Açudes têm melhores aportes no primeiro trimestre de 2020, mas recuperação ainda é lenta

Algumas bacias hidrográficas, como a do Banabuiú, no Sertão Central, ainda se encontram com volume muito baixo, em torno de 10% de acumulação

Com chuvas bem distribuídas em todas as macrorregiões do Ceará desde janeiro, a recarga dos reservatórios cearenses foram mais positivas no primeiro semestre de 2020. Atualmente, o acúmulo total dos açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) registra 27.02%, valor acima dos 14% registrados no mesmo período no ano passado. A Cogerh, no entanto, destaca que a recuperação dos reservatórios é lenta e o cenário hídrico ainda inspira cuidados. Até esta quarta-feira, 60 açudes ainda estão com volume menor que 30%. Outros 33 estão sangrando e seis registram nível superior a 90%.

A irregularidade das chuvas é uma das características mais notáveis do semiárido cearense. Conforme explica o diretor de Operações da Cogerh, Bruno Rebouças, este ano elas estão mais bem distribuídas, contribuindo para o aporte em alguns açudes do Estado. Mas algumas bacias hidrográficas, como a do Banabuiú, no Sertão Central, ainda se encontram com volume muito baixo, em torno de 10%.

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“Temos esperança de que em abril haja permanência das chuvas para que possamos ficar numa situação mais tranquila”, explicou Bruno. A bacia do Médio Jaguaribe, onde está o Castanhão, é outro exemplo de reservação hídrica baixa, embora siga recebendo água. Dos três maiores açudes do Estado, conforme dados da Cogerh, o nível do Castanhão está em torno dos 10% e o Orós acumula 16.6%. O salto foi mais tímido para o Banabuiú, que cresceu pouco e está com 7.4% do volume total acumulado.

De acordo com a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), a recarga dos reservatórios cearenses está acontecendo de forma positiva no sul do Estado, mais precisamente na Bacia do Salgado. Os resultados no primeiro trimestre também foram otimistas na região do Cariri, Alto Jaguaribe, Sertão dos Inhamuns, e ainda na região Oeste do Estado, Sertões de Crateús, Bacia do Coreaú, Serra da Ibiapaba e Acaraú.

As recargas, no entanto, não foram representativas na bacia do Curú, Coreaú, Baixo Jaguaribe, e na Região Metropolitana de Fortaleza, segundo ressalta o secretário da SRH, Francisco Teixeira. “Mas como as chuvas estão com uma melhor distribuição no território cearense e hoje já temos ultrapassado os 26% de reservas hídricas em nossos reservatórios, sendo no primeiro trimestre um maior aporte, vamos aguardar os meses de abril e maio para novas definições”, destaca.

O secretário Teixeira torce por mais chuvas no Sul do Estado, para que seja garantido mais aporte para os reservatórios Castanhão e Orós. Apesar de 2020 ter apresentado recargas expressivas, com referência nos meses de fevereiro e março, a situação dos reservatórios ainda é crítica, afirma o secretário. “Vamos torcer para que haja uma boa recarga hídrica nos nossos reservatórios, assim como foi apresentado no primeiro trimestre de 2020. Segundo a Funceme, nós ainda teremos boas chuvas, acima da média no mês de abril, o que nos faz torcer por bons aportes”, conclui.

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) indica em prognóstico que até maio há chances iguais, de 40%, para as chuvas ficarem dentro ou acima da média. Desde janeiro, o Estado tem registrado acumulados superiores à normal climatológica.

Teixeira explica que, pelo que foi observado nos últimos anos, deve haver uma redução da intensidade das chuvas no mês de maio, mas que se as chuvas de abril se concentrarem em todo o território deve existir uma boa recarga nos açudes. Conforme os modelos de previsão climática, há ainda uma diferença espacial Norte-Sul, de modo que na região Sul do Estado a categoria mais provável é em torno da média.

Ações Estruturantes

Conforme a Secretaria de Recursos Hídricos, mesmo no período chuvoso, o Governo do Ceará mantém suas ações estruturantes para aumentar a resiliência às secas. “Se em 2020 nós temos chuvas pouco mais abundantes, no futuro podemos voltar a ter períodos mais longos de chuvas escassas, então não podemos parar com as obras”, destaca o secretário Francisco Teixeira.

Segundo ele, ações como perfuração de poços permitem que se tenha uma rede para o abastecimento da população rural e urbana, mesmo sendo complementar. Outra ação que deve permanecer é a instalação de dessalinizadores e chafarizes para atendimento da população rural com água de qualidade. As ações estruturantes têm como objetivo aumentar a garantia de água da população, seja para atividades produtivas ou abastecimento humano, mesmo naqueles anos de secas prolongadas.

Cinturão das Águas e São Francisco

Devido às intensas chuvas no Sul do Estado, principalmente na região do Cariri, as obras do Cinturão das Águas (CAC) tiveram sua velocidade prejudicada. Ainda em 2019, o atraso de repasses federais já havia comprometido o andamento das obras, que foram normalizadas pelo Ministério do Desenvolvimento Regional apenas no fim do ano, segundo esclarece Teixeira. “Hoje nós temos dinheiro em caixa para a continuidade da ilha, com a finalização do trecho emergencial e a preparação para o reinício das obras dos lotes 3 e 4, que são os últimos que faltam para a conclusão”, afirma.

Sobre o Projeto de Integração do São Francisco, o secretário Teixeira informa que as notícias obtidas são que as obras sofreram algum prejuízo de velocidade devido às chuvas que caíram no Sertão pernambucano e no Sul do Ceará. “Mesmo com as obras em velocidade mais lenta, devido aos últimos fatores, acreditamos que no decorrer do ano de 2020 as águas estejam chegando em território cearense”, finaliza o secretário.

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