Mansão na Aldeota com jardins de Burle Marx é tombada provisoriamente após demolição inciada
Ofício foi solicitado desde março pela sede cearense do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB)
19:41 | Jun. 02, 2020
O processo de tombamento do prédio que foi a Mansão Macedo, construída em 1969, foi iniciado em nível estadual na noite desta terça-feira, 2. A decisão ocorreu horas após a destruição de uma parte da estrutura na tarde de hoje. Um pedido de tombamento foi solicitado pela sede cearense do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) em março deste ano. A decisão foi aprovada em reunião extraordinária pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado do Ceará (Coepa) da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult). Com isto, estão suspensas quaisquer intervenções no imóvel.
Localizada no limite dos bairros Aldeota e Meireles, a edificação traz a assinatura dos arquitetos Acácio Gil Borsoi e Janete Costa. O jardim foi projetado pelo artista plástico carioca Burle Marx, autor de outras obras da Cidade, como o jardim do Theatro José de Alencar, e é considerado um marco nos estudos paisagísticos, com mais de três mil projetos assinados pelo mundo.
O peso histórico ressalta a importância da obra e reforça a necessidade do tombamento. "Os dois edifícios e o jardim, além de se constituírem em pontos destacados nos acervos de obras dos arquitetos, conformam um dos mais importantes conjuntos de arquitetura modernista de expressão brutalista do Ceará, do Nordeste e do Brasil, detendo valores históricos, artísticos e simbólicos tais que o promovem à condição de inequívoco patrimônio cultural edificado", informou o Instituto em protocolo destinado à Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). "Não sendo protegido em nível cultural em qualquer âmbito (federal, estadual e/ou municipal) e tendo sido recentemente anunciada a sua venda pelo proprietário original, teme-se pela integridade e a demolição do conjunto".
O presidente do IAB, Jefferson John informou que logo solicitou os pedidos, após acompanhar o prédio tornando-se um negócio imobiliário. "São obras de um valor arquitetônico, cultural e de engenharia imensuráveis." O processo de mobilização estadual corria em duas inscrições: Tombo Artístico – destinado ao tombo das coisas de interesse das artes eruditas e folclóricas; e Tombo Paisagístico – destinado ao tombo dos monumentos naturais, paisagens e locais existentes no Estado, de singular beleza ou de interesse turístico. "É através das construções que percebemos a evolução da comunidade ao longo do tempo. Não é destruindo que vamos recomeçar uma nova história", diz o presidente.
Em nota enviada ao O POVO, a Secult informou que recebeu do IAB um ofício de abertura de tombamento estadual da edificação e, hoje, 2, um documento do Ministério Público do Ceará solicitando o tombamento provisório do conjunto arquitetônico. Durante a reunião, foi aprovado no nível estadual a conservação. Isso significa que, enquanto circula um estudo para analisar se de fato a obra deve ser tombada ou não, ela continua dentro do protocolo e não pode sofrer alterações futuras.
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A Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) também recebeu, no dia 4 de março de 2020, a solicitação de abertura de processo de tombamento da antiga sede administrativa do Grupo J. Macedo por parte da IAB. O processo ainda estava dentro do prazo legal de avaliação. A pasta, no entanto, não foi comunicada sobre qualquer pretensão de intervenção na edificação. Após denúncia recebida nesta terça-feira, a secretaria encaminhou um ofício, na mesma data, para a Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis), órgão responsável pela fiscalização do Patrimônio Histórico-Cultural de Fortaleza, para que fossem tomadas as devidas averiguações e providências. Agentes do órgão estiveram no local e constataram irregularidades na obra e embargaram a demolição pela tarde. Logo após, a Secult reuniu o conselho e aprovou o tombamento temporário do prédio.
O arquiteto e urbanista da Universidade Federal do Ceará (UFC), Romeu Duarte, avalia o processo de tombamento como necessário e contorna a ideia de não serem realizadas reformas na sede. Mesmo que seja tombado, não significa que o prédio não possa sofrer intervenção, ele defende. "Mas tem que se respeitar a chamada pré-existência. A visão de que o novo pode conviver com o antigo é perfeitamente possível", diz.
Por meio da assessoria de comunicação, a Simpex Dasart, que pertence aos novos proprietários do imóvel, informou que não é responsável pela obra realizada na tarde da terça-feira, 2, e que não tem gerência sobre os assuntos particulares dos sócios.