Ex-catador de latinhas cria computador de bolso com R$ 22 para ajudar jovens de baixa renda
Para montar o computador de bolso, Ciswal Santos utiliza um processador HD e um cartão SD, que roda as aplicações por meio de um emulador android inserido nele.Nascido em Pernambuco e radicado em Juazeiro do Norte, no Ceará, o professor e ex-catador de latinhas Ciswal Santos, de 33 anos, desenvolveu um computador com apenas R$ 22. O aparelho possui cerca de 3 centímetros e cabe, literalmente, dentro do bolso. Segundo o desenvolvedor, a ideia surgiu com o intuito de criar dispositivo que fizesse a leitura de um sistema operacional executável para ajudar jovens de baixa renda a estudar, principalmente durante a pandemia do novo coronavírus.
“A minha ideia surgiu pela realidade que eu tenho e já tive. Hoje eu sou professor e sei que alguns alunos têm dificuldade de acessar a internet. Ele pode usar o celular, mas existem atividades que você só consegue fazer em um computador”, diz.
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Para montar o computador de bolso, ele utiliza um processador HD e um cartão SD — que roda as aplicações por meio de um emulador Android inserido nele. Ele pode ser conectado a uma tela e um teclado e assim funcionar como um computador, usando o sistema operacional do Windows. “Algumas coisas eu já tinha, como cabo e algumas portas USB”, diz, sobre o processo de montagem.
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Segundo Ciswal, existem diversos protótipos semelhantes ao dele. Entretanto, a intenção é que futuramente ele crie um sistema próprio, já que hoje o projeto se utiliza de um Windows antigo e bem básico. Apesar de o sistema ter acesso à internet e disponibilizar ferramentas como Word, a intenção é evoluir as funcionalidades com um sistema de sua autoria.
Devido ao fato de atuar sozinho no projeto e ao mesmo tempo dar aula, cuidar dos filhos e administrar um trabalho com famílias carentes, Ciswal ainda não conseguiu colocar para frente o próprio sistema. Entretanto, estima concluir a ideia em até seis meses. “Nada que bata com os grandes sistemas operacionais, mas vai ser algo educativo, institucional e lúdico. Algo que tanto uma criança de 5 anos consiga usar como um velhinho”, diz.
Estudante da universidade de Harvard, em Massachusetts (EUA) — uma das mais importantes do mundo —, ele já possui outro projeto voltado para a geração de energia sustentável e uso de sistema captação de água de baixo custo, aceito em 2018 pela instituição. Ciswal estuda à distância, mas viaja cerca de três vezes por ano para os Estados Unidos, onde fica o mês inteiro estudando. “A universidade apoia muito. É algo que deveria ser feito no Brasil”, diz.
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O projeto de energia sustentável já chegou a ser colocado em prática em Moçambique, como na aldeia de Muzumuia, no distrito de Chókwe. Lá, foi aplicado em uma escola com três salas. “A gente tá com um projeto agora de ir pro Quênia”, conta.
História de Ciswal Santos
Antes do computador de bolso e antes de Harvard, Ciswal catava latinha para comprar materiais escolares, como apostilas e canetas. Apesar de também trabalhar em um mercantil, ele ganhava apenas R$ 20 por semana, o que era destinado para despesas com comida em casa. “Minha mãe era faxineira. Recebia R$ 15 por faxina. Faltava comida, a luz foi cortada 18 vezes”, diz.
A história de Ciswal se cruza com a dos jovens que ele pretende ajudar. Quando criança, aos 8 anos, ele quase iniciou um curso de computação, mas, devido ao alto custo, o pai não conseguiu pagar as aulas. “Meu pai sempre me incentivou. Quando ele me levou na suposta escola, o preço era muito alto. Eu lembro da palavra que meu pai disse: ‘Ciswal, hoje simplesmente não dá porque o preço é o de uma feira. Ou a gente paga esse curso ou faz uma feira’”, lembra.
O professor recorda que teve de fazer um curso de datilografia ao invés do de computação. “Eu fiquei imaginando se tivesse aparecido alguém com essa ideia. Se eu tivesse um Ciswal que colocasse essa ideia pra frente, talvez eu pudesse fazer um curso de computação”, diz.
Ciswal não pretende ganhar dinheiro com o sistema criado, mas conseguir uma parceria que distribua em grande escala a custo zero para as pessoas terem acesso. Seria uma forma de tornar acessível e popular, de uma forma que “qualquer pessoa tenha”, uma vez que as camadas sociais mais desfavorecidas sofrem com a falta de democratização do acesso às tecnologias. "Essa realidade não é só aqui no Nordeste, mas no Brasil", finaliza.