"Não poder abraçar é a pior parte", afirma ativista Silvinha Cavalleire sobre prática do isolamento

Ativista política e servidora pública, Silvinha Cavalleire segue mantendo o isolamento social mesmo após um ano do início da pandemia e conta sua vivência em entrevista exclusiva ao O POVO

O uso do isolamento social como forma de enfrentamento da Covid-19 persiste como uma necessidade mesmo após o início da vacinação contra a doença no Ceará. Quase um ano após o primeiro caso no Estado e a recente reabertura econômica, ainda existem personalidades que buscam manter a quarentena, dentro de suas respectivas possibilidades. A exemplo, a servidora pública e ativista política Silvinha Cavalleire, que contou sua vivência em entrevista exclusiva ao O POVO.

Cearense de 28 anos, Silvinha sai de casa apenas para o trabalho, após uma determinação do órgão no qual atua de retomar integralmente às atividades presenciais. “Eu cheguei a me mudar de apartamento para tentar evitar as aglomerações no transporte público”, contou. Ela morava com os pais e decidiu sair de casa para reduzir as chances de os expor ao vírus. “Adotei a bicicleta como transporte para ir e voltar do trabalho, ficando em casa a maior parte do tempo possível”.

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Dividindo o novo apartamento com um colega de trabalho, que também sai de casa apenas em situações de extrema necessidade, Silvinha conta que em momento algum relaxou com as medidas de segurança contra a Covid-19. “Nas poucas vezes que eu saio, tento ficar longe de qualquer aglomeração, longe das pessoas, sempre usando máscara, passando álcool em gel, lavando tudo que trago da rua para casa. Tivemos que nos adaptar”, detalhou parte da rotina.

FORTALEZA, CE, BRASIL. 27.01.2021: Silvia Cavalleire, funcionária pública e ativista LBTQI , ainda mantém o isolamento em razão da pandemia de COVID-19. (Fotos: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)
FORTALEZA, CE, BRASIL. 27.01.2021: Silvia Cavalleire, funcionária pública e ativista LBTQI , ainda mantém o isolamento em razão da pandemia de COVID-19. (Fotos: Deisa Garcêz/Especial para O Povo) (Foto: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)


A funcionária pública pontua ainda que encara o isolamento como uma “responsabilidade coletiva”, sendo a preservação da própria vida e daqueles que a cercam. Silvinha afirmou acreditar que somente por meio da atuação em conjunto, de toda a sociedade, a crise sanitária gerada pela pandemia poderá ser efetivamente combatida.

“Nesse momento se isolar é uma prova de amor para com o próximo”, completou, afirmando surpresa diante dos recorrentes casos de aglomeração que vem sendo registrados em Fortaleza. “Como podem as pessoas não terem consciência, de que neste momento, devemos nos resguardar e não agir como se nada estivesse acontecendo?”, indagou.

As dificuldades de se manter o bem-estar mental em meio ao isolamento

A saudade dos pais e dos amigos pesa na voz de Silvinha quando menciona que não realiza encontros para lazer desde o início da pandemia. “Quando bate aquela saudade, o jeito é fazer uma chamada de vídeo com os amigos e bater um papo, mas é importante a gente evitar juntar as pessoas”, comentou sobre a importância de se interromper os ciclos de transmissão da doença ao se evitar o contato com outras pessoas. 

Ela contou ainda que mantém contato com os pais todos os dias por meio de ligações e chamadas de vídeo, e que a tecnologia tem sido fundamental na manutenção de suas relações e de seu bem-estar. “Eu tive até que fazer um investimento na troca da minha banda larga para dar conta dessa alta demanda desses aplicativos de reuniões, tive ainda que orientar muito meus pais pelo telefone, com muita paciência, até que eles aprenderam e a gente conseguisse interagir, mesmo de longe”, relembrou.

Silvinha busca constantemente adaptar todas suas praticas de antes da pandemia para o novo contexto, tentando seguir sua rotina de atividades de lazer e afetividade, mesmo sem sair de casa. Para ela, a dica é não pensar apenas em parar de sair de casa, parar de ver os amigos, a família e demais ações suspensas devido o isolamento, mas sim em formas de remodelar essas atividades dentro das medidas de segurança.

A ativista frisa ainda a importância da internet como forma de se divertir, mesmo estando isolada em casa. "Quando a gente sente a necessidade de tomar uma cervejinha ou algo assim, é comprar no supermercado e ir tomar em casa, agora é fazer tudo em casa e ainda com muita coisa virtual no meio. Até as paqueras precisaram se reinventar nessa nova forma de interagir", comentou.

