Busca por prioridade no processo de vacinação pode ocasionar mais paralisações no Ceará
Sindicatos cobram medidas do governo para que trabalhadores de serviços essenciais também tenha prioridade no processoQuem necessitou utilizar o transporte público da Capital nos terminais do Papicu e da Messejana, na manhã desta quarta-feira, 24, encontrou o serviço interrompido por aproximadamente duas horas. A paralisação foi organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Ceará (Sintro).
Segundo os organizadores, a manifestação possuía três objetivos: prioridade de vacinação para os trabalhadores do transporte público, melhorias no plano de saúde da categoria e aumento da frota de ônibus na Capital. O protesto teve início às 8h45 da manhã.
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"Estamos iniciando hoje essas mobilizações, e o que poderá acontecer é a nossa categoria entrar em greve por tempo indeterminado até o poder público colocar nossa categoria como prioridade na vacinação", destaca Domingos Neto, diretor-presidente do Sintro.
"Nossa categoria está perdendo vidas, estamos na linha de frente desde o início dessa pandemia. Correndo risco de pegar a doença dentro desses ônibus lotados. Já ouvimos o discurso de que o Sindiônibus está colocando mais ônibus para rodar, mas, pra mim, isso é mentira. Não estamos vendo isso na prática. Esse ato é em defesa da vida, da nossa categoria e da população de Fortaleza", desabafa.
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) reconheceu o ato realizado na manhã desta quarta-feira, e informou que às 11h o serviço já estava normalizado. O órgão afirmou que está aberto para dialogar com os trabalhadores.
"O Sindiônibus não foi notificado previamente sobre a ação e repudia qualquer ato que prejudique a circulação dos ônibus e impeça o deslocamento da população. A entidade reitera que o diálogo está sempre aberto e que as pautas devem ser tratadas sob negociação, sem prejuízo ao fornecimento do serviço de transporte".
Após o ato realizado nos terminais, o presidente do Sintro agradeceu o engajamento da categoria e alertou que novas manifestações devem ocorrer.
"A manifestação foi dentro do que nós esperávamos. O ato teve amplo apoio da nossa categoria. Ela estava necessitando que a gente fizesse isso, para mostrar a forma que estamos sendo tratados. Existe a possibilidade de acontecer em outros locais se o nosso pedido não for aceito, veremos datas de assembleia para tomarmos as decisões", explica Domingos Neto.
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O representante do Sintro destaca que paralisações gerais podem ser aderidas, caso não cheguem a um acordo com o Sindiônibus.
"Existe a possibilidade de uma paralisação de 100% da categoria caso avanços não aconteçam, caso não chegue uma resposta do Poder Público e do Sindiônibus quanto ao nosso plano de saúde", ressalta.
O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza (STICCRMF) também participou do ato e prestou apoio aos representantes do Sintro.
Raimundo Evaristo, diretor do STICCRMF, explica o motivo da paralisação. "Nós estamos juntos com o Sintro para pedir vacina para os trabalhadores da construção civil e para os que trabalham nos transportes públicos. Nossa construção civil é essencial para trabalhar, mas não é para a vacina. Já morreram seis companheiros nossos da construção civil e a nossa preocupação com a classe trabalhadora é grande. Pedimos a vacina urgente", comenta.
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Outra categoria representada na manifestação foi a dos caminhoneiros. O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes de Mudanças, Bens e Cargas do Estado do Ceará (Sindicam), José Tavares, pediu atenção para sua classe.
"Nós transportamos alimentos, remédios, todos os insumos que a sociedade necessita. Queremos que Camilo Santana tenha a iniciativa de colocar nossa categoria como prioridade na vacinação. Não só os motoristas, mas aqueles que ficam descarregando os caminhões".
População surpreendida
A mobilização, junto à chuva forte que atingiu a Capital, gerou aglomerações no terminal e atrasou o expediente de alguns fortalezenses. Ellen Santos, que presta serviço em um hospital, foi uma das afetadas. "Já não tem ônibus, agora com essa paralisação só faz atrasar a vida do povo. Eles tão querendo ajudar, mas só está atrapalhando", comentou. A opinião da auxiliar de limpeza Antônia Nascimento é diferente. "Tem que ter [a mobilização], os ônibus estão muito lotados", conversa.
Para Mateus Melo, que trabalha na construção civil, a manifestação é válida. Ele acredita que a solução do problema está na vacinação da população.
"Eles estão certos. Os ônibus estão sempre cheios. Não dá para entender isso. Fecha tudo ou deixa todo mundo trabalhar. Não tem condição de continuarmos trabalhando nessa lotação, correndo o risco de pegar a doença. Acho uma covardia com a gente. Nós que somos trabalhadores estamos aqui e eles (os políticos) não passam por isso. Queremos vacina, a gente precisa para trabalhar", exclama.
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Já para o aposentado José Carneiro, as manifestações não deveriam prejudicar o restante da população.
"Acho que nunca deveriam ter diminuído a frota de ônibus, deveriam ter aumentado. Isso é horrível. Eu não concordo muito com o que está acontecendo. Eles deviam sentar com os governantes e empresários para dialogar. Só quem sofre são os trabalhadores", conclui.
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