Vaticano oficializa beatificação da Menina Benigna no Cariri

Beatificação da Menina Benigna, na diocese de Crato, reforça a necessidade de proteção das crianças contra o abuso sexual e o feminicídio. Ela é a primeira cearense reconhecida como beata pelo Vaticano

Benigna Cardoso Silva é oficialmente a primeira beata cearense reconhecida pelo Vaticano. A menina, assassinada depois de resistir ao abuso sexual, em 1941, aos 13 anos de idade, foi beatificada ontem por dom Leonardo Steiner, 71, arcebispo de Manaus e primeiro cardeal da floresta Amazônica.

A cerimônia histórica, que abre caminho para a canonização de uma santa do Ceará, reuniu pelo menos 20 mil pessoas — segundo previsão da Polícia Militar — na sede da diocese de Crato.

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Devotos, mulheres, crianças e homens, muitos vestidos de chita vermelha e bolinhas brancas, em referência às vestes da garota no dia da morte, lotaram o Parque de Exposição Pedro Felício Cavalcante. Local da solenidade de beatificação autorizada pelo papa Francisco.

Para a Igreja Católica, Benigna é a "Santa da Castidade". Para devotos e peregrinos, a garota foi santificada há 81 anos quando foi martirizada a golpes de facão desferidos por Raul Alves, 17 anos. Para muitas feministas é símbolo da luta contra a violência de gênero e a brutalidade do feminicídio.

Dom Leonardo Steiner reforçou, na homilia, que Benigna representava, antes mesmo de o Vaticano atentar para a santidade da menina, "um ícone de defesa das crianças que não podem ser abusadas nem as mulheres". A "mártir virgem", segundo o arcebispo nomeado pelo papa para presidir a missa, "é uma defensora da dignidade das mulheres".

"As nossas crianças precisam ser cuidadas e amadas. A (beatificação) de Benigna ajuda-nos a superar o horror do abuso sexual e do feminicídio", disse o religioso durante o sermão da missa que contou com 36 bispos, 200 padres, 200 seminaristas e muitas religiosas sentadas entre os devotos na plateia.

Nenhuma irmã de caridade ou freira ocupou o palco transformado em altar da diocese. Só homens, apesar da beatificação ser de uma mulher.

O arcebispo de Manaus, que foi duas vezes secretário secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), usou de metáforas para narrar a vida da menina no semiárido cearense. A "água" como fonte de vida para o nordestino norteou parte do sermão escrito e lido por dom Leonardo Steiner.

Benigna, segundo narrativa do bispo alinhado à ala progressista da Igreja Católica no Brasil, "foi à fonte (ao poço em Inhumas) em busca de água (para matar a sede dela e de outras pessoas).

No lugar (onde foi buscar a) água da vida" se transformou em um "lugar da violência e da morte". Porém, segundo o arcebispo encontrou "as portas para o céu".

Na missa de beatificação, iniciada por volta das 17h30min, estavam presentes a governadora Izolda Cela (sem partido), o governador eleito Elmano de Freitas (PT) e o ex-governador e senador eleito Camilo Santana (PT).

Entre os bispos concelebrantes, estava dom Fernando Panico — bispo emérito de Crato que deu início ao processo de beatificação de Benigna. Ele veio do Vaticano, onde passa por um tratamento de câncer. Também no altar estava dom Antônio Aparecido Tossi, arcebispo de Fortaleza.

A "extraordinária história de Benigna", segundo dom Leonardo Steiner, acabou dando uma força à necessidade do reconhecimento, pelo Vaticano, da santidade dada ao padre Cícero Romão Batista pelo povo.

"Nossa menina abrirá o caminho de padre Cícero. Talvez fosse necessário a inocência precedesse e indicasse a santidade do padre Cícero", afirmou dom Leonardo, o primeiro cardeal da floresta Amazônica.

O processo de beatificação de padre Cícero Romão foi autorizado pelo papa Francisco, em agosto deste ano. A informação foi anunciada pelo bispo da diocese do Crato, Dom Magnus Henrique Lopes, durante uma missa realizada no Largo Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará. Hoje, dom Leonardo Steiner celebrará uma missa no túmulo do padre caririense.

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