FORTALEZA, CE, BRASIL. 27.01.2021: Silvia Cavalleire, funcionária pública e ativista LBTQI , ainda mantém o isolamento em razão da pandemia de COVID-19. (Fotos: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)
FORTALEZA, CE, BRASIL. 27.01.2021: Silvia Cavalleire, funcionária pública e ativista LBTQI , ainda mantém o isolamento em razão da pandemia de COVID-19. (Fotos: Deisa Garcêz/Especial para O Povo) (Foto: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)

A ausência da troca de afetos presenciais e do contato físico entre as pessoas foi a parte mais difícil durante todo o isolamento, especialmente no início, conforme relatou Silvinha. “Por mais que a gente sinta necessidade, a gente sabe que tem que aguentar mais um pouco, para que dê tudo certo”, afirmou. Dentre as coisas que ela mais sente falta, a troca de abraços e de reuniões de grupo de amigos foram as principais mencionadas.

Mesmo o retorno presencial ao trabalho gerou estranhamento para Silvinha, no retorno integral ainda em setembro de 2020. Silvinha, que atua como Coordenadora de Articulação Regional de Políticas para as Mulheres, na Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), relatou ter tido dificuldade para se readaptar após meses em home office.

“Mesmo quando a gente encontra pessoas, por necessidade, precisa ter em mente que estamos num contexto diferente. Foi muito difícil construir novas formas de interação respeitando as medidas de segurança”, detalhou. Ela expressa ainda que por vezes sente o impulso de abraçar pessoas que são queridas, mas que sempre pensa na importância de tais pessoas e que evita o contato, como forma de demonstrar essa consideração.

Ativismo político durante a pandemia

Entre a rotina de trabalho e o isolamento em casa, Silvinha ainda desempenha um importante papel na luta por direitos das mulheres e da população LGBTQIA+. Membra do Conselho Cearense dos Direitos da Mulher (CCDM), do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD), ela também precisou reinventar as práticas políticas e conta que continuar se dedicando ao ativismo foi fundamental para sua saúde mental durante os meses mais severos de isolamento, destacando a importância de se pensar no outro e no coletivo. 

FORTALEZA, CE, BRASIL. 27.01.2021: Silvia Cavalleire, funcionária pública e ativista LBTQI , ainda mantém o isolamento em razão da pandemia de COVID-19. (Fotos: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)
FORTALEZA, CE, BRASIL. 27.01.2021: Silvia Cavalleire, funcionária pública e ativista LBTQI , ainda mantém o isolamento em razão da pandemia de COVID-19. (Fotos: Deisa Garcêz/Especial para O Povo) (Foto: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)


Silvinha se considera bem adaptada às novas rotinas com o distanciamento social, mas expressou preocupação com quem “não compreende a necessidade ou não tem condições de se adaptar”. Ela destaca a população mais economicamente vulnerável, em especial, outras mulheres trans e travestis que não conseguem implementar qualquer medida de isolamento devido à necessidade de subsistência.

Referindo-se como “urgente e inegociável”, a ativista frisou a importância das ações individuais no combate à pandemia, desejando um maior senso de empatia e de coletividade. “A manifestação de cuidado é um ato político em defesa da vida e em respeito às vidas que foram perdidas”, afirmou ao contar que utiliza sua representatividade política para disseminar informações sobre o enfrentamento ao novo coronavírus e formas de prevenção ao contágio pela Covid-19.

Mesmo com a ausência de atos presenciais, as pautas políticas e sociais não perderam o senso de urgência, conforme detalhou Silvinha: “Violações dos direitos humanos, especialmente de mulheres, crianças, idosos e LGBTQIA+, não deixaram de ocorrer por conta desse contexto de pandemia e nós não deixamos de denunciar, de protestar por mudanças”.

Sendo as redes sociais, o principal foco de ação da servidora pública durante o isolamento social para propagar informações e também mobilizar seus seguidores para cobrança das autoridades pela garantia dos direitos humanos. Ela também pontuou a necessidade de uma fiscalização mais efetiva, bem como da manutenção de medidas de isolamento mais restritivas, como forma de pressionar a adesão das ações preventivas contra a Covid-19 por parte da população.

Veja alguns registro da Silvinha Cavalleire

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*Todas as fotos foram tiradas na casa da personagem, com autorização e preparo prévios, respeitando o distanciamento mínimo. A visita da fotógrafa foi uma exceção aberta por Silvinha ao O POVO, tendo esta retirado a máscara apenas para registro das fotos, enquanto a repórter fotográfica permaneceu usando o item de proteção durante toda visita.   

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