medicamento que estava em falta no hospital, a instituição disse não ter tomado conhecimento sobre tal prática, mas que vai abrir procedimento interno para apurar o caso.
Em relação à direção da unidade ter rejeitado o antibiótico comprado pelos parentes, o IJF alegou que “medicamentos sem a devida confirmação de procedência, acondicionamento e forma de aquisição, principalmente os restritos ao uso em hospitais, não devem ser administrados nos pacientes”.
Judicialização do caso
Insatisfeita com o hospital, a família afirma que Delano faleceu por negligência médica e “total assistência durante o tratamento da infecção bacteriana”. Os parentes ainda pontuam, através de nota, que houve “falta de comunicação do hospital com a família a cerca de medicamentos e equipamentos em falta que, se providenciados, poderiam ter ajudado na recuperação de Delano”.
Diante da situação, os familiares do produtor dizem que vão levar o caso à justiça. Nesta segunda-feira, 26, Isabel Gouveia disse nas redes sociais que “Deus vai agir com justiça” e reafirmou que a morte do seu irmão não foi causada por Covid-19. "Colocaram no laudo que era Covid, mas desde o dia 14 ele estava curado e continuou na ala Covid, mesmo sendo a bactéria hospitalar KPC. A Verdade prevalecerá”, escreveu a irmã de Delano nos stories do Instagram.
A direção do IJF nega que tenha havido negligência médica ou falta de insumos adequados ao tratamento do paciente. Segundo o hospital, Delanio teve acesso ao atendimento padrão recomendado pelos órgãos de saúde e profissionais da medicina.
“Em nenhum momento houve desassistência ou carência de insumos indicados ao tratamento do paciente, ao contrário do divulgado em redes sociais. Todas as terapias necessárias foram adotadas, conforme os protocolos clínicos orientados pelas sociedades médicas e órgãos sanitários”, justifica a unidade hospitalar.