Quem são os intermediadores da paralisação dos militares no Ceará

Parte dos intermediadores foram demitidos da PMCE e readmitidos em 2015. Associação das Esposas também segue presente no intermédio entre policiais e o Governo

11:59 | Fev. 22, 2020

Por: Jéssika Sisnando

Há cinco anos, no dia 13 de outubro de 2015, a publicação do Diário Oficial do Estado (DOE) anulava a demissão dos respectivos militares Ana Paula Brandão, Rômulo Eustáquio Araújo de Aguiar, Francisco David Silva Barbosa, Noélio da Rocha Oliveira, Rafael Lima da Silva, Victor Silva Torres, Flávio Alves Sabino e Pedro Queiroz da Silva. Noélio e Sabino são, hoje, os intermediários da paralisação dos policiais militares. 

Na época, Noélio, que atualmente é deputado estadual, era soldado e Flávio Alves Sabino, que foi eleito deputado federal, era cabo. Ambos foram demitidos com os outros militares referidos por terem participado de uma reunião, em janeiro de 2013, ano da paralisação da Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE).

Na ocasião, o governador era Cid Ferreira Gomes e houve alegação que o encontro teria o objetivo de discutir a deliberação de uma nova paralisação dos militares. O grupo negou e afirmou que a reunião seria para prestar contas com a categoria sobre os acordos já realizados. No entanto, no mês de maio, a demissão deles foi oficializada. Dois anos depois, por meio da secretária da Controladoria Geral de Disciplina (CGD), Socorro França, os militares tiveram as respectivas demissões anuladas.

Na época, quem também protagonizou ações referentes à paralisação, foi a presidente da Associação das Esposas dos Militares, Nina Carvalho. As esposas, em diversas vezes, se colocaram na frente de batalhões para impedir a saída dos policiais. isso porque, conforme a lei, os agentes não podem se recusar a cumprir missões ou entrar em paralisações, por ser caracterizado crime militar.

No dia 12 de maio de 2013, aproximadamente 50 mulheres se colocaram na frente do batalhão de eventos, na época localizado na BR-116. Elas impediram, por duas horas, que os policiais saíssem para o patrulhamento de um Clássico-Rei, que acontecia no Estádio Presidente Vargas.

Nesse dia, o governador Cid Gomes discutiu com o vereador Capitão Wagner, que participou do movimento grevista de 2012. Em reportagem publicada pelo O POVO no dia 5 de janeiro de 2012, o perfil do Capitão Wagner foi traçado como um líder por acaso, que foi forjado na falta de diálogo dos integrantes da corporação.

Na época, Wagner confidenciou, no terceiro dia de ocupação do quartel da 6ª Companhia do 5º Batalhão da PM, que a liderança caiu no colo por acaso. Wagner havia, somente no ano de 2011, sido transferido para Russas, Quixeramobim e Senador Pompeu. Os problemas começaram quando ele enviou um documento com 20 considerações sobre problemas da Corporação, entre eles, o salário baixo, a falta de diálogo e a insatisfação de oficiais subalternos. Wagner, que diante da situação elegeu-se vereador e deputado estadual é, atualmente, deputado federal e pré-candidato a prefeito de Fortaleza. Ele também segue como intermediador da paralisação atual.

Assim como todos os intermediadores, o P. Queiroz, que também fez parte das negociações em 2015, na época como diretor da Associação dos Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Ceará (Aspramece), também esteve presente nas negociações de 2020. No novo contexto, em 2020, também estão o sargento do Corpo de Bombeiros, cabo Reginauro, que pediu exoneração da Associação dos Profissionais da Segurança. 


2020

Neste contexto, em fevereiro de 2020, mesmo com a presença de todas as associações, a tabela salarial não foi foi aceita pela categoria e resultou no fechamento do 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM), no bairro Antônio Bezerra. Nos mesmos moldes do passado, Nina reuniu as esposas e elas fecharam a unidade militar, na terça-feira, 18, após a proposta do Governo ter sido encaminhada e aceita na Assembleia Legislativa (ALCE). Em seguida, os policiais começaram a chegar para aderir à paralisação. Nessa situação, 22 policiais foram conduzidos ao 5º Batalhão da Polícia Militar (BPM), três ficaram presos e o restante foi liberado.

Em três dias de paralisação, há mais de 200 processos abertos para investigar os policiais que participam do movimento. O quartel da Caucaia foi fechado, o Batalhão da Polícia Ambiental trocou tiros com os manifestantes, que tentavam tomar a unidade. Aconteceram ações também no Interior, o quartel de Sobral foi fechado e o senador Cid Gomes tentou passar com uma retroescavadeira contra um bloqueio humano, feito pelos policiais. Ele levou dois tiros no peito.

A situação ganhou mais um episódio de tensão e, em quatro dias de paralisação, a Força Nacional está em Fortaleza e o Exército emprega 2,5 mil homens para segurança no Ceará. O Estado tem mais de um homicídio por hora durante a paralisação e, nesta sexta-feira, 21, o evento em que os policiais iriam se apresentar foi cancelado.

Horas depois, o prefeito de Paracuru anunciou o cancelamento do Carnaval, além dele, outros gestores, como os de Canindé e São Luis do Curu também manifestaram o cancelamento dos respectivos eventos carnavalescos. O Diário Oficial da última quinta-feira, 20, também mostrou que cinco policiais foram afastados após manifestação nas redes sociais sobre o reajuste salarial.