Falésias como as de Canoa Quebrada e Morro Branco também têm risco de desabar devido à erosão e ondas
Morte de família por queda de falésia em Pipa (RN) acende alerta para fiscalização e cuidados necessário ao redor desses monumentos muito comuns no estado do Ceará
23:38 | Nov. 17, 2020
A queda de parte de uma falésia na praia de Pipa, no Rio Grande do Norte (RN), que matou três pessoas da mesma família nesta terça-feira, 17, é um processo comum da estrutura geológica e a cada ano tende a aumentar devido à subida do nível do mar e processos de desgaste causados pela visitação. O litoral do Ceará, inclusive, abriga diversas falésias famosas e de grande fluxo de visitantes como o Monumento Natural das Falésias de Beberibe, além de Canoa Quebrada, Icapuí, entre outros.
De acordo com o pesquisador e professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, é preciso estar atento ao quanto essas estruturas estão desgastadas e tomar cuidados quando estiver perto. Os responsáveis, seja Município, Estado ou União, devem mapear os locais onde há mais risco.
"Os órgãos têm equipe técnica que entende essa dinâmica e que pode proporcionar, tranquilamente, planilhas que definam por município e falésias qual o grau de pressão que aquela estrutura está sofrendo. Se ela é atingida constantemente pelo mar, se é frequentada, se só andam pessoas da comunidade", explica.
De acordo com Meireles, as chamadas falésias vivas (que são atingidas pelo mar) são as que justamente oferecem mais risco, por receber energia das ondas, "suficiente para erodir a base da falésia". "Toda a escarpa dela tende a ficar instável porque, além do mais, ela é quebrada e fraturada também, e aí ocorre o desmoronamento, que pode ser por escorregamento ou queda de blocos". O professor, que pesquisa as falésias da Praia de Icapuí há mais de 30 anos, comenta que lá o processo erosivo é bem acelerado, seja pelo mar ou pelas "cicatrizes" deixadas ao longo dos anos. "As praias do Ceará estão passando por processo erosivos contínuos".
Jeovah Meireles cita também a Praia de Morro Branco, em Beberibe. "É um dinâmica natural e também pode estar sendo induzida nessas áreas onde tem muito pisoteio de falésias. Por exemplo, em Morro Branco há muito provavelmente um processos erosivo acelerado", pondera. Por isso, o pesquisador da UFC pontua que é necessário definir as áreas de maior risco e contar com placas e sinalizações do perigo de desabamento.
De acordo com o geógrafo, além de ser um processo muito natural, é esperado que ele aumente ao longo dos anos. "O nível do mar está sempre subindo, mais de três metros por ano, e isso significa dizer que esses deslizamentos serão muito mais recorrentes. por conta de um processo erosivo que estará em constante andamento", explica.
O que é falésia e de quem é a responsabilidade?
Conforme a Secretaria do Meio Ambiente (Sema), que é responsável apenas pelas falésias que ficam em unidades de conservação estaduais, essas rochas são "estruturas geomorfológicas das faixas litorâneas, sujeitas naturalmente à ação erosiva do mar, chuvas e ventos" e por isso são "bastante instáveis". Neste sentido, a Sema é responsável pelo Zoneamento Ecológico Econômico, que estabelece diretrizes de ordenamento e gestão do território.
"A Sema detém a gestão de algumas unidades de conservação que têm falésias em seu território: Monumento Natural das Falésias de Beberibe, Apa da lagoa do Uruaú e Apa das Dunas da Lagoinha", diz a pasta.
Já a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) é responsável por fiscalizar as áreas onde há falésias para que não haja desmonte das formações geológicas, construções irregulares e atividades que são proibidas pela legislação ambiental. "Entretanto, a colaboração da sociedade é imprescindível na gestão desta unidade de conservação, denunciando as agressões ao meio ambiente e adotando atitudes que propiciem o desenvolvimento de uma consciência ecológica na população e nos visitantes", pontua a Semace.
Que cuidados têm que ter ao estar próximo de uma falésia?
- Sempre se informar com as autoridades locais sobre a falésia
- Analisar a variação da tábua das marés para ter noção exata de quanto tempo você tem para ficar diante do monumento
- Analisar a escarpa e a base da falésia: se perceber muitas falhas, fissuras e blocos de rocha no chão, indicando que ali já caiu material, é um local de risco
Fonte: Jeovah Meireles