Temporada de ventos no Ceará favorece práticas de esportes marítimos, mas requer cuidados prévios
Além das medidas de distanciamento social, os praticantes devem estar atentos as condições dos equipamentos as condições meteorológicas antes de praticar a atividades como o kitsurf, eventos favoráveis durante a época
13:59 | Jul. 21, 2020
Até a manhã desta terça-feira, 21, o litoral cearense foi atingido por ventos de até 60 km por hora ocasionados por ventos alísios, segundo o Centro de Hidrografia da Marinha (CHM) da Marinha do Brasil. O fenômeno, comum após a quadra chuvosa do Estado, é favorável para a prática de esportes marítimos como o kitesurf, surf e a vela. Os aventureiros, no entanto, devem tomar cuidados para a atividade não ocasionar acidentes.
O instrutor Thomas Demetrio organiza aulas de surf em uma escola na praia da Leste-Oeste, localizada no bairro Jacarecanga. Ele explica que a temporada traz novas adaptações ao esporte. "A gente costuma marcar aula nos primeiros horários do dia e agenda atendimentos em outras praias favoráveis", diz. Como as rajadas podem variar de acordo com o litoral, Thomas também verifica a meteorologia do tempo na região onde vai praticar, além de limitar o número de alunos devido à pandemia e para oferecer atendimentos personalizados.
A temporada também trouxe mudanças na vida de Roberto Júnior, que há quatro anos vem praticando o kitesurf. Surfista há 20 anos, migrou para o kite devido ao Estado ter seu auge dos ventos durante o segundo semestre. Já chegou a percorrer grandes distâncias em dois dias, da região de Paracuru à Jericoacoara apenas com o equipamento do kite. Segundo ele, por ser um esporte tipicamente individual, a prática não gera aglomerações. "O esporte em si já é individual, não tem como ficar perto de outro praticante devido à distância minima de 20 metros", informa.
O período dos ventos entre junho a dezembro acontece devido a forte influência que o nordeste brasileiro está submetido ao Anticiclone do Atlântico Sul (Asas), área que originam os ventos alísios do sudeste. A partir de junho, os ventos que sopram para o litoral intensificam suas velocidades devido a diferenças das altas pressões do Asas e da baixa pressão da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) nos trópicos. A convergência favorece a circulação de ventos com maior velocidade no litoral do País, como as rajadas registradas na última semana no Ceará.
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A explicação vem da professora do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Elisa Zanella, que explica a importância do período para a região nordeste. "Nós vamos ter uma série de atividades que aproveitam o recurso natural do vento e favorecem o turismo no Ceará. Além disso, nossas águas têm um tempo térmico perfeito e temos um sopro constante do vento", diz.
A pandemia, no entanto, afetou drasticamente a prática dos esportes como atrações turísticas pois nem todas as praias do litoral cearense estão adequadas para os exercícios. Em Fortaleza, o uso de calçadões e praças para a realização de atividades físicas ainda na terceira fase da retomada incentivou novos adeptos as atividades marítimas com as devidas restrições postuladas no último decreto de isolamento social do município. A exemplo, os esportes devem acontecer em ambientes abertos ao ar livre e sem aglomerações.
A ansiedade da primeira experiência, por exemplo, pode trazer consequências a atividade como explica o professor do Instituto de Educação Física e Esportes da UFC, Antônio Lima. "As pessoas não costumam ter um conhecimento do quão forte são os nossos ventos. Já tivemos casos de pessoas que relataram problemas enquanto faziam essas atividades", exemplifica.
Foi o caso de Anderson Onofre, de 33 anos. Em outubro de 2019, o personal trainer praticava kitesurf na Capital quando foi atingido por uma rajada de vento. Segundo relatos encontrados nas redes sociais da vítima, Anderson teria sido arremessado sobre uma pedra e teria sofrido um traumatismo craniano.
As medidas de distanciamento social não ficam de fora das orientações. "Você tem que manter cuidados de distanciamento porque toda a parte da iniciação é feita fora da água e te orientam a como se portar nas situações com as devidas providências", alerta. Os praticantes também devem estar atentos aos equipamentos como as pranchas - devem estar em boas condições, além de serem adequadas de acordo com o peso e altura do esportista.
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Procurar orientações meteorológicas em órgãos oficiais como a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e com moradores da região litorânea também deve ser uma das medidas antes de adentrar no mar. Praticar a atividade em áreas estratégicas com salva-vidas, inclusive, ajudam a evitar possíveis casos de acidentes.
Evitar a praia em dias de chuva é outro fator importante. O fenômeno traz o aumento do nível do mar, o que chama a atenção de vários praticantes do surf. "Temos uma região muito propicia aos raios e já tivemos vários eventos que causaram em danos irreversíveis", reforça Antônio. "Tudo acontece em função da corrente do vento e essas pessoas precisam a noção exata do perigo e não realizar tais atividades sem um conhecimento prévio."