Irmã Clemência é relembrada em novena durante semana de sua morte; saiba mais sobre a Serva de Deus
Se agraciada com a beatificação, Irmã Clemência será a segunda cearense a ter o título. Celebrações visam expandir a história de devoção da Irmã, que atuou majoritariamente na região do Maciço de BaturitéEsta semana completam-se os 54 anos da morte de Irmã Clemência, religiosa nascida em Redenção que pode ser candidata a segunda beatificação cearense. Para relembrar a vivência da Serva de Deus, uma novena virtual está sendo realizada desde o último dia 26 pela Paróquia Nossa Senhora da Palma, em Baturité - cidade a 55 km de Fortaleza e onde a Irmã teve maior devoção devido aos seus atendimentos a enfermos pobres da região.
Nascida Francisca Benícia de Oliveira, as celebrações acontecem com o intuito de agregar mais admiradores e de resgatar as memórias da persona. Os eventos são virtuais e estão sendo transmitidos pela página do Facebook especialmente criada para congregar os devotos. A rede social permitiu a criação, inclusive, de grupos onde os membros relatam seus milagres e responsabilizam Clemência pela graça alcançada.
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Moisés Rocha Farias é estudioso da vida da Irmã e está à frente das festividades da semana. Segundo ele, os relatos vêm de todos os Estados do Brasil. "É impressionante, pois Baturité é uma cidade pequena. Mas recebemos mensagens de tantos lugares que, de um jeito ou de outro, a Irmã Clemência é conhecida", diz.
Ela ficou conhecida pelos atendimentos de saúde aos moradores da região do Maciço de Baturité. Mesmo sem ter nenhum curso de enfermagem ou de medicina, Benícia aprendeu na lida e oferecia gratuitamente os seus serviços no ambulatório São José, no município. Moisés estima que, diariamente à época, 100 pessoas eram atendidas pela Irmã.
Um dos relatos mais conhecidos dela vem de uma ocorrência policial: tarde da noite na região de Baturité, um homem esfaqueado precisou de socorro médico e foi levado para o chão de uma delegacia local. Sem ambulâncias ou médicos atendendo àquela hora, o delegado lembrou de chamar a freira que cuidava de tuberculosos, queimados e de outros enfermos. Contam os relatos que Clemência chegou ao local e fez uma oração para o homem. Decidiu suturá-lo e fez o procedimento ali mesmo, com o uso de uma linha comum. Apesar das condições, o homem sobreviveu e sarou em poucos dias do incidente.
Essa é apenas uma de várias histórias contadas pelos devotos da região e que vem passando por gerações desde a sua morte, em 1966. Com o intuito de comprovar os eventos, Moisés também tornou-se procurador do processo de beatificação da Irmã, que atualmente é Serva de Deus. A ideia é que os eventos, como a novena, tragam uma identificação com os milagres realizados por ela e, assim, aconteça a sua canonização devido ao reconhecimento de milagres. "É o momento de pedir graças. Uma mulher pobre que nasceu em Redenção, na Glória dos altares, isso é de grande importância social e econômica, mas também para a própria Igreja", conversa.
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Publicado por Serva de Deus Irmã Clemência Oliveira em Quinta-feira, 2 de julho de 2020
Atualmente, o pedido tramita no Vaticano, em Roma, para que a Irmã possa ter o título de Venerável. Seguindo esta designação, a abertura do processo de beatificação deve ser concluída. O posto é o mais próximo da canonização - titulação recentemente dada à Irmã Dulce, a primeira Santa brasileira.
A expectativa do Padre Rafhael Maciel é de que Irmã Clemencia seja tida como Venerável até o fim de 2021. Rafhael é padre da Arquidiocese de Fortaleza e atualmente está morando em Roma, de onde vem acompanhando de perto as reuniões para a titulação. "Enquanto continuamos esse trabalho burocrático, nós continuamos a divulgar a vida da Irmã de modo privado", diz.
A história de Irmã Clemência já foi abordada anteriormente no O POVO, no especial Santificados. O caderno traz a história da religiosa e a importância de sua santificação na região. Especialistas, estudiosos e devotos trazem suas histórias e visões da Irmã e de outros 12 casos de "santificações cearenses".
Serviço
O QUÊ: Novena Virtual para pedir a beatificação da Serva de Deus Irmã Clemência Oliveira
QUANDO: 26 de junho à 4 de julho, às 19 horas; missa de encerramento às 19 horas do dia 5 de julho
ONDE: na página do Facebook Paróquia Nossa Senhora da Palma e na página Serva de Deus Irmã Clemência
Uma vida de devoção aos pobres
"Ela foi considerada como a irmã dos pobres, a Irmã Dulce da região. Minha mãe esteve em seu enterro e desceu gente de todo o Maciço para dar o adeus. Eles choravam e falavam 'morreu a mãe dos pobres'". É com essas palavras que o Padre Rafhael Maciel justifica a importância da história e da devoção de Irmã Clemência na região do Maciço de Baturité. Apesar de nascida em Redenção, foi no Maciço que a religiosa alcançou suas maiores graças - a de ajudar a quem mais precisava.
"Benecinha", como era chamada carinhosamente em casa, tinha 18 anos quando a mãe morreu. Cuidou com seu pai junto dos irmãos em Maranguape, a 24 km de Fortaleza. Em Fortaleza, trabalhou por duas décadas no colégio Imaculada Conceição, antes de ser transferida para Pacoti e Baturité - lá, participou da sociedade Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo e teve grande parte de suas atividades realizadas no Maciço.
Caracterizada por um chapelão branco, a religiosa atendia e cuidava de doentes da região, mesmo sem ter qualquer qualificação comprovada em enfermagem ou medicina. No ambulatório São José tratava dos doentes com materiais recebidos por doações da Capital - Moisés Rocha Farias conta que, mensalmente, a Irmã fazia o percurso para arrecadar remédios e esmola sempre com o intuito de ajudar. "Ela era conhecida como a 'Irmã pidona' e mensalmente fazia isso devido à época em que Baturité não tinha médico. Ela foi pioneira", conta.
Anos após sua morte, em 1966, os feitos continuaram reverberando entre as gerações da cidade até chegar no dom Aloísio Lorscheider. Em 1994, o sacerdote abriu o processo diocesano da Irmã, concluído em 2010 por dom José Antônio Tosi que a reconheceu como Serva de Deus. Com o rol do processo romano, 14 virtudes heroicas precisam ser atestadas para confirmá-la como Venerável.
"Em um período de pandemia, no qual precisamos de um caminho de esperança, podemos recorrer com ela. É um modelo a ser seguido, uma intercessora junto de Deus", celebra o Padre Rafhael Maciel. As lembranças continuam e acalentam em tempos difíceis. "Muitos dos que conheceram a irmã já morreram, mas o povo local ainda guarda a memória da irmã como alguém importante para eles e que teve uma relevância muito alta na região", diz.
Se agraciada com a beatificação, Irmã Clemência será a segunda cearense a ter o título. A primeira foi a Menina Benigna teve a celebração confirmada em janeiro deste ano. Com apenas 13 anos, Benigna Cardoso da Silva foi assassinada na tarde do dia 24 de outubro de 1941. A órfã seguia sua rotina de pegar água em uma cacimba quando foi atingida com golpes de faca após recusar investidas amorosas de Raul Alves, jovem de 13 anos de idade. O corpo foi encontrado no mesmo local do crime, no Sítio Oiti, por sua família.
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A jovem passou a ser vista como santa por todos da região, sendo uma inspiração para promessas e graças de religiosos. Moisés explica que o processo de beatificação de Benigna foi mais rápido. "A diferença é que a Menina foi martirizada e o processo é mais rápido e célere. Quando não é via martírio, ele demora." Ambos os casos foram relatados no O POVO com o especial Santificados, que traz 13 casos cearenses de devoções populares do Estado.
Com informações do repórter Cláudio Ribeiro
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