Operação Carro-Pipa está paralisada no Ceará, afirma Sindicato dos Pipeiros

Suspensão se deveria a falta de verbas. Entidades representativas afirmam que 350 pipeiros foram diretamente prejudicados. Em janeiro, MDR anunciou que R$ 65,9 milhões estavam liberados para pagamentos da operação em todo o semiárido

13:09 | Fev. 25, 2021

Por: Marcela Tosi
A Operação Carro-Pipa é uma ação do Governo Federal (foto: Mateus Dantas 19/07/2018)

A Operação Carro-Pipa, responsável por levar água potável aos municípios e região rural do Semiárido, está paralisada em todo o Ceará há cerca de uma semana. É o que afirma o Sindicato dos Pipeiros do Ceará (Sinpece) e a Associação dos Pipeiros dos Inhamuns. “No 23º Batalhão de Caçadores a operação foi até o dia 19; no 40º Batalhão da Infantaria, suspenderam no dia 16”, afirma Everardo Bezerra, presidente do Sinpece.

A entidade representativa estima que 350 pipeiros foram diretamente impactados pela suspensão das atividades e que cerca de 300 mil famílias cearenses estão sem receber água. “O que vem acontecendo é a falta de pagamento. Temos pipeiros que estão desde novembro sem receber. Vamos aos batalhões perguntar o porquê da suspensão e a resposta é falta de verba”, afirma Bezerra.

No início de janeiro, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) anunciou que R$ 65,9 milhões estavam liberados para pagamentos da operação em todo o Semiárido brasileiro. Do montante liberado, R$ 7,5 milhões seriam para a operação pipa no Ceará, referentes a janeiro. Entretanto, o dinheiro não chegou. "Estamos sem receber desde dezembro e não temos qualquer resposta quanto à falta do pagamento, nem de quando retornaremos às nossas atividades. As famílias do Sertão estão todas precisando de água e não somos autorizados a colocar”, relata um pipeiro que pediu para não ser identificado.

Segundo o Portal da Operação Carro-Pipa, no mês passado 43 municípios cearenses integraram o programa e 285 caminhões foram contratados. Entretanto, a planilha indica que do total, 12 cidades (Alto Santo, Aracati, Barreira, Canindé, Capistrano, Cascavel, Crato, Iracema, Lavras da Mangabeira, Morada Nova, Piquet Carneiro e Potiretama) estavam com o programa temporariamente suspenso. O portal não disponibiliza informações sobre o mês de fevereiro.

“Quem trabalhou em dezembro e janeiro não recebeu”, afirma a presidente da Associação dos Pipeiros dos Inhamuns, Erisleide Rufino. “A Operação Carro-Pipa está morrendo aos poucos”, lamenta. Segundo ela, associações de outros estados do Nordeste também estão relatando paralisação no programa. “Aqui no Ceará está chovendo sim em alguns locais, mas não tem como parar os carros. Tem lugares que a água só chega com os carros-pipa”, enfatiza.

O POVO procurou o Ministério do Desenvolvimento Regional e o Comando Militar do Nordeste, questionando sobre pagamentos aos pipeiros, existência de uma ordem oficial de suspensão da Operação Carro-Pipa e programação de seu funcionamento durante o ano de 2021. Até a publicação desta matéria, nenhum dos órgãos enviou respostas.

Operação Carro-Pipa

 

Coordenado pelo Exército, o Programa Emergencial de Distribuição de Água potável no Semiárido Brasileiro (Operação Carro-Pipa) atende hoje nove estados. A solicitação de atendimento pela Operação é feita pelos municípios - com reconhecimento federal de situação de emergência em decorrência de seca ou estiagem - diretamente à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec). A demanda é encaminhada ao Exército, que faz uma avaliação técnica em conjunto com a prefeitura.

Constatada a necessidade, o município é incluído na operação e passa a receber água por meio dos carros-pipa contratados pelo Governo Federal. O repasse dos recursos necessários é realizado pela Sedec. Já a execução do programa, que inclui contratação, seleção, fiscalização e pagamento dos pipeiros, é de responsabilidade do Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro.

Em 2020, a média mensal contratada foi de 4,2 mil carros para atender 2,3 milhões de pessoas em 630 cidades do semiárido. Em todo o ano, foram desembolsados R$ 483 milhões.

No Ceará, a Operação Caminhão-Pipa é executada pelo 40º Batalhão de Infantaria, em Crateús, e pelo 23º Batalhão de Caçadores (23BC), em Fortaleza.

Outras tecnologias

 

Em 24 de dezembro foi publicada uma portaria que define 939 localidades em 319 municípios de nove estados do País para serem priorizadas nos investimentos voltados a ações estruturantes de segurança hídrica. No Ceará foram definidas 46 localidades onde residem 29.540 pessoas.

Conforme o MDR, “a ideia é prospectar novas tecnologias para lidar com o desafio da entrega de água nessas comunidades atualmente dependentes da Operação Carro-Pipa”. Para a pasta, “o abastecimento por meio de carros-pipa é uma medida paliativa que não consegue garantir a qualidade da água e nem a quantidade ideal para a população”.