Do Brasil colônia a Bolsonaro, passando por dom Pedro e Lula, a saga da transposição até o Ceará
Conheça os mais de 200 anos de história do projeto cujas águas a partir de hoje abastecem o maior reservatório destinado ao abastecimento humano do Brasil
21:36 | Mar. 10, 2021
As águas da transposição do rio São Francisco entraram no Ceará em 26 de junho de 2020, quando a comporta foi acionada pelo presidente Jair Bolsonaro.
A obra foi iniciada em junho de 2007, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em agosto de 2015, um pequeno primeiro trecho foi inaugurado pela presidente Dilma Rousseff (PT).
Em março de 2017, outro trecho foi inaugurado pelo presidente Michel Temer (MDB).
Antes disso, a obra tem longa história.
A ideia:
A ideia de canalizar as águas do rio São Francisco vem do Brasil colônia. Em 1818, quando o território tinha status de reino unido a Portugal e Algarves, projeto do tipo foi apresentado por José Raimundo de Passos Barbosa, primeiro ouvidor do Crato. O plano já era levar a água até o rio Jaguaribe.
Conforme Gabriel Pereira, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), o debate ocorria numa época em que se acreditava na existência de ouro no Ceará e transposição seria maneira de viabilizar o garimpo.
Em 1843, o naturalista Marcos Antonio de Macedo publicou o mapa topográfico do Crato, impresso no Rio de Janeiro. Na publicação ele propunha um canal a partir do rio São Francisco para levar água ao Riacho dos Porcos e ao rio Salgado e de lá ao rio Jaguaribe.
Na mais devastadora seca da história do Ceará, chamada "Seca dos três Setes, em 1877, 1878 e 1879, o projeto de transposição foi levado ao imperador dom Pedro II, que teria prometido a venda da última joia da coroa para resolver a crise.
Em 1909, foi criada a Inspetoria de Obras Contra a Seca (Iocs). O primeiro presidente, Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa cogitou a transposição, mas desistiu devido à elevação da Chapada do Araripe.
Em 1919, o Iocs virou Ifocs, com "F" de Federal. A ideia de transposição foi retomada. O governo Epitácio Pessoa, que pensava no uso de energia hidráulica para superar a elevação da chapada.
A ideia foi cogitada no governo Getúlio Vargas, quando o Ifocs se transformou no atual Dnocs.
Na décadas de 1980, técnicos do próprio Dnocs elaboraram novo projeto.
A obra foi prevista pelo governo Itamar Franco (1992-1994).
A transposição estava no programa de governo na eleição de elegeu Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1994. Em 1996, FHC anunciou que faria a obra. Em maio de 1998, pouco antes de lançar a candidatura à reeleição, prometeu a transposição de novo. Prestes a deixar o governo, em dezembro de 2002, FHC inaugurou o açude Castanhão ainda inacabado, e disse que a transposição era inevitável, que tinha se empenhado no assunto, mas esbarrou nas muitas oposições políticas.
Leia também | O encontro entre São Francisco e o Castanhão
CONFIRA OS ESPECIAIS:
As águas de Francisco: expectativa e realidade na peleja da espera
Na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2002, a transposição era polêmica e ficou fora do programa.
Quando Ciro Gomes virou ministro da Integração Nacional, a transposição virou compromisso do governo. O projeto foi elaborado, houve licitação e o tumultuado processo de licenciamento, cercado de oposições.
A obra só começou no segundo mandato de Lula, em junho de 2007, quando Ciro já não era ministro.
Nesta quarta-feira, 10, as águas do São Francisco chegaram ao maior açude do Ceará, o Castanhão